Sáb, 06 de Dezembro

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Pedido de vista mantém inquérito contra Google no Cade por uso de notícias em busca

Relator cita uso de IA

Sede do Conselho Administrativo de Defesa EconômicaSede do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - Foto: Divulgação/Cade

A análise do inquérito administrativo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica ( Cade) que investiga o Google por práticas economicamente abusivas no mercado digital vai seguir após pedido de vista na sessão desta quarta-feira.

O caso trata da exibição de conteúdo jornalístico nas plataformas da empresa sem a remuneração dos veículos que o produziu, além do desvio de tráfego direto para esses veículos, limitando ainda a distribuição de receitas com publicidade digital.

Na sessão desta terça, o relator do inquérito, conselheiro Gustavo Augusto, votou pelo arquivamento da investigação, sob o argumento de que a conduta do Google gera receitas para os veículos de mídia. No entanto, o conselheiro considerou que a investigação do órgão responsável pela regulação da concorrência no país não apurou o uso de inteligência artificial no serviço de indexação de notícias.

Após o voto, o conselheiro Diogo Thomson solicitou vista. Dessa forma, a investigação segue no Cade e o caso será retomado em outra sessão com os votos dos demais membros do colegiado.

Apuração desde 2018
A apuração teve início em 2018, por iniciativa do próprio Cade. No fim do ano passado, o inquérito acabou arquivado pela superintendência-geral do órgão. Em março, contudo, a conselheira Camila Cabral Pires Alves recomendou que o processo fosse retomado.

Ela sustentou tratar-se de um caso complexo, incluindo três teses de dano em análise. Uma delas é de tratar-se de uma inovação predatória à concorrência, a segunda é que o Google atuaria dando prioridade a seus próprios serviços nos resultados de busca (o que é conhecido como self-preferencing) e, por fim, a retenção de tráfego para aferir ganhos com publicidade

Entidades como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF), entre outras, defendem que o inquérito seja convertido em processo administrativo, o que permitiria não apenas apurar efeitos das práticas do Google, mas também aplicar eventuais remédios desenhados de forma a garantir condições justas de concorrência no mercado digital.

Falta de remuneração
As entidades sustentam que o Google prejudica os veículos jornalísticos ao adotar a prática de scraping, ou raspagem. Trata-se de exibir trechos de notícias produzidas por essas empresas no Google Search e no Google News, sem remunerá-las por isso.

A ANJ, que reúne uma centena de representantes do setor jornalístico nacional, e a Fenaj, em conjunto com RSF, enviaram manifestações ao Cade requerendo o aprofundamento das investigações e a abertura de um processo administrativo.

— O Cade sempre esteve na vanguarda das discussões antitruste no mundo. Não faria sentido o Cade, quando muitos países avançam nesta discussão de abuso de poder econômico das plataformas (digitais), ignorar o tema neste momento — diz Marcelo Rech, presidente executivo da ANJ.

O entendimento é que as profundas transformações pelas quais passou o setor de jornalismo nos últimos anos, a reboque da digitalização, evidenciam o efeito negativo das práticas adotadas pelo Google para os veículos de comunicação. E que o advento das ferramentas de inteligência artificial generativa desenvolvidas por big techs exigirá ainda mais monitoramento da concorrência no mercado digital.

No documento enviado ao Cade, a ANJ afirma que, no cenário atual, “os veículos de mídia não possuem qualquer poder de escolha — ou estão no Google, ou simbolicamente encontram-se alienados do ambiente de acesso ao seu conteúdo, já que estar fora do ambiente do Google é limitar drasticamente as interações com os consumidores” finais do mercado jornalístico.

Debate global
Esse debate se estende globalmente, tendo o Google como alvo de investigações antitruste ao redor do mundo. Regras específicas para regular o mercado digital foram adotadas em países como Canadá, Reino Unido e Austrália. E há propostas na mesma direção sendo discutidas nos Estados Unidos e na Nova Zelândia.

Na Alemanha, após processo sobre possíveis práticas anticompetitivas no Google News Showcase, no fim de 2023, a empresa fechou acordo para pagar anualmente mais de € 3 milhões a editores de notícias.

Antes disso, na França, em 2020, a big tech teve de negociar condições para remunerar de forma mais justa a utilização de conteúdos de terceiros e o prejuízo causado a eles. A medida foi implementada apenas em 2022, após imposição de multa de € 500 milhões ao Google.

Nos EUA, o Departamento de Justiça venceu, em abril, ação movida contra o Google por práticas anticompetitivas configurando monopólio e abuso de poder dominante no mercado de anúncios on-line.

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