Petrobras abre seleção para construção de nova plataforma driblando concorrência até de data centers
P-91 será a 12a e última unidade a produzir no Campo de Búzios, que caminha para ser o maior da petroleira estatal
Petrobras lançou nesta sexta-feira o processo de contratação da P-91, 12a e última plataforma flutuante (FPSO, na sigla em inglês) a ser instalada no Campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos.
A diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação da estatal, Renata Baruzzi, evitou estimar o valor do investimento na nova unidade, mas citou "flexibilizações" e simplificações para reduzir o aporte em um cenário de custos elevados e de alta concorrência até mesmo da indústria de data centers.
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— Uma dificuldade que estamos começando a perceber, na semana passada conversei com algumas empresas, é a questão dos turbos-geradores (equipamentos que geram eletricidade). Eles (os fornecedores) falaram assim: "olha, veio um data center e me encomendou 15 turbinas, aí você vem, da Petrobras, e encomenda uma. Para quem que eu vou dar prioridade?" — contou Renata, ao apresentar a licitação da P-91 a jornalistas.
Plataformas flutuantes, construídas no casco de grandes navios, podem custar alguns bilhões de dólares, dependendo do tamanho e da complexidade tecnológica. O FPSO Almirante Tamandaré, maior plataforma do país, também instalado em Búzios, custou R$ 45 bilhões, ou pouco mais de US$ 8 bilhões pelo câmbio de hoje, segundo uma nota do fim do ano passado do governo federal.
Questionada sobre o valor do investimento, Renata respondeu, em tom de brincadeira:
— Isso não vou dizer, se não os licitantes vão ancorar os preços deles no valor que eu falar. É US$ 1 bilhão, pronto. Quero ver quem vai fazer a US$ 1 bilhão.
Com a P-91, a Petrobras segue o trabalho para levar o Campo de Búzios ao posto de maior produtor do país. Renata estimou que o pico de produção, de 1,8 milhões de barris por dia, será atingido em 2033.
Hub de distribuição de gás
A P-91 terá capacidade para produzir 180 mil barris de petróleo por dia (bpd), com a particularidade de que será um hub de distribuição de gás.
A capacidade de produção de gás natural da FPSO, também chamada de Búzios 12 pela Petrobras, será de 12 milhões de m³/dia, dos quais 5,5 milhões de m³/dia poderão ser enviados ao continente pelo gasoduto Rota 3, em operação desde o ano passado.
Além de menor em capacidade de produção do que o gigante Almirante Tamandaré, a P-91 será menor em termos de funcionários embarcados — 180, ante os 240 das unidades mais recentes encomendadas pela Petrobras — e trará tecnologias para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Segundo Renata, o projeto foi simplificado após ter o escopo técnico apresentado a fornecedores, a partir de maio.
Segundo a Petrobras, a P-91 será contrata no "modelo BOT", sigla em inglês para "constrói-opera-transfere", ou seja, a licitação escolherá um fornecedor "responsável pelo projeto, construção, montagem e operação do ativo por um período inicial definido em contrato", e, posteriormente, a "operação será transferida para a Petrobras", segundo comunicado divulgado pela estatal.
Conteúdo local por conta do operador
A plataforma poderá ser construída no Brasil ou no exterior. O contrato preverá que a unidade tenha 25% de conteúdo local, mas Renata explicou que o operador escolhido terá a flexibilidade para alocar essa fatia como achar melhor, seja na compra de equipamentos — como os turbo-geradores, fabricados, por exemplo, pela brasileira WEG — seja na preparação do casco do navio, que pode ser feita em estaleiros no Brasil ou no exterior.
— Quando as empresas forem apresentar as suas propostas, também apresentarão o plano de execução. Fica por conta das empresas escolherem o que vão fazer no Brasil, se vai fazer integração, se vai fazer só módulo, se vai comprar equipamentos. É muito comum comprar muito equipamento da WEG, por exemplo. Todas as plataformas do mundo têm equipamentos da WEG. É um orgulho para o Brasil.
A P-78, que chegou na terça-feira ao Campo de Búzios, foi construída em estaleiros nas cidades Yantai e Hayang, na China, e em Ulsan, na Coreia do Sul. Depois, foi finalizada em estaleiro em Singapura, onde foram instalados componentes construídos no Brasil — no Estaleiro Seatrium Angra dos Reis, antigo Brasfels, segundo comunicado da Petrobras —, na China e em Singapura.
Após o lançamento nesta sexta-feira, as empresas interessadas em participar do processo de contratação da P-91 terão um prazo de 180 dias para entregarem suas propostas. A P-78, que está para começar a operar, será a sétima plataforma do Campo de Búzios. Antes da P-91, outros quatro FPSOs, já encomendados, serão entregues.
Segundo Renata, a nova plataforma não estará nem no Plano de Negócios 2026-2030, que será lançado até o fim do ano pela estatal. Isso significa, segundo a executiva, que a P-91 será entregue após 2030, mas ela evitou precisar uma data.
A Petrobras opera a produção do Campo de Búzios em consórcio com participação minoritária das petroleiras chinesas CNPC e CNOOC.

