Setores taxados em 50% temem colapso e pedem apoio financeiro
Abipesca fala em efeitos em cascata sobre emprego, renda e estabilidade de regiões inteiras
A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) vê com grande preocupação a confirmação sobre a imposição de tarifas de 50% dos EUA, anunciada em comunicado da Casa Branca nesta quarta-feira.
"Apesar dos esforços de diálogo com o Governo Federal e representantes do Legislativo, visando demonstrar a relevância estratégica do mercado norte-americano — destino de cerca de 70% das exportações brasileiras de pescados —, o setor ficou de fora da lista de exceções, o que causará um grande impacto comercial."
Segundo a Abipesca, não há alternativas viáveis de mercado. "O Brasil abriga uma cadeia produtiva de pescados altamente dependente das exportações para os Estados Unidos." A associação cita o Ceará, onde empresas têm sua operação diretamente atrelada a esse fluxo.
"A interrupção dessas exportações poderá desencadear uma onda de pedidos de recuperação judicial, uma vez que as empresas não terão capacidade de honrar seus compromissos financeiros. O impacto será severo e imediato, com repercussões sociais e econômicas profundas, especialmente em regiões onde a atividade pesqueira é a principal fonte de emprego e renda", destaca a nota, lembrando que mais de um milhão de pescadores profissionais serão diretamente afetados.
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A Abipesca lembra que é necessário que o governo inclua o setor de pescados nas medidas emergenciais de mitigação. "Isso inclui a criação de mecanismos de apoio financeiro imediato, como linhas de crédito especiais e auxílio emergencial às empresas exportadoras. Ignorar essa realidade é permitir o colapso de uma das mais importantes cadeias produtivas do agronegócio nacional, com efeitos em cascata sobre o emprego, a renda e a estabilidade de regiões inteiras", afirmou.
Empresas dependem dos EUA, diz Abiplast
A tarifa de 50% imposta pelos EUA deve afetar o setor de forma significativa, com impacto "profundo e duradouro", segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Nos cálculos de José Ricardo Roriz, presidente do conselho da entidade, o tarifaço pode comprometer até 20% das exportações brasileiras ligadas direta ou indiretamente ao setor, representando perdas de até US$ 2 bilhões.
"O plástico está presente em 95% do PIB. Onde há produção, há plástico, seja como produto final ou como componente essencial de produtos exportados. Vamos sofrer com a queda direta nas exportações e também com o deslocamento de empresas que podem deixar o Brasil para operar em mercados com acesso livre aos Estados Unidos", afirmou Roriz, em nota.
Ele ainda destaca que empresas brasileiras dependem de investimentos e tecnologias desenvolvidas nos Estados Unidos: “Vivemos um momento em que a indústria precisa investir em modernização, inteligência artificial e inovação. Os Estados Unidos são líderes nesse processo. Ao bloquear o acesso comercial ao mercado americano, também dificultam a renovação tecnológica das empresas brasileiras”.
No comunicado, o presidente da Abiplast também critica o governo e fala em "diplomacia inoperante". “Nossa diplomacia foi inoperante, e os dois extremos da política nacional contribuíram para o agravamento do cenário. Tínhamos uma tarifa confortável de 10%, a mais baixa entre os países, e deixamos essa vantagem se perder por falta de ação e articulação. Agora, quem paga a conta é a sociedade, com impactos em empregos, investimentos e no ambiente de negócios”.
Calçados: risco a 8 mil empregos
O setor calçadista, que tem nos EUA seu principal parceiro comercial, também fala em "danos irreversíveis". Em comunicado, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) lamentou a manutenção das tarifas, "apesar de todos os esforços, de empresários e do corpo diplomático brasileiro", e estimou que, com a medida, as exportações para o país sejam inviabilizadas. Haroldo Ferreira, presidente-executivo da entidade, acredita num impacto imediato em 8 mil empregos no setor.
“Temos empresas cuja produção é integralmente enviada ao mercado externo, a maior parte para os Estados Unidos. Essas empresas terão produtos muito mais caros do que os importados da China, por exemplo, que pagam uma sobretaxa de 30%. Estamos falando, neste primeiro momento, de uma perda estimada em cerca de 8 mil empregos diretos”, concluiu.
Ferreira ainda defendeu que governos estaduais e federal terão um papel fundamental para a preservação das empresas afetadas. Entre as medidas solicitadas, estão linhas para cobrir o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) em dólar com juros do mercado externo, a ampliação do Reintegra para exportadores, a liberação imediata de créditos acumulados do ICMS (Estados) e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), que ofereceu, em 2020, medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública e da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus.

