Tarifaço sobre produtos brasileiros começa nesta quarta e governo se prepara para socorrer empresas
Sobretaxa de 50% deve afetar setores como café, cacau, carne e frutas
A sobretaxa de 50% do governo americano sobre produtos brasileiros entra em vigor nesta quarta-feira, uma semana após o presidente Donald Trump assinar a ordem executiva que estabelece a medida.
Na prática, a ordem executiva assinada por Trump na última quarta implementou uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, somando-se aos 10% anunciados em abril e elevando o total da tarifa para 50%.
O governo americano definiu quase 700 exceções de produtos — entre os 4 mil itens que o Brasil exporta para os EUA — a essa tarifa adicional de 40%. Entre essas exceções estão artigos essenciais para o mercado americano, como aviões da Embraer, peças aeronáuticas (como turbinas, pneus e motores), suco de laranja, castanhas, vários insumos de madeira, celulose, ferro-gusa, minério de ferro, equipamentos elétricos e petróleo.
No entanto, alguns dos principais itens da pauta de exportação brasileira, como café, cacau, carne e frutas, ficaram de fora da lista de produtos que não terão tarifa adicional.
Negociações
Sem canais abertos para negociação, membros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não veem espaço de manobra para tentar reverter a decisão do presidente americano, Donald Trump. A percepção de que as negociações estão travadas foi reforçada no domingo pelo representante de comércio dos EUA (USTR), Jamieson Greer.
Leia também
• Tarifaço sobre parte de exportações brasileiras entra em vigor nesta quarta-feira (6)
• Sebrae prepara linha de crédito para micro e pequenas empresas afetadas por tarifaço de Trump
• O que muda com o tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros? Saiba quais setores serão afetados
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no entanto, vem reiterando em declarações que o governo não tratará esta quarta-feira como uma data fatídica, e que seguirá na mesa de negociações. Em entrevista à BandNews nesta terça, ao ser questionado sobre eventuais pontos que podem ser levados em conta na negociação, Haddad citou os minerais críticos e terras raras, que são essenciais para produção de baterias elétricas e setor de inteligência artificial.
Como O Globo antecipou, os Estados Unidos estão interessados em realizar acordos com o Brasil em torno dos chamados minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras-raras. O presidente Lula, no entanto, disse nesta terça que os minerais raros do Brasil não serão explorados como foram outros minerais.
Plano de contingência
Diante do impacto que as tarifas podem ter sobre setores, o governo brasileiro prepara um plano de contingência aos setores que serão afetados pela sobretaxa americana que deve ser anunciado nesta quarta.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, que vem liderando as negociações com os EUA, disse que o plano está pronto e adiantou que ele envolve crédito em condições especiais e compras governamentais.
Salário mínimo
Como mostrou O Globo, o plano deve envolver um modelo semelhante ao que foi adotado no socorro ao Rio Grande do Sul após as enchentes do ano passado.
A ideia seria preservar empregos dos setores afetados, garantindo duas parcelas de um benefício no valor de um salário mínimo (R$ 1.518) aos trabalhadores de empresas prejudicadas. O empregador complementa o restante do salário do empregado.
Compra de alimentos
Em reunião nesta segunda-feira, conduzida por Alckmin, o governo pediu aos setores alimentícios afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos uma lista da quantidade de produtos excedentes e os respectivos preços necessários para viabilizar compras governamentais ou para subsidiar a venda no mercado interno.
Após receber as informações, a gestão do presidente Lula vai analisar se é possível prosseguir com a medida.
Linhas de crédito
Em outro eixo, o governo analisa também a concessão de linha de crédito para as empresas afetadas em condições mais acessíveis, como taxa de juros mais baixa e prazo de carência. A ideia é usar o Fundo Garantidor de Operações (FGO), repetindo mais uma vez uma ação adotada no caso do Rio Grande do Sul.

