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RELATÓRIO

Tarifas de Trump atingem países pressionados e é preciso colocar 'casa fiscal' em ordem, diz FMI

Relatório divulgado nesta quarta-feira projeta rombo médio das contas públicas em 5,1% do PIB em 2025

Fundo Monetário Internacional (FMI)Fundo Monetário Internacional (FMI) - Foto: Stefani Reynolds/AFP

As turbulências na economia global por causa da guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, encontrarão muitos países com “orçamentos pressionados”, alertou o Fundo Monetário Internacional ( FMI), na edição de abril do Monitor Fiscal.

O relatório do organismo multilateral sobre as contas públicas dos países foi divulgado nesta quarta (23).

Na média, os países fecharam 2024 com rombo nas contas de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 4,9%. Enquanto isso, o endividamento público bruto subiu para 92,3% do PIB, 1 ponto percentual acima do registrado em 2023.

Para este ano, o FMI projeta um déficit nas contas de 5,1% do PIB, com a dívida bruta subindo para 95,1% do PIB, sempre nas médias. A alta de 2,8 pontos percentuais no endividamento é mais do que o dobro do verificado na passagem de 2023 para 2024.

“Nesse cenário volátil, os países precisarão, acima de tudo, colocar sua própria casa fiscal em ordem. Um ajuste fiscal gradual dentro de um arcabouço crível de médio prazo é crucial para a maioria dos países reduzir a dívida, criar reservas fiscais contra incertezas, acomodar gastos prioritários e melhorar as perspectivas de crescimento no longo prazo”, diz o relatório do FMI, divulgado durante as Reuniões de Primavera, um dos eventos anuais da instituição.

Piora em 2024
Segundo o documento, apesar das “divergências significativas entre os países”, as contas públicas pioraram, de uma forma geral, em 2024. Na média calculada pelo FMI, os países apresentaram um déficit de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no saldo entre receitas e despesas. Já o endividamento público atingiu, no ano passado, uma média de 92,3% do PIB, 1 ponto percentual acima do registrado em 2023.

“Esse cenário reflete os legados persistentes de altos subsídios, benefícios sociais e outros gastos correntes decorrentes da pandemia de Covid-19, além do aumento das despesas líquidas com juros”, diz o Monitor Fiscal do FMI.

Os economistas do organismo multilateral projetam, para os próximos anos, alguma melhoria no rombo nas contas públicas dos países. Na média, o déficit chegará a 2030 em 4,6% do PIB, ante os 5,1% esperados para 2025.

Por outro lado, os juros em alta impedirão que as dívidas públicas fiquem sob controle. Nas contas do FMI, na média, o endividamento público chegará a 99,6% do PIB em 2030, ante a média de 95,1%, esperada para este ano.

Dívida chegará a 99,4% do PIB no Brasil em 2029
No caso do Brasil, a dívida pública bruta chegará a 99,4% em 2029 e 2030, nas projeções do FMI, ante os 87,3% do ano passado. Para 2025, os economistas do fundo esperam um salto do endividamento para 92% do PIB — para além das projeções, demonstradas em tabelas, o Monitor Fiscal cita pouco o Brasil.

As incertezas introduzidas pela nova política de comércio exterior dos EUA têm efeitos sobre as contas públicas, lembrou o FMI no relatório. Em primeiro lugar, as taxas de juros dos títulos públicos têm se elevado — com destaque para os Treasuries, como são chamados os papéis emitidos pelo Tesouro americano, cujas cotações refletiram também a desconfiança de investidores sobre a estabilidade da política econômica dos EUA.

Consequentemente, em outro efeito, também subiram as taxas dos títulos de países emergentes. Seus juros são medidos de acordo com o spread, ou seja, a diferença para as taxas dos títulos de países desenvolvidos — os Treasuries são a principal referência global.

Um efeito indireto será o esperado aumento nos gastos públicos com defesa. Isso deverá ocorrer, especialmente, na Europa. Isso porque, no contexto das relações comerciais e diplomáticas com seus principais parceiros, os EUA, sob o segundo governo Trump, têm sinalizado para uma redução dos investimentos em iniciativas conjuntas de defesa, como na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Para piorar o quadro, o FMI chamou a atenção ainda para "um cenário desafiador para a ajuda externa”, o que deverá piorar o equilíbrio das contas públicas dos países mais pobres. Na volta de Trump à Casa Branca, os gastos do governo americano com ajuda externa entraram de vez na mira, com a tentativa de extinção da US Aid, agência americana de cooperação.

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