Tarifas de Trump atingem países pressionados e é preciso colocar 'casa fiscal' em ordem, diz FMI
Relatório divulgado nesta quarta-feira projeta rombo médio das contas públicas em 5,1% do PIB em 2025
As turbulências na economia global por causa da guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, encontrarão muitos países com “orçamentos pressionados”, alertou o Fundo Monetário Internacional ( FMI), na edição de abril do Monitor Fiscal.
O relatório do organismo multilateral sobre as contas públicas dos países foi divulgado nesta quarta (23).
Na média, os países fecharam 2024 com rombo nas contas de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 4,9%. Enquanto isso, o endividamento público bruto subiu para 92,3% do PIB, 1 ponto percentual acima do registrado em 2023.
Para este ano, o FMI projeta um déficit nas contas de 5,1% do PIB, com a dívida bruta subindo para 95,1% do PIB, sempre nas médias. A alta de 2,8 pontos percentuais no endividamento é mais do que o dobro do verificado na passagem de 2023 para 2024.
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“Nesse cenário volátil, os países precisarão, acima de tudo, colocar sua própria casa fiscal em ordem. Um ajuste fiscal gradual dentro de um arcabouço crível de médio prazo é crucial para a maioria dos países reduzir a dívida, criar reservas fiscais contra incertezas, acomodar gastos prioritários e melhorar as perspectivas de crescimento no longo prazo”, diz o relatório do FMI, divulgado durante as Reuniões de Primavera, um dos eventos anuais da instituição.
Piora em 2024
Segundo o documento, apesar das “divergências significativas entre os países”, as contas públicas pioraram, de uma forma geral, em 2024. Na média calculada pelo FMI, os países apresentaram um déficit de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no saldo entre receitas e despesas. Já o endividamento público atingiu, no ano passado, uma média de 92,3% do PIB, 1 ponto percentual acima do registrado em 2023.
“Esse cenário reflete os legados persistentes de altos subsídios, benefícios sociais e outros gastos correntes decorrentes da pandemia de Covid-19, além do aumento das despesas líquidas com juros”, diz o Monitor Fiscal do FMI.
Os economistas do organismo multilateral projetam, para os próximos anos, alguma melhoria no rombo nas contas públicas dos países. Na média, o déficit chegará a 2030 em 4,6% do PIB, ante os 5,1% esperados para 2025.
Por outro lado, os juros em alta impedirão que as dívidas públicas fiquem sob controle. Nas contas do FMI, na média, o endividamento público chegará a 99,6% do PIB em 2030, ante a média de 95,1%, esperada para este ano.
Dívida chegará a 99,4% do PIB no Brasil em 2029
No caso do Brasil, a dívida pública bruta chegará a 99,4% em 2029 e 2030, nas projeções do FMI, ante os 87,3% do ano passado. Para 2025, os economistas do fundo esperam um salto do endividamento para 92% do PIB — para além das projeções, demonstradas em tabelas, o Monitor Fiscal cita pouco o Brasil.
As incertezas introduzidas pela nova política de comércio exterior dos EUA têm efeitos sobre as contas públicas, lembrou o FMI no relatório. Em primeiro lugar, as taxas de juros dos títulos públicos têm se elevado — com destaque para os Treasuries, como são chamados os papéis emitidos pelo Tesouro americano, cujas cotações refletiram também a desconfiança de investidores sobre a estabilidade da política econômica dos EUA.
Consequentemente, em outro efeito, também subiram as taxas dos títulos de países emergentes. Seus juros são medidos de acordo com o spread, ou seja, a diferença para as taxas dos títulos de países desenvolvidos — os Treasuries são a principal referência global.
Um efeito indireto será o esperado aumento nos gastos públicos com defesa. Isso deverá ocorrer, especialmente, na Europa. Isso porque, no contexto das relações comerciais e diplomáticas com seus principais parceiros, os EUA, sob o segundo governo Trump, têm sinalizado para uma redução dos investimentos em iniciativas conjuntas de defesa, como na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Para piorar o quadro, o FMI chamou a atenção ainda para "um cenário desafiador para a ajuda externa”, o que deverá piorar o equilíbrio das contas públicas dos países mais pobres. Na volta de Trump à Casa Branca, os gastos do governo americano com ajuda externa entraram de vez na mira, com a tentativa de extinção da US Aid, agência americana de cooperação.

