Vagas temporárias aquecem mercado e ofertam oportunidades
A Fecomércio-PE estima a criação de 59 mil postos temporários no mês de novembro, um crescimento de 18% em relação ao ano passado no estado. No Brasil, são esperados 535 mil contratos
Com o fim do ano chegando, o comércio se prepara para receber um maior fluxo de clientes atraídos por datas especiais como Black Friday, Natal e Ano Novo. Nesse movimento, as empresas intensificam a busca por trabalhadores temporários, abrindo oportunidades para trabalhadores ganharem experiência, desenvolverem novas habilidades ou ainda complementarem a renda.
De acordo com a Associação Brasileira de Trabalho Temporário (ASSERTTEM), a expectativa é de que sejam gerados 535 mil contratos entre outubro e dezembro de 2025. A indústria deve liderar as contratações, disponibilizando cerca de 50% das vagas, seguida do setor de serviços, com 30%, e o comércio com 20%.
“Na indústria, os destaques são os setores de eletroeletrônicos, brinquedos, linha branca, vestuário, calçados e alimentos voltados para o Natal, como o panetone. No comércio, o aumento da movimentação começa já em novembro, para atender a alta da demanda da Black Friday e Natal. Já no setor de serviços, especialmente na área de logística, o crescimento se dá pelo e-commerce e pela distribuição dos produtos vendidos on-line”, explica o presidente da ASSERTTEM, Alexandre Leite Lopes.
Pernambuco
Já em Pernambuco, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-PE) estima a criação de 59 mil postos temporários no mês de novembro, um crescimento de 18% em relação ao ano passado.
O clima otimista ainda é confirmado por lojistas da Região Metropolitana do Recife que se organizam para aumentar o número de funcionários.
“Há uma expectativa muito boa no comércio. Neste ano, contratamos 40% a mais do que o quadro normal e sempre aproveitamos em torno de 10% do que contratamos porque às vezes alguém sai, aposenta, tira férias. Para os bons, sempre tem vaga”, disse o diretor regional da Casa Pio em Pernambuco, Oliveira Gadelha.
Apesar da expectativa positiva, muitos candidatos encontram dificuldades em se adequar ao perfil exigido pelo mercado atual. Entre os mais velhos, como Israel Antonio Santana, de 49 anos, esse desafio ainda vem com inseguranças relacionadas à idade e à falta de capacitação.
“Minha maior dificuldade é que não concluí os estudos. E agora, pedem mais cursos e não dão oportunidade para nós. Eu queria um curso que não tem para os mais velhos”, disse Israel.
Israel Antonio Santana procura emprego na Agência de Trabalho de Pernambuco. Foto: Felipe Ribeiro/Folha de Pernambuco
Sem emprego, ele passa a maior parte do tempo parado em casa à espera de uma resposta positiva das empresas.
“Fico pensando quando é que eu vou ter outra chance de trabalhar de novo porque o primeiro emprego que eu tive foi de 11 anos e quando eu saí tive depressão por uns três meses, e tive de renovar tudo de novo. A pessoa fica tanto tempo fora do mercado de trabalho que fica sem jeito de ir direto buscar”, desabafou.
Já para Gracilene Braga, de 53 anos, a lentidão dos processos seletivos foi o que motivou sua busca pelas vagas temporárias.
“Meu objetivo é trabalhar porque eu estava com entrevista já pronta, mas ainda não fui chamada. Então, eu acho que a vaga temporária seria mais rápida porque ali eu posso me empenhar e ser contratada fixa. Meu perfil é justamente esse, procurar uma área que eu fique fixa”, disse Gracilene.
Gracilene Braga procura uma oportunidade de efetivação. Foto: Felipe Ribeiro/Folha de Pernambuco
Ela conta que começou a procurar emprego desde o início de novembro nas áreas de portaria e copa, mas também cogita outras opções. Apesar de sentir que a idade pesa na seleção, ela permanece otimista, acreditando que isso não deveria ser um impedimento.
“Eles estão vendo essa parte (a idade), mas, como eu tenho muita disponibilidade ainda, eu acho que a idade não impede nada”, concluiu.
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Jovens
Para os mais jovens, os desafios mudam. Isso porque o trabalho temporário torna-se uma oportunidade de equilibrar os estudos, ganhar seu próprio dinheiro e conseguir a primeira experiência no mercado.
Este é o caso de Micael Campos, de 21 anos, que procura sua primeira vaga temporária pela flexibilidade.
“Eu estou procurando vagas que tenham um período de trabalho reduzido por dia porque eu estou focando mais nos meus estudos”, disse Micael.
Já para Maryanne Cardoso, de 19 anos, a vaga é uma chance de ajudar a família enquanto amplia seu leque de experiências no mercado.
“Eu estou precisando muito, qualquer coisa que vier já ajuda. Está muito difícil, eu estou fazendo algumas coisas extras, mas está difícil conseguir uma vaga fixa. Eu acho que conseguir essa vaga (temporária) ia me ajudar muito em casa porque a gente está reformando a casa e meu pai está arcando com tudo sozinho. Então, acho que ajudaria muito”, disse.
Maryanne Cardoso procura uma vaga para complementar a renda da família. Foto: Felipe Ribeiro/Folha de PernambucoPreparação
Para ajudar os candidatos a se prepararem, a Folha de Pernambuco conversou com a psicóloga clínica especialista em orientação de carreiras, Karina Paz. Ela explica que no período de fim de ano o comércio costuma focar nas contratações para vagas temporárias e os recrutadores procuram perfis específicos de candidatos.
“Precisa-se ter pessoas dinâmicas nesse meio, até por ser um período que tem um boom do comércio muito grande. Então, as empresas precisam de profissionais com iniciativa, com organização, com atitude de tomar a frente. O candidato precisa ter esse perfil extrovertido, mas ao mesmo tempo que seja mais cauteloso também. Um perfil de observar, de analisar”, explicou.
A chave dos processos seletivos torna-se justamente a apresentação do candidato, que envolve desde a vestimenta até a forma de se comunicar.
“A grande parte dos candidatos que são eliminados no processo seletivo é o perfil comportamental porque a técnica pode ser adquirida. Eu posso treinar o candidato, mas o comportamento é inerente ao ser humano, ele está ali intrínseco”, relatou.
Dessa forma, a psicóloga orienta a começar trazendo suas características fortes, respondendo as perguntas, sem desviar o olhar, e responder aos questionamentos do recrutador de forma clara e objetiva.
“Quando perguntam sobre ponto forte, querem saber das suas qualidades comportamentais, aquilo que chama a atenção das pessoas. Eu geralmente pergunto assim: me diga um ponto forte seu, algo que alguém já elogiou, que você é muito bom, que você tem essa característica muito forte, e o porquê dessa característica”, resumiu.
Arte: Greg/FolhaPE
Já para os pontos de melhoria, Karina Paz recomenda apresentar uma habilidade que precisa aprimorar, mas que já está sendo trabalhada.
Ela dá um exemplo de resposta: “eu sei que sou um pouco tímido, às vezes sou um pouco retraído, eu fico observando mais. Sou analítico, mas isso não interfere porque eu comecei a fazer alguns cursos, interagi mais com outras pessoas e isso está me ajudando a me desenvolver melhor. O ponto de melhoria, ele tem que vir acompanhado de uma justificativa que você está buscando a melhoria. Não simplesmente dizer eu sou tímido, ou eu sou introspectivo”, exemplificou a psicóloga.
Por fim, ela reforça a importância da autoavaliação ao final de cada entrevista.
“Tem que identificar em que momento foi essa eliminação e, se possível, pedir um feedback. Se não conseguir o feedback é tentar realmente reavaliar, reajustar a rota. Cada entrevista que você vai participa, você vai melhora a sua linguagem, o seu comportamento, você vai observa os ambientes. Você vai absorvendo e vai ganhando uma maturidade e o sim vem”, afirmou a especialista em orientação de carreiras.


Israel Antonio Santana procura emprego na Agência de Trabalho de Pernambuco. Foto: Felipe Ribeiro/Folha de Pernambuco
Gracilene Braga procura uma oportunidade de efetivação. Foto: Felipe Ribeiro/Folha de Pernambuco
Arte: Greg/FolhaPE