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Vitória da educação: o que eles têm a ensinar

Vietnã, Japão, Singapura, Ceará e Pernambuco são alguns exemplos de locais onde estratégias na área do ensino superam os desafios do setor

Vitória da educação: o que eles têm a ensinarVitória da educação: o que eles têm a ensinar - Foto: Freepik

Imagine um país que saiu de uma guerra devastadora, com milhões de mortos, e que em menos de cinco décadas já supera os Estados Unidos no desempenho de estudantes em matemática. Esse país é o Vietnã que, após vivenciar 15 anos de um dos maiores conflitos armados do século XX, alcançou destaque em educação básica no mais recente ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

Para se tornar uma nação referência no principal exame mundial de avaliação do desempenho de estudantes de 15 anos em leitura, matemática e ciências, o país asiático estabeleceu prioridades no pós-guerra: investir massivamente na estrutura escolar e na formação de docentes.

“O Vietnã reconheceu a educação como política de Estado, não de governo”, destaca o professor, pesquisador e ex-secretário de Educação de Pernambuco Mozart Neves Ramos. Ele aponta a continuidade das experiências bemsucedidas como pilar do sucesso vietnamita na educação.

No topo global da avaliação do Pisa, entre 81 países, está Singapura, cuja lição valiosa e determinante para superar desafios na educação foi o olhar atento para a necessidade constante de qualificação dos professores.

“Singapura investe de forma estratégica na formação dos docentes, com um instituto nacional dedicado a isso. Tem escolas muito organizadas e foco na educação integral e desenvolvimento pleno das crianças”, afirma Mozart, que já esteve no país.

O Japão também figura como um dos melhores países no desempenho em leitura, matemática e ciências, no Pisa. Com tradição e excelência na educação desde os anos iniciais até o ensino superior, a fórmula para alcançar resultados consistentes está na disciplina e respeito ao educador.

"Precisamos usar mais a informação e a ciência a favor da educação para que possamos avançar", diz Mozart Ramos, professor, pesquisador e ex-secretário de Educação de Pernambuco

Brasil
O cenário internacional não é o único com bons exemplos quando o assunto é educação. No Brasil, Ceará e Pernambuco se destacam com estratégias distintas, mas igualmente eficazes.

Mozart Ramos, que lidera a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), com ações voltadas à melhoria da aprendizagem em mais de 100 municípios brasileiros, destaca o que os estados citados fizeram para superar desafios na educação.

No estado cearense, ele aponta que a articulação sólida com os municípios para a formação de professores, além de avaliações regulares e materiais didáticos integrados, levaram a resultados acima da média no Brasil.

“O Ceará é uma referência na alfabetização e desenvolvimento nos anos iniciais. A característica mais forte que resultou nesse sucesso foi o regime de colaboração entre o estado e os municípios”, detalha Mozart, que possui 45 anos de trajetória profissional na educação, entre pesquisa, docência e políticas públicas.

Pernambuco trilhou outro caminho: o ensino médio em tempo integral. A política, iniciada ainda na gestão estadual de Jarbas Vasconcelos e fortalecida nos governos seguintes, se destacou a partir do modelo pedagógico desenvolvido no Ginásio Pernambucano, no Recife.

“Não era só mais tempo na escola. Era um modelo pedagógico extremamente bem gerido, com redução na evasão, reprovação e melhoria na aprendizagem”, lembra Mozart.

Ainda sobre boas práticas em Pernambuco, duas unidades da rede estadual de ensino, situadas no Recife, - ETE Porto Digital e ETE Cícero Dias -, se destacam. É o que aponta o professor adjunto de psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), docente colaborador da Pós-Graduação da Cesar School e PhD em educação matemática pela Universidade da Califórnia, Luciano Meira.

“São dois excelentes exemplos na capital pernambucana de como gestão, currículo, estratégia pedagógica e engajamento estudantil funcionam de forma orquestrada para resultar em um bom desempenho do sistema como um todo”, aponta Meira.

"Hoje, talvez não exista mais uma pedagogia que possa ficar alheia à cultura digital. Temos que acolher essas tecnologias para dentro da escola", diz Luciano Meira, professor adjunto de psicologia da UFPE, docente colaborador da Pós-Graduação da Cesar School, PhD em educação matemática pela Universidade da Califórnia | Foto: Mayra Coelho/Divulgação

Outros estados também merecem evidência: Piauí é pioneiro no país ao implementar um currículo de inteligência artificial em sua rede de ensino, e Goiás, referência em gestão educacional, se firma pela continuidade de políticas públicas educacionais.

Panorama
Dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que, em 2024, 9,1 milhões (5,3%) de brasileiros com 15 anos ou mais eram analfabetos no país. Apesar do quantitativo, o percentual é o menor da série histórica, iniciada em 2016, quando a taxa para a faixa etária citada era de 6,7%.

Entre os jovens de 14 a 29 anos no país, 8,7 milhões não haviam completado o ensino médio em 2024, por terem abandonado a escola ou por nunca a terem frequentado. Em 2023, o contingente era de 9,3 milhões e em 2019, 11,4 milhões.

O levantamento também aponta que, no último ano, 56% das pessoas com 25 anos ou mais terminaram a educação básica obrigatória no Brasil (Ensino Médio). Em 2016, o percentual era de 46,2%.

Incentivos
Mozart Ramos é categórico ao afirmar que somente o investimento financeiro, isoladamente, não é capaz de transformar a educação. São necessários incentivos para professores e gestão escolar, e a continuidade das boas políticas.

“Melhoramos muito, mas esse ‘muito’ ainda está aquém daquilo que precisamos, principalmente na aprendizagem escolar. Precisamos usar mais a informação e a ciência a favor da educação para que possamos avançar”, pontua Mozart.

Para o professor Luciano Meira, há uma mudança de paradigma que a escola não pode mais ignorar: a incorporação crítica das tecnologias. “Hoje, talvez não exista mais uma pedagogia que possa ficar alheia à cultura digital. Temos que acolher essas tecnologias para dentro da escola”, avalia o professor.

Meira insiste que não há uma “receita universal” para revolucionar a educação, mas padrões comuns entre os países que conseguiram. “Todo mundo que produziu transformações significativas olhou de forma orquestrada e estratégica para o que está acontecendo na sociedade”, ressalta.

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