Etanol e E-metanol: protagonismo de Pernambuco
O e-metanol consegue remover todo o CO2 do ciclo, com uma tecnologia emergente, mas que tem potencial de se tornar referência no processo de descarbonização mundial
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas responsável por avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas, enfatizou, em relatório publicado há dois anos, a necessidade do planeta reduzir 50% das emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO2), até 2050. Tudo isso para evitar que a temperatura global ultrapasse o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. Uma corrida contra o tempo pela descarbonização mundial que já tinha o etanol como parceiro importante no processo e que, atualmente, tem a companhia do e-metanol, um vetor energético limpo que vem ganhando protagonismo em Pernambuco.
ABERTURA
Em setembro de 2024, o Governo de Pernambuco assinou um contrato com a empresa European Energy para instalar, no Complexo Industrial Portuário de Suape, a primeira indústria de produção de e-metanol do Brasil. As obras terão início em outubro deste ano, com funcionamento a partir de julho de 2028, no terreno localizado nas proximidades do Estaleiro Atlântico Sul.
Mantendo o foco no e-metanol, uma nova parceria foi firmada em junho deste ano envolvendo Suape e a empresa Goverde e Metanol Suape 1 Ltda, controlada pela GoVerde Hidrogênio Verde Holding S.A., para a instalação de uma indústria de produção de e-metanol derivado de hidrogênio verde. O investimento será de R$ 2 bilhões na primeira etapa, ocupando uma área de 10 hectares, com previsão de crescimento de mais 20 hectares. As obras começam em 2026.
“Já tínhamos um investimento da European Energy e agora temos o empreendimento da GoVerde, que conhece nosso estado. Ela tem parques de energia solar aqui em municípios do interior. Claro que é uma área nova, desafiadora, em desenvolvimento, mas a gente tem muita confiança que atraímos dois investimentos extremamente qualificados. Os olhares estão voltados a Pernambuco”, afirmou o diretor-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, Armando Monteiro Bisneto.
INVESTIMENTOS
Leandro Guerrero, diretor de desenvolvimento da GoVerde, ressaltou a possibilidade da parceria atrair mais investimentos no futuro.
“O Porto de Suape tem uma posição estratégica muito significativa, principalmente no que se correlaciona à infraestrutura portuária, que é bem consolidada. É muito bom também para atrair outros investidores voltados a biocombustíveis, combustíveis sintéticos, formando um hub exportador de e-metanol”, disse.
DIFERENÇAS
O etanol, também conhecido como álcool etílico, é um composto químico com fórmula C2H6O, usado como biocombustível e em diversas aplicações industriais, produzido a partir da fermentação de açúcares de fontes vegetais, como cana-de-açúcar e milho. Já o e-metanol é um combustível sintético, também chamado de metanol verde, produzido a partir de hidrogênio verde e CO2 capturado da atmosfera ou de fontes industriais.
O e-metanol pode ir além do etanol (que já tem baixa emissão de carbono), conseguindo remover todo o CO2 do ciclo. Os estudos do combustível sintético focam no uso em transporte marítimo, aviação e indústrias pesadas. Uma tecnologia emergente, mas com potencial de ser referência no processo de descarbonização mundial.
“Existe uma régua, que vai do 1 ao 9, chamada TRL (Nível de Maturidade Tecnológica). Ela avalia a métrica do desenvolvimento para uma tecnologia ser implementada. O etanol já está no 9. O e-metanol, como é novo, está ali entre 6 e 7. À medida que você vai ganhando escala de produção, vamos aprendendo cada vez mais. O Brasil tem condições territoriais, de solo, clima, área e precisamos aproveitar o momento de transição energética para nos posicionarmos visando o desenvolvimento nacional”, observou Emmanuel Dutra, coordenador de pós-graduação em tecnologias energéticas e nucleares da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
SUCROENERGIA
Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), salientou como o setor sucroenergético do estado está inserido na agenda de descarbonização global.
“O nosso setor sempre esteve inserido nessa agenda de descarbonização, desde a época do Proálcool (programa brasileiro criado em 1975 para reduzir a dependência do país em relação ao petróleo e promover o uso do álcool como combustível automotivo). Avançamos muito com a Lei do Combustível do Futuro (Lei nº 14.993/24), que incentivava o uso de biocombustíveis”, iniciou.
Plinio Nastari, fundador da DATAGRO, especialista no setor sucroenergéticoPara Plinio Nastari, fundador da DATAGRO e um dos maiores especialistas no setor sucroenergético, Pernambuco pode assumir um papel de protagonismo no debate sobre descarbonização no Brasil.
“Podemos ser inspiração para outros locais se conseguirmos repetir a experiência que está sendo desenvolvida na Dinamarca, por exemplo, onde se instalou uma planta comercial de e-metanol. No mundo inteiro, há um senso de urgência grande para esse debate sobre descarbonização. Não à toa a COP 30 (reunião anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) vai focar na direção de implementar políticas sobre esse tema”, sinalizou.
Indústrias de E-metanol

