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Ademir, ex-Sport, fez história na Seleção Brasileira na Copa

Um dos maiores jogadores da história do Sport e do Vasco, Ademir Menezes, o “Queixada” foi o primeiro pernambucano a disputar uma Copa do Mundo, em 1950. Destaque brasileiro no torneio, o craque, assim como todos aqueles atletas que participaram da campan

Ademir 'Queixada'Ademir 'Queixada' - Foto: Lehi Henri/Folha de Pernambuco

Ademir Menezes? “Queixada”? Se você fosse brasileiro, em 1950, não haveria sentido algum estas interrogações acompanharem o nome do pernambucano, então titular da Seleção Brasileira. Ademir Marques de Menezes, ou simplesmente Ademir Queixada, era sinônimo de esperança, na primeira edição de Copa do Mundo disputada no Brasil. A certeza de um título, até então inédito, estava completamente ligada ao desempenho do atleta em campo. Individualmente, inclusive, ele não decepcionou. Ao final da competição, foi o artilheiro com nove gols. Mas assim como todos aqueles atletas que participaram da campanha nacional, teve o nome manchado, após a traumática derrota por 2x1, de virada, para o Uruguai, no famoso “Maracanaço”. Por isso, perdeu ali a única chance de vencer um Mundial.

Um dos maiores jogadores da história do Sport e do Vasco, Ademir era alto, magro e tinha as pernas alinhadas. Chamava atenção, em seu ros­to, o queixo avantajado. Daí o ape­lido de “Queixada”. No fim dos anos 40, dividia com Zizinho o posto de grande estrela do futebol brasileiro. Atacante rápido, era conhecido pelas arrancadas, por armar jogadas e aparecer para concluir. Foi o primeiro grande exemplo do que passou a ser chamado de “ponta de lança”.

Apesar da decepcionante despedida da Copa de 1950, Ademir foi o grande destaque brasileiro no torneio. Na goleada de 7x1 sobre a Suécia, marcou quatro gols (além de dois sobre o México, na estreia, e mais um sobre a Iugoslávia). Diante da Espanha, antes da decisão contra o Uruguai, anotou seus últimos dois gols no Mundial. Na grande final, contra a Celeste, passou em branco. Não foi perdoado pela derrota, assim como todos os companheiros de Seleção, e ficou de fora da Copa de 1954, na Suíça. Assim deixou a Amarelinha com a marca de 32 gols em 39 partidas e é o nono maior artilheiro da equipe, empatado com Tostão.

Ademir nasceu no Recife, no dia 8 de novembro de 1922. Antes de se profissionalizar, jogava futebol na Praia do Pina. Começou e finalizou a carreira vestindo a camisa do Sport, mas brilhou mesmo com o Vasco da Gama. Sua identificação com o time carioca o fez afirmar: “Sou um homem dominado pelo coração, e meu coração é dominado pelo Vasco”. O atacante demorou três anos para conquistar seu primeiro título em São Januário. Quando o fez, em 1945, tirou o cruzmaltino de uma fila de oito anos sem o Estadual do Rio. Marcou 12 gols.

No início de 1946, o treinador do Fluminense, Gentil Cardoso, disse uma frase que entraria na história do futebol: “Deem-me Ademir, que lhes darei o campeonato”. A profecia se confirmou. Ademir foi decisivo na conquista de um dos campeonatos mais emocionantes da história do futebol do Rio de Janeiro. Foram 24 gols anotados, inclusive o que valeu o título, em jogo contra o Botafogo. Voltou ao Vasco em 1948. Naquele ano, foi parte importante do elenco que conquistou o Sul-Americano de clubes, título equivalente ao da Copa Libertadores da América atual. Deixou o futebol do Rio em 1956, mesmo ano em que realizou um jogo de despedida pelo Sport.

Quando pendurou as chuteiras, virou comentarista de futebol e tinha uma coluna no jornal O Dia. Ademir morreu no dia 11 de maio de 1996, no Rio de Janeiro, devido a um câncer.

Trecho da peça “A Falecida” (1953)
ESCRITA POR NELSON RODRIGUES

TUNINHO -
Que peso tremendo! (Zulmira, que cochilava, desperta em sobressalto.)
ZULMIRA - Que foi? (Tuninho tira os sapatos.)
TUNINHO - Imagina tu - talvez o Ademir não jogue.
ZULMIRA - (atônita) - Que Ademir?
TUNINHO - Ora, não aborrece você também! Que Ademir? Ou tu nunca ouviste falar de Ademir? Parece que vive no mundo da lua? (Tuninho, enfurecido, anda de um lado para outro. Tem um sapato em cada mão.)
ZULMIRA - Ai!
TUNINHO - Machucou-se no treino. Estupidamente! (Zulmira dobra-se, na cama, tossindo com todas as forças. Sob a obsessão futebolística, Tuninho nem liga para a tosse da mulher.)
TUNINHO - E se ele não jogar, não sei, não. Vai ser uma tragédia em 35 atos! Porque o Ademir, sozinho, vale meio time. Ah, vale... (Tuninho vem se debruçar sobre a mulher, que continua tossindo.)
TUNINHO - (feroz) - Sabe quem deu o supercampeonato ao fluminense? Ademir! Decidiu todas as partidas! (Larga os sapatos. Deita-se, numa melancolia medonha. Ao lado, sentada, no meio da cama, Zulmira se torce, em acessos tremendos.)
TUNINHO - Às vezes, eu tenho inveja de ti. Tu não te interessas por futebol, não sabes quem é Ademir, não ficas de cabeça inchada, quer dizer, não tens esses aborrecimentos... Benza-te Deus

 

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