Dom, 21 de Dezembro

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Ditando as regras na linguagem popular

Adilson Couto caiu nas graças da torcida com "tem gente mexendo no placar". Galvão Bueno explica no livro o bordão com Taffarel ocorreu por acaso

Porto do RecifePorto do Recife - Foto: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

O trabalho do narrador não se restringe somente a relatar acontecimentos e imprimir emoções a eles. O trabalho completo engloba também o uso de bordões. Muitos deles caem no gosto popular e, alguns, chegam até a virar expressões comumente usadas, até mesmo fora dos esportes. Trata-se da marca registrada desses profissionais. E não faltaram narradores com vasto repertório de jargões facilmente assimiláveis. Impossível esquecer do "agueeenta coração", de autoria do falecido Fiori Gigliotti. Ou do "ripa na chulipa e pimba na gorduchinha", do retirado Osmar Santos. Em Pernambuco, o saudoso Adílson Couto registrou para a posteridade os inesquecíveis "tem gente mexendo no placar" e "o coração do torcedor faz tum-tum-tum de alegria", locuções que ganharam eco nas arquibancadas e bate-papos informais.

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Os bordões também servem para elevar jogadores ao patamar de heróis. Galvão Bueno, famoso pelo "haja coração", dentre tantas outras expressões, transformou o ex-goleiro da Seleção Brasileira, Claudio Taffarel, em protagonista das partidas, graças ao imortal "sai que é sua Taffarel!". O curioso é que a famosa fala não foi planejada, muito menos queria apenas enaltecer as qualidades do atleta. No livro 'Fala, Galvão!', de autoria do próprio e de Ingo Ostrovsky, o narrador explica a história: "Na verdade, eu queria dizer outra coisa. A bola passava para cá e para lá sobre a área, e ele, um grande goleiro, um dos maiores da história do futebol brasileiro, ali, parado. O estilo dele era esse. De repente, falei: 'Sai que é sua, Taffarel!', como quem diz: 'Vai na bola, cara!'. Repeti no outro dia e caiu no gosto das pessoas", conta.

Entre as inesquecíveis frases ditas pelos narradores, também há espaço para expressões mais bem humoradas. O veterano Sílvio Luiz é pródigo em tiradas hilárias, como as "pelas barbas do profeta" ou "pelo amor dos meus filhinhos", logo após lances em que quase saíram gols. Ou "esse até minha avó fazia" e "que é que eu vou dizer lá em casa", quando um gol incrível era perdido. Em jogadas consideradas atrapalhadas, Milton Leite, do SporTV, não hesita em disparar os seus "que beleeeza" e "que faaase". Nessa linha mais jocosa, o destaque do momento é Rômulo Mendonça, da ESPN Brasil. Autointitulado "mensageiro do caos", o narrador virou mania nas Olimpíadas do Rio em 2016, graças às impagáveis "aqui não, queridinha", "aqui não, neném", "onde está o seu Deus?", "me engravida!". Além disso, ele ainda entoar hits juvenis, como a Ragatanga, do extinto grupo Rouge, transformando as transmissões em verdadeiras troças.

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