Inspiração em Ivete Sangalo e homenagem ao RJ: veja collants da Ginástica Rítmica para o Mundial
Seleção de conjunto tem os modelos mais caros da história, com cerca de 20 mil pedrarias
As ginastas do conjunto do Brasil disputarão o Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica, no Rio de Janeiro, com chance de pódio inédito e novos collants. As peças, que são verdadeiras joias, ajudam na avaliação da parte artística e são os mais caros da história da Confederação Brasileira da modalidade.
O conjunto inicia a competição nesta sexta-feira, com o treino de pódio. E tem como principais concorrentes a China, Japão, Polônia, Itália e Espanha.
A competição começa nesta quarta-feira com as disputas do individual. Bárbara Domingos e Geovanna Santos são as representantes do país e já nesta terça-feira farão o treino de pódio.
Desenvolvidos em parceria com a estilista Thaís Lima, de Aracaju, cada collant do conjunto tem cerca de 15 a 20 mil pedrarias, entre cristais, espelhos, canutilhos e miçangas, aplicados de forma totalmente artesanal.
Seleção de conjunto de Ginástica Rítmica do Brasil exibe novos collants para o Mundial da modalidade — Foto: MeloGym/CBGAs pedras são costuradas, uma a uma, com cerca de quatro furos cada, ou coladas. A maioria do material é importado. A CBG não divulga os valores das peças.
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— Esses são os collants mais caros que já fizemos até hoje. E o desafio foi gigante. Tanto para superar o modelo anterior, porque sempre queremos algo novo, como no tempo de confecção. Após a Olimpíada de Paris, a Thaís, nossa estilista, havia dito que não faria mais os collants. E foi um desespero — conta Camila Ferezin, técnica do conjunto, que tentou seguir com outros profissionais, mas não deu certo.
Ela conta que "quase implorou" para Thaís não deixá-las. É que a estilista já havia se "despedido" da seleção na véspera do embarque para Paris. À época, junto com os collants, ela enviou um presentinho para cada atleta, com uma cartinha.
— Quando recebi o presente, pensei: "Não acredito nisso. O que farei depois?". Fui atrás de outros profissionais, mas nada dava certo. Eu não gostava e fui ficando apavorada. Até que pensei: "Vou pedir de joelhos para a Thais fazer. Um Campeonato Mundial, na nossa casa".
Detalhe da gola do collant da série simples — Foto: MeloGym/CBGCamila ligou para a estilista e relembrou conversa que tiveram após a contusão de Victória Borges e a eliminação do Brasil dos Jogos de Paris.
— Ela havia mandado muitas mensagens de carinho à época. Thaís também é religiosa, assim como nosso grupo. Faz os collants escutando os hinos da igreja. E nos disse que tudo aquilo tinha um propósito. Quando liguei para ela, disse: "Thais do céu, lembra do propósito? A gente precisa de você!" E ela aceitou fazer.
Thaís, que começou este trabalho apenas em maio, explica que este ano estava focada em outros projetos. Ela é especialista em vestidos de noiva e estava em viagem entre Paris e Barcelona produzindo editoriais.
— Mas eu não tinha como dizer não, a gente precisava abraçar essa causa — fala Thaís, que trabalha com Camila desde que ela assumiu a seleção, há 13 anos.
Trabalho artesanal
Thaís explica que essas são peças muito delicadas e que por isso necessitam de mão de obra exclusiva e especializada. Essa é a maior dificuldade. Ela coordenou equipe com oito profissionais para a confecção dos 12 modelos da seleção. Cada artesã ficou responsável por uma parte do processo.
— Elas precisam ser detalhistas, cuidadosas e experientes. A função é muito específica, o trabalho é delicado, precisa ser feito com cautela, para que não haja erros. Até porque são várias peças iguais. Mas, como as meninas têm tamanhos diferentes, tudo precisa ser ajustado e simétrico — comenta a estilista. — O collant é praticamente uma joia.
Ela também disse que antes da confecção, se reuniu com a Camila para entender a inspiração, listar os elementos e objetivos com as peças. E que para o Mundial, os collants foram inspirados em uma peça de Carnaval de Ivete Sangalo, de 2023, e nos raios solares da cidade do Rio de Janeiro, sede do evento.
O collant para a série das cinco fitas é uma espécie de terceira versão de modelos anteriores. Para a disputa de alguns campeonatos internacionais, Camila e Thaís inovaram ao usar canutilhos. Depois, para Paris-2024, incrementaram com apliques de espelhos. Agora, para o Mundial, o collant tem os canutilhos e os espelhos. A música é um mix de ritmos brasileiros e as fitas seguem as mesmas cores dos collants.
— A inspiração para este modelo foi a escola de samba, algo elegante. Usamos as cores do Brasil e colocamos detalhes sutis do laranja, em homenagem ao Rio de Janeiro, ao sol da cidade. E a cor aqueceu o modelo, ficou lindo. O desenho lembra um pouco um pássaro, acho que vai dar esse efeito — explica a estilista.
Para a série mista, com três bolas e dois arcos, elas elegeram a cor vermelha como a principal. É que a coreografia, embalada pela música Evidências, "é uma história de amor". As ginastas interpretam cenas de carinho, uma beija a mão da outra, tem mão no rosto, abraços, e a pose inicial é uma representação de coração.
— A inspiração inicial foi uma fantasia de Ivete Sangalo, com um "q" de sertanejo. Mas incorporamos outras referências como o violão e a nota musical. Muita coisa mudou do croqui inicial. Elas testaram o collant e tiramos as mangas para dar mais mobilidade. Colocamos um novo detalhe, que lembra a jaqueta sertaneja, com franjas. O formato do coração está bem na frente, é o recorte do busto e incrementamos com pedraria dourada.
Assim como as ginastas e os membros da comissão técnica, Thaís está ansiosa para a hora "H", quando os collants serão revelados no Mundial. E desta vez ela poderá conferir o brilho de seu trabalho ao vivo e a cores. Como a competição está sendo disputada no Brasil, ela é convidada de honra.
— Se na TV já fico emocionada, imagina ao vivo... A gente sempre para para vê-las na TV e estou muito feliz e honrada porque poderei assistir a competição ao vivo. Vai ser especial — comemora Thaís, que garante que não ficará nervosa: — O ideal é que as pedras não caíam (risos). Mas, essa é uma peça delicada para um esporte bruto. O atrito entre a peça e o chão é grande. Algumas pedras vão cair. Mas não fico nervosa com isso, não. Já me acostumei.

