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Instituto Brasileiro de Futebol Feminino coletou dados de times da Copa Maria Bonita, diz fundadora

Instituição criada por ex-atletas visitou o Recife para buscar o desenvolvimento da modalidade no Nordeste

Instituto Brasileiro de Futebol Feminino promoveu o primeiro encontro estratégico entre equipes participantes da Copa Maria BonitaInstituto Brasileiro de Futebol Feminino promoveu o primeiro encontro estratégico entre equipes participantes da Copa Maria Bonita - Foto: Divulgação/IBFF

Em um país onde as mulheres são a maioria absoluta em número populacional, apenas 19,2% das jogadoras de futebol têm algum vínculo profissional assinado no Brasil.

Para mudar esses números e a realidade vivida por muitas atletas, é preciso que existam pessoas empenhadas para o desenvolvimento da modalidade no país. Este é o caso da ex-jogadora da seleção brasileira e do Corinthians, Camila Estefano, e a técnica Sandra Santos.

Juntas, as duas criaram o Instituto Brasileiro de Futebol Feminino (IBFF), que tem o objetivo de estudar dados relacionados ao esporte.

Com o resultado das coletas realizadas durante o evento, Camila e Sandra pretendem desenvolver novas estratégias para o avanço do futebol feminino em todas as regiões brasileiras.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, as duas contaram mais sobre os planos para o projeto, além da parceria na primeira edição da Copa Maria Bonita, que ocorreu no Recife até o último sábado (11). 

Como alguém que vivenciou na pele as dificuldades sofridas pelas atletas, Camila acredita que o IBFF é uma oportunidade de capacitar a modalidade de forma mais abrangente.

“Eu fui atleta de futebol, joguei profissional pelo Corinthians, cheguei a jogar pela seleção brasileira e tive a oportunidade de jogar nos Estados Unidos também. E era uma época que aqui o Brasil não tinha nada. O futebol feminino no Brasil não tinha estrutura, investimento, nem campeonato”, contou.

Com o contato com outras jogadoras, a ex-atleta percebeu que a desigualdade regional existente na modalidade precisa ser combatida, mas não somente nas categorias profissionais. Para ela, o desenvolvimento deve começar pelas atletas da base.

“A gente sentiu uma necessidade das pessoas de fora de São Paulo, [...]  pedindo: ‘Ai, por que vocês não vêm para cá? Por que vocês não vêm fazer esse projeto aqui? Aqui não tem desenvolvimento de base.”

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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A partir de um olhar mais individualizado para cada caso, o instituto procura desenvolver planejamentos de ação para um mercado fora do eixo de São Paulo ou de outros estados do Sudeste.

“Tem necessidades que são comuns para todas, mas também tem necessidades específicas ou mais emergentes em cada região. Então, queremos envolver as lideranças e traçar planos de ação para desenvolver projetos, ações e iniciativas.”

De acordo com Sandra, “o IBFF foi idealizado para trabalhar de forma estratégica nas cinco regiões do Brasil”.

“É um instituto que vem dedicado exclusivamente para o futebol feminino e diante de toda a demanda e oportunidade que a gente identificou nesse diagnóstico, né? E então acho que ele vem para desenvolver, para profissionalizar, dar acesso, capacitar, trazer dados e potencializar o esporte”, complementou Camila.

Primeiro Encontro Estratégico
Com a realização da Copa Maria Bonita na capital pernambucana, o IBFF teve a oportunidade de conhecer as comissões de clubes nordestinos e se aproximar mais da realidade da região. 

Aliado ao evento, também ocorreu 1° Encontro Estratégico de Futebol Feminino, considerado uma oportunidade para o Instituto conversar diretamente com as jogadoras e suas comissões técnicas para entender as necessidades individuais das equipes.

“A gente sabe que o desenvolvimento do futebol feminino vai muito além das quatro linhas. Ele precisa que todos estejam alinhados com qual é a meta e qual é o objetivo que a gente tem. Pensando em uma colaboração entre todos e no que a gente pode fazer que o futebol feminino se desenvolva de forma estruturada e sustentável.”

De acordo com Estefano, o encontro foi bastante produtivo e funcionou em dois momentos. O primeiro contou com a presença de atletas, comissões técnicas e outras lideranças.

Painel, que foi apresentado por Camila Estefano, mostrou uma visão do futebol feminino pelo mundo. Foto: Divulgação/IBFF

Nele, foram apresentados os principais mercados de futebol fora do Brasil, como a Espanha, Inglaterra e os Estados Unidos, para que os participantes do encontro pudessem entender como anda o funcionamento da modalidade.

“Foi muito rico assim o feedback que a gente teve dos clubes e das atletas [...], foi super positivo. Eles falaram: "Nossa, a gente nunca parou e teve essa interação entre os clubes". Nunca. Imagina, os times existem há quanto tempo e nunca tiveram essa oportunidade de troca mútua.”

Em seguida, o cenário atual do Brasil foi mostrado para o grupo. Além disso, houve um momento de troca entre os times nordestinos, que elencaram os seus pontos positivos e negativos e puderam se conhecer melhor pela primeira vez.

“O que a gente percebeu com esse movimento é que existe uma carência muito grande de escuta. Então assim, era uma satisfação deles estar ali para alguém ouvir ou para eles conversarem”, comenta Sandra Santos.

Dinâmica contou com a presença das comissões técnicas de equipes que fizeram parte da Copa Maria Bonita. Foto: Divulgação/IBFF

Copa do Mundo no Brasil
Em meio ao crescimento da modalidade, que ganhou mais visibilidade em canais de televisão aberta, a Copa do Mundo também figura como uma boa oportunidade para a consolidação da popularidade do futebol feminino no Brasil. Em 2027, o país sediará a competição pela primeira vez na história.

Sandra Santos teve um papel essencial na escolha do país-sede. Como diretora de políticas públicas e de promoção do futebol feminino do Ministério do Esporte entre 2023 e 2024, ela teve a missão de traçar um plano estratégico para mostrar que o Brasil tem condições de receber o torneio.

“Quando a gente apresenta um documento de compromisso, a gente tá falando de deixar um legado”, afirmou a ex-diretora.

Entre os trabalhos desenvolvidos pelo IBFF com foco no torneio, Sandra e Camila têm um projeto em andamento para visitar as cidades-sede que aguarda a aprovação do Ministério dos Esportes.

“A Copa do Mundo já está acontecendo desde a hora que foi anunciado. E aí a gente fica aqui tentando fazer de tudo também para que as pessoas entendam que a Copa do Mundo vai acontecer aqui, né? A maioria das pessoas não sabem. Acho que todo o nosso trabalho vai de encontro para que a Copa do Mundo não seja lembrada só pelos gols e festas.”

As gestoras enxergam o evento como a possibilidade de ser um ponto de virada para a equidade de gênero no esporte brasileiro como um todo, não só pro futebol feminino.

“As pessoas estão percebendo que o futebol feminino também é futebol, né? [Na Copa do Mundo], você vai lá torcer pela sua seleção, assim como você torce no masculino. A gente costuma falar que qualquer pessoa pode fazer desde já para que essa seja a melhor Copa do Mundo de todos os tempos”, disse Camila.

Chances de título
Tanto Camila quanto Sandra acreditam que sim, é possível que a seleção brasileira consiga levantar a tão sonhada taça em casa com o trabalho desenvolvido pelo técnico Arthur Elias.

“Eu sou sempre otimista, sempre, sempre. Mas assim, eu acho que de verdade o Arthur [Elias] está fazendo um trabalho muito bacana”, afirmou a ex-jogadora.

Sandra, que trouxe a sua visão como técnica de futebol, também faz elogios ao treinador que está no comando das brasileiras desde 2023.

“É possível. Eu acredito muito nesse trabalho, que é consistente e vem num nível alto. A gente não está no consistente começando do zero. A gente pode ser campeã no Brasil e é parte e consequência do trabalho que está sendo construído hoje. Eu acredito e torço muito para que isso aconteça.”

Independente de qual for a equipe campeã da Copa do Mundo, o futebol feminino segue se fortalecendo cada vez mais no Brasil.

Por meio do incentivo de políticas públicas e iniciativa do Instituto Brasileiro de Futebol Feminino, a modalidade pode se tornar ainda mais vitoriosa e seguir a ideia do slogan do IBFF, que “juntas transformamos o jogo”.

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