Matemáticos da bola: reverenciados e cornetados
Embora o esporte bretão esteja longe de ser uma ciência exata, é possível fazer projeções realistas. Para isso, existem os experts das probabilidades
O espetáculo chamado futebol envolve muito mais do que se vê nas quatro linhas. O esporte mais popular do planeta é composto por muito mais personagens do que somente jogadores, torcedores, profissionais técnicos e dirigentes. Há também estudiosos que se dedicam à modalidade como ciência. Entre eles, os matemáticos responsáveis por calcular as inúmeras possibilidades nas competições, como quem tem mais chances de ser o campeão, quais times devem ser rebaixados, entre outros pormenores. Entretanto, a atividade deixa uma questão no ar: como antever o imprevisível? Ainda mais em um jogo tão equilibrado e dado ao acaso como o futebol. Embora o esporte bretão esteja longe de ser uma ciência exata, é possível fazer projeções realistas. Ainda que, por vezes, seja preciso lidar com a inevitável indignação dos torcedores.
Engenheiro e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Tristão Garcia é figura conhecida quando o assunto é probabilidades no futebol. Para o Campeonato Brasileiro de 1999, o perito criou uma tabela de pontos detalhada, que foi divulgada nos principais veículos esportivos do País. De lá para cá, desenvolveu modelos de análise para Copas do Mundo, Libertadores, entre outras competições. Os resultados são fornecidos no popular website Infobola. Contudo, explicar como funcionam os intrincados cálculos das probabilidades futebolísticas é missão quase impossível. "Fiz um programa no computador de linguagem de alto nível. As funções que se usam já estão programadas. Tem situações que eu mais ou menos adivinho, mas, na maior parte das vezes eu não sei as chances de um time sem rodar o programa", conta.
Por conta de seus prognósticos, Tristão foi menosprezado por alguns fanáticos. No Campeonato Brasileiro de 2009, a dez rodadas do fim do certame, o matemático considerou que o Fluminense tinha 98% de chances de rebaixamento. Acontece que o Tricolor Carioca escapou da queda. E desdenhou do professor, que garante não ligar para as ofensas. "Eu não considero quase nada. Nem olho. Quando comecei a fazer isso, eu assumi o risco de sofrer com as críticas", diz, em forte gauchês, o profissional, que já muito procurado pelos times para contribuir com seus cálculos. "Clubes e treinadores já me procuraram, mas, atualmente, os dados vão para a mídia muito rápido, então não há muita necessidade. Lá no início, lá em 1999, 2000, isso era informação privilegiada. Com a modernização, o acesso à informação, isso diminuiu", garante.
Embora o acesso a números e estatísticas esteja mais próximos dos torcedores, os experts continuam a ser consultados. E não só pela imprensa. É o caso de Gilcione Nonato Costa, professor do departamento de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que possui um site voltado a probabilidades nos Campeonatos Brasileiro e Mineiro. "Já orientei técnico de futebol, local mesmo, digamos de segundo escalão, que de vez em quando me liga, pede uma orientação", relembra o mineiro, que assume o seu time, mas já foi alvo da fúria de torcedores. "Teve uma vez que recebi um e-mail desaforado, mas faz muitos anos. E os números são imparciais, se eu colocasse a minha paixão pelo Atlético/MG nos números o estudo perderia a sua credibilidade. Já falei meu time, em rádios, televisão. Em Belo Horizonte todo mundo já sabe", assegura.

