Mel de mangue vira modelo de negócio sustentável em Pernambuco
Cooperativa de Barreiros produz mel a partir das flores da copiúba nos manguezais e já vende em quatro estados. Cada lote comercializado financia o replantio de árvores nativas, gerando renda para 44 trabalhadores da região
Um mel produzido a partir das flores da copiúba, nos manguezais do Rio Una, já está presente em quatro estados nordestinos e suas vendas financiam a recuperação da mata nativa local. Cada lote vendido representa o replantio de árvores para preservar o ecossistema do litoral sul de Pernambuco que sustenta as famílias de 44 trabalhadores envolvidos em todas as etapas do processo, da extração à comercialização. Produzido pela marca Vale do Una, o mel Florada Manguezal alcança prateleiras e mesas não só do estado, mas também da Paraíba, do Rio Grande do Norte e de Alagoas, abastecendo redes atacadistas, varejistas, hotéis e pousadas em destinos turísticos.
O produto foi desenvolvido há três anos pela Cooperativa Agrícola de Assistência Técnica e Serviços (Cooates), fundada há 25 anos em Barreiros, como resposta à degradação ambiental da região. “A Mata Sul vinha sofrendo com a supressão da restinga, dos manguezais e da Mata Atlântica. Decidimos inovar e criar a marca como forma de proteger o território e gerar renda para os cooperados”, explica José Cláudio da Silva, presidente da Cooates.
A iniciativa transformou pressões ambientais em oportunidade de negócio. As 25 colmeias ficam distribuídas nos manguezais onde floresce a copiúba, também chamada de mangue-preto ou siribeira. O ambiente costeiro, com sua salinidade característica, confere ao produto características distintas dos méis tradicionais.
Foto: Cooates/Divulgação
Foto: Cooates/Divulgação
Foto: Cooates/Divulgação
Produção do mel do mangue em ambiente único
A espécie responsável pela produção é a Apis mellifera scutellata, conhecida como abelha africanizada. Os apicultores da cooperativa recolhem os favos e os encaminham para o beneficiamento industrial na sede da Cooates. “Esse é um mel que traz características das flores mais rasteiras e de transição para o manguezal. É um mel monofloral com textura leve, aroma marcante, acidez suave e sabor que não enjoa”, descreve José Cláudio da Silva.
O mel está disponível em embalagens de 40g, 500g e 700g, com preços a partir de R$ 10. Além do produto principal, a Vale do Una produz também méis de floradas da Caatinga e da Mata Atlântica, explorando as características exclusivas dos biomas nordestinos. O portfólio inclui ainda diferentes tipos de própolis: marrom (convencional), verde (extraído do alecrim) e vermelho (associado ao mangue).
Além do mel do manguezal, a Vale do Una produz também méis de floradas da Caatinga e da Mata Atlântica. Foto: Divulgação/Vale do Una
Potencial científico em investigação
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolve estudos para identificar possíveis propriedades medicinais específicas associadas à florada da copiúba. “Os méis de Pernambuco ainda são pouco estudados. São alimentos completos, com potenciais propriedades medicinais desconhecidas pelo mercado. O nosso possui tanino, por exemplo”, destaca José Cláudio da Silva.
O tanino, presente em diversas plantas como proteção contra predadores, apresenta em humanos propriedades antioxidantes, antibacterianas e anti-inflamatórias, que podem auxiliar no combate a doenças e na prevenção de inflamações. “As pessoas precisam entender que não se trata só de um doce: é um alimento saudável e funcional”, ressalta o presidente da cooperativa.
Atualmente, a cooperativa possui cerca de 200 colmeias distribuídas pela região em oito apiários, demonstrando como comunidades locais podem transformar pressões ambientais em oportunidades econômicas, preservando ecossistemas enquanto geram renda e trabalho para dezenas de famílias.
Leia mais no Movimento Econômico:
Exportações de alimentos caem em agosto por causa de tarifaço dos EUA




