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CPI do INSS: comissão ouve primeiros depoimentos, e oposição tenta explorar possível conflito

Na visão de parlamentares, figuras ligadas ao atual governo têm sido poupadas

Instalação da CPI Mista do INSS no Congresso Nacional em 20 de agosto Instalação da CPI Mista do INSS no Congresso Nacional em 20 de agosto  - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

A CPI do INSS se reúne nesta quinta-feira para ouvir seus primeiros depoimentos, equanto governo e oposição ainda afinam suas estratégias de atuação. De um lado, a oposição tentará explorar possíveis conflitos de interesse da investigação conduzida pela Polícia Federal, que, na visão de parlamentares, pode ter poupado pessoas ligadas ao atual governo. Do outro, a base aliada do Palácio do Planalto faz uma ofensiva para ter maioria no colegiado para evitar novas derrotas, como a sofrida na disputa pelo comando do grupo.

Um dos depoimentos previstos nesta quinta-feira é o do delegado da Polícia Federal Bruno Oliveira Pereira Bergamaschi, responsável pela Operação Sem Desconto. O depoimento dele será sigiloso.

Opositores pretendem questioná-lo sobre um contrato firmado pelo escritório do advogado Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), entidade investigada por fraudes no INSS. O ministro da Justiça nega conflito e que tenha ocorrido interferência do escritório do filho na pasta que comanda.

Em outra frente, a oposição também deve insistir na convocação de Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Frei Chico, contudo, não consta entre os investigados.

 

Na segunda-feira, um acordo costurado entre governistas e oposicionistas deixou de fora a convocação de Frei Chico. Membros da oposição, como o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), negam que houve um pacto para blindar o irmão de Lula. Mas, na prática, prevaleceu o entendimento de que seriam convocados apenas presidentes das entidades investigadas — o que automaticamente retirou da lista o dirigente sindical, que ocupa a vice-presidência do Sindnapi.

Além desses embates, a oposição colocou em pauta uma série de requerimentos para ampliar o acesso a dados relacionados às investigações. Entre eles estão relatórios internos da CGU, peças da AGU sobre estratégias de ressarcimento, inquéritos da PF e informações da Dataprev sobre a segurança do portal Meu INSS.

A oposição tenta também mapear ligações políticas. A pauta inclui pedidos de registros de entrada e saída para identificar a circulação de dirigentes de entidades investigadas e personagens do caso em gabinetes do Senado e da Câmara, no Ministério da Previdência e no próprio INSS. Entre os alvos, estão solicitações para rastrear as visitas de Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, e de outros nomes associados ao esquema. A ideia é traçar cronologias de encontros e canais de influência, abrindo uma trilha de relacionamentos que possa embasar novas oitivas.

Enquanto isso, para tentar evitar novas derrotas, o governo também se mobilizou nos últimos dias para trocar integrantes da CPI. Senadores como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL) deixaram o colegiado, e aliados do Planalto trabalham para garantir ao menos 18 votos fiéis à base. A avaliação entre governistas é de que parte das dificuldades até agora ocorreu porque a oposição conseguiu surpreender com a inclusão de requerimentos em sessões que seriam, em tese, apenas para ouvir depoimentos.

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