Entre tarifas e fronteiras: o impacto das tensões comerciais na imigração internacional
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente americano Donald Trump e válida a partir de 1º de agosto, está gerando diversas reações do governo federal. Nesta semana, o governo Lula intensificará sua atuação política e técnica para enfrentar o tarifaço. No campo político, tem fortalecido o discurso nas redes sociais e entrevistas, como no vídeo que começou a ser divulgado no domingo com o lema “Brasil soberano”. No aspecto técnico, houve a assinatura do decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica, que poderá ser aplicada caso as tarifas permaneçam.
Embora o impacto direto na balança comercial brasileira seja limitado, visto que as exportações aos Estados Unidos representam menos de 2% do PIB nacional, a medida anunciada pelo governo de Trump acende um alerta sobre o avanço do protecionismo e seus efeitos negativos no ambiente global de negócios e investimentos. Mais do que um ato isolado, trata-se de uma inflexão política com consequências simbólicas e estratégicas, especialmente para países emergentes, caso as tarifas entrem em vigor dessa maneira.
No contexto da imigração e mobilidade global, as tarifas anunciadas por Trump poderão, sim, resultar em medidas de reciprocidade consular por parte dos Estados Unidos. Isso poderá afetar vistos de turismo, trabalho temporário e intercâmbio, categorias mais sensíveis às relações diplomáticas, e provocar atrasos pontuais e aumento na exigência documental, em concomitância com a nova Visa Integrity Fee. Essa taxa, que entrará em vigor a partir de outubro, elevará o custo total da solicitação para até 459 dólares, um aumento de mais de 130% sobre o valor atual, o que pode causar retração na demanda, especialmente entre profissionais e estudantes com menor capacidade de investimento.
Na contramão, a migração de profissionais especializados e investidores ganha força e assume perspectivas distintas. Vivemos um mundo em que esses atores não operam apenas pela lógica da nacionalidade, mas por aspectos que privilegiam segurança jurídica, incentivos fiscais, liberdade econômica e qualidade de vida, critérios que valem tanto para indivíduos quanto para grandes corporações.
Segundo a consultoria Henley & Partners, mais de 1.2 mil milionários, pessoas com patrimônio líquido superior a US$ 1 milhão, devem deixar o Brasil em 2025, um aumento de 50% em relação ao ano anterior. Embora fatores como carga tributária e segurança pública ainda sejam importantes, cresce o peso de decisões racionais e planejadas que buscam melhor qualidade de vida, ambientes mais seguros e acesso a serviços de saúde e educação de maior padrão. O levantamento aponta os Emirados Árabes como destino preferido, seguidos pelos Estados Unidos e países da Europa, como Itália.
Diante desse cenário, a imigração de profissionais qualificados e investidores tende a permanecer relevante. Para profissionais altamente especializados ou investidores com planos de médio e longo prazo, as novas tarifas anunciadas pelo governo Trump e os debates em torno da política imigratória desde o início de seu mandato representam mais um fator a ser considerado, mas não um impeditivo. A decisão sobre onde viver, empreender ou trabalhar continuará sendo guiada por critérios estratégicos, e não apenas por barreiras econômicas momentâneas.
A imigração, especialmente aquela planejada por motivos profissionais, acadêmicos ou patrimoniais, se consolida como uma escolha estratégica, não uma reação emergencial. Quem busca oportunidades o faz com planejamento, visão de longo prazo e consciência do valor que cada localidade pode oferecer. Trata-se de uma decisão fundamentada, que considera fatores combinados como a segurança jurídica dos Emirados Árabes Unidos, o acesso facilitado a capital nos Estados Unidos e à qualidade de vida em países como Portugal.
Mais do que uma reação pontual a tarifas ou tensões comerciais, essa movimentação expressa uma escolha estratégica de indivíduos e empresas que buscam ambientes mais seguros, estáveis e propícios ao crescimento. Em um cenário global cada vez mais desafiador, a questão central não está apenas nas medidas em vigor, mas na capacidade de enxergar adiante, agir com visão de futuro e transformar incertezas em oportunidade.
* Advogado, fundador e CEO da Leao Group Global, da edtech imigra® e da Franqueadora Leao Global.
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