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OPINIÃO

A ampulheta do tempo exigirá lideranças mais comprometidas

Na semana passada, o Departamento-Geral do Pessoal (DGP), órgão responsável pela gestão dos recursos humanos do Exército brasileiro, comunicou aos oficiais que concluíram a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) as respectivas designações ao término do curso. 

Houve alegrias, frustrações, mas, acima de tudo, o reconhecimento de que o processo conduzido pelo DGP se baseia nas aptidões pessoais e nas necessidades da organização.

As trinta e cinco guarnições aquinhoadas se entusiasmaram por saberem que sangue novo, enriquecido de múltiplos conhecimentos, dará continuidade ao legado de seus antecessores.

A ECEME é a instituição de ensino militar de mais alto nível na estrutura acadêmica da força terrestre. A conquista do diploma de oficial de estado-maior é condição sine qua non para habilitação à promoção ao posto de general.

Os oficiais que a frequentam, já no posto de major, se submetem a um rigoroso processo de seleção, por meio de provas discursivas em áreas de história e geografia, nas quais as questões se entrelaçam, obrigando-os a respostas tão abrangentes, quanto concatenadas. 

Em média, apenas um quarto dos formandos em uma turma na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) - a universidade militar que prepara os jovens para se tornarem oficiais do Exército - consegue êxito nesse desafio.

A missão principal da escola é formar assessores de alto nível que cooperarão com os chefes militares, auxiliando-os na tomada de decisões relacionadas aos campos estratégicos, operacionais, táticos, logísticos e administrativos.

Durante o curso de dois anos, além das medições de aprendizagem, os alunos participam de palestras, grupos de estudos, conhecem as estruturas de poder, leem diversos livros, debatem com analistas de outros setores, tudo com o objetivo de adquirir novas capacidades que promovam uma cultura de sucesso baseada em valores.

Campanhas militares são analisadas sob a ótica dos princípios de guerra, destacando-se os ensinamentos nelas colhidos como inspiração para o pensar flexível desses profissionais das armas. 

Canas, Austerlitz, El Alamein, Monte Castelo, Yom Kippur, Ucrânia recentemente, são apenas alguns exemplos das muitas manobras sobre as quais os oficiais se debruçam.

Eles também assimilam métodos consolidados de tomada de decisão, que se somam aos seus próprios mapas mentais, preparando-os com proficiência para tarefas futuras.

Em paralelo, a escola oferece curso de pós-graduação strictu sensu, em nível de mestrado e doutorado, no qual o aluno inscrito cumpre todos os requisitos reconhecidos pela CAPES para conquista do título acadêmico.

O Marechal Castello Branco, antigo comandante, é constante inspiração nos corredores da instituição de ensino: “ao chefe não cabe ter medo das ideias, nem mesmo das ideias novas. É preciso, isto sim, não perder tempo, empreendê-las e realizá-las até o fim”. 

Lembro-me bem dessa fase em minha vida.

Foi uma época intensa e transformadora, que me preparou para os desafios a enfrentar, fortalecendo tradições e valores da instituição, ao tempo em que me despertou para a complexidade de liderar com base em atributos como humildade, vontade, equilíbrio, transcendência, excelência e convicção.

Certamente, a dinâmica do mundo contemporâneo exigirá dos futuros líderes militares ajustes nas suas condutas.

Hoje, a ampulheta do tempo deixa os grãos de areia escorrerem mais rapidamente entre a cuba superior do pensar e a cuba inferior do agir, o que obrigará as lideranças a serem mais eficazes na tomada de decisões, mais profundas nos conhecimentos que as orientam, mais flexíveis em suas abordagens e mais receptivas a diferentes perspectivas.

Sem querer ensinar padre a rezar missa, os gestores públicos e privados deveriam conhecer e aplicar os métodos e os mapas mentais usados nos processos de decisão das escolas militares, o que, certamente, lhes serviria na busca da construção da paz e bem-estar sociais a seus liderados.

Reconhecendo a história como eterna conselheira do presente e faroleira que ilumina o caminho a trilhar pela sociedade, dizia Henry Kissinger: “não podemos escolher nossas circunstâncias externas, mas sempre podemos escolher como reagir a elas”. 

Em síntese, o mundo exigirá das novas lideranças, civis ou militares, aprendizado contínuo, compartilhamento de ideias e coragem para enfrentar novos desafios.

*General de Divisão da Reserva 

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