"A desigualdade apareceu na nossa família quando o dinheiro entrou" relata filha afetiva de Flordel
Em seu depoimento, filha afetiva da ex-deputada disse que já apanhou da mãe e contou que flagrou Simone dos Santos colocando uma substância escondida na comida do pastor Anderson
Em seu depoimento no julgamento de Flordelis Santos, e três dos seus filhos e uma neta, pela morte do pastor Anderson do Carmo em 2019, Daiane Freire, filha afetiva de Flordelis, relatou que a desigualdade entre os integrantes da família começou a surgir após a ex-deputada e o pastor Anderson começarem a ganhar mais dinheiro. A existência de “duas facções” em que uma tinha mais privilégios na casa do que outra foi dita também nesta terça-feira por Tiago Vaz, policial que trabalhou na investigação do caso.
— Tinha certeza de que a minha família era eles. Quando eramos crianças, éramos iguais, mas a desigualdade veio aparecer na nossa família quando o dinheiro entrou. Também, de alguma forma, a Simone, que era mais íntima de Flordelis, inventava fofoca das meninas adolescentes e a Flordelis acabava brigando conosco. Xingava dizendo que “você é piranha”, achando que éramos “foguenta”. Ela tentava nos corrigir usando palavras de baixo calão — relatou Daine Freire.
Ela ainda contou que uma vez flagrou Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, colocando uma substância escondida na comida do pastor Anderson:
— Ao confrontar ela, eu disse que se o Niel (apelido de Anderson) descobrisse ia ter morte nessa casa. Ela (Simone), então, respondeu: “pela mãe flor eu faço tudo, até vou presa”.
Emocionada, Daiane lembrou um episódio em que ouviu de André Luiz de Oliveira, irmão afetivo e um dos réus na ação, que estaria com Flordelis “até o final”, mesmo se ela estivesse envolvida com o crime.
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Eu falei que, se ela estivesse envolvida, não conseguiria continuar com eles. Eu tenho muito carinho e respeito pela minha mãe, ela me ensinou a ser verdadeira e honesta. Tudo isso foi uma decepção muito grande — contou
A testemunha também lembrou de que, quando mais nova, ao voltar do colégio, apanhou de Flordelis e de seu irmão Carlos. Após a morte do pastor Anderson, ela diz ter recebido relatos de seus irmãos afetivos que o episódio era porque a ex-deputada acreditava que ela “vendia o peito por R$ 1”
— É algo que me machuca muito. Quando a gente morava em Cabo Frio, quando voltei do colégio, cheguei em casa apanhando sem saber o porquê. Minha mãe bateu, se cansou e pediu pro Carlos continuar me batendo. Depoi,s ao longo da vida, fui descobrir que era porque ela inventou que eu tinha vendido meu peito por R$ 1. Tinha um complexo de inferioridade muito grande. Nunca me aceitei meu corpo. Depois da morte do meu pai, meus irmãos vieram falar comigo: “a Flor falava pra gente que você vendia seu peito” — relatou.
Neste terceiro dia de julgamento, a primeira a depor foi Luana Vedovi Rangel, uma das noras da pastora. Ela detalhou como descobriu um plano dentro da casa para matar o pastor Anderson do Carmo. Num depoimento com cerca de três horas de duração, Luana relembrou que soube pela própria vítima, que encontrou uma mensagem planejando o crime em seu Ipad, e levou os promotores e plateia aos risos ao afirmar que os envolvidos pareciam os humoristas do antigo programa de TV “Os Trapalhões”. Um seguida, um filho afetivo, antes apresentado como filho biológico, começou a prestar depoimento às 12h20. Daniel dos Santos de Souza, de 24 anos, também optou pela videoconferência apesar de estar no fórum.
De acordo com as investigações, o texto do plano para matar Anderson foi escrito por Flordelis e enviado pela filha afetiva Marzy Teixeira, para Lucas Cézar dos Santos de Souza, filho adotivo da ex-deputada. Luana contou que Marzy relatou a ela que o texto foi escrito por Flordelis deitada em sua cama.
— Um dia, deitada na cama, Flordelis escreveu no Ipad (do pastor Anderson do Carmo) e disse para mandar para o Lucas. Mandou a mensagem para o Lucas e por algum motivo não apagou. Parece os Trapalhões, na verdade. Por algum motivo, não apagaram a mensagem do Ipad dele e ficou em tudo que é lugar. No celular, Ipad, e-mail. E ele viu.
Luana afirma que, quando soube da mensagem, antes da conversa com Marzy, logo desconfiou de Flordelis, uma vez que a ex-deputada “profetizava” que Anderson morreria, mas não teve coragem de falar para a vítima de sua suspeita. Luana é esposa de Wagner Andrade Pimenta, o Misael, um dos filho afetivos da pastora. Ele prestou depoimento nesta terça-feira.
— Ninguém podia falar da Flor para ele. A Flor era a rainha da vida dele. Eu nunca podia falar para o pastor que era ela (que estava envolvida), porque a Flor ficava dizendo que o pastor ia morrer, que Deus ia levar ele. Ele está atrapalhando a obra de Deus, ele não passa deste ano. Eu não podia dizer que era a Flor, porque eu que ia morrer — afirmou.
Ainda de acordo com Luana, o pastor desconfiou do envolvimento de Marzy e disse que daria “uma coça” nela.
— Para ele, tudo ele conseguiria resolver do jeito dele. Ele só me mandou para eu tomar cuidado com a Marzy — acrescentou.
Flordelis é acusada de ser mandante da morte do marido, em 2019. Além dela, são julgados três de seus filhos — Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira, além de uma neta, Rayane dos Santos.
O plano descoberto no Ipad do pastor é uma das principais provas no processo. O texto encontrado por Anderson foi enviado pelo aparelho a pelo menos dois filhos — Carlos Ubiraci e Adriano dos Santos Rodrigues. Em seu primeiro depoimento à polícia, Marzy confirmou que mandou mensagens para Lucas, pedindo que ele matasse o pastor, mas alegou que Flordelis não tinha conhecimento de seu plano. Lucas também confirmou que recebeu de Marzy propostas para matar Anderson, mas afirmou não ter aceitado.

