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AVIAÇÃO

A volta da Pan Am: roteiros de luxo com bilhetes a partir de US$ 59 mil

Novo dono da marca monta roteiros de experiência para ricaços entre Nova York e Bermuda, e depois em Lisboa, Marselha, Londres e Shannon, na Irlanda. Empresa aérea encerrou atividades em 1991

A volta da Pan Am: roteiros de luxo com bilhetes a partir de US$ 59 milA volta da Pan Am: roteiros de luxo com bilhetes a partir de US$ 59 mil - Foto: Divulgação/Pan Am

Um pequeno grupo de ex-comissárias de bordo da Pan American World Airways estava reunido junto a uma janela no Terminal 7 do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, esticando o pescoço e levantando os celulares. Houve alguns suspiros audíveis e um suave quando o avião surgiu à vista: “Ah, meu Deus, lá está ele”.

Várias das mulheres se emocionaram e enxugaram lágrimas enquanto o jato finalmente deslizava diante da janela, sua cauda ostentando o inconfundível logotipo da Pan Am — uma "almôndega" azul-cobalto.

As ex-comissárias — e várias dezenas de outros passageiros — estavam no JFK na última terça-feira para embarcar no avião, um Boeing 757 fretado que está sendo promovido como uma “jornada Pan Am em voo privado”. Ao longo de 12 dias, o avião viajará de Nova York para Bermuda, e depois para Lisboa, Marselha, Londres e Shannon, na Irlanda, antes de retornar à cidade de Nova York.

A aeronave, que tem capacidade para 50 passageiros, conta com poltronas totalmente reclináveis, dispositivos pessoais para transmissão de entretenimento, além de um bar aberto e refeições preparadas por chefes, servidas por comissários vestidos com uniformes completos da Pan Am. A viagem custa US$ 59.950 por pessoa em ocupação dupla, com um acréscimo de US$ 5.600 para ocupação individual.

O voo para Bermuda não é exatamente o primeiro a ostentar o icônico emblema da Pan Am desde que a companhia aérea pioneira encerrou suas atividades em 1991; um antigo proprietário chegou a tentar relançar algumas rotas em 2006.

Mas este é o voo inaugural sob os novos donos da Pan Am: o CEO Craig Carter, que já comandou empresas de planejamento de viagens de luxo, e outros quatro investidores com experiência em hospitalidade e marketing de eventos. Eles compraram a marca Pan American World Airways no ano passado com a intenção de reviver um dos ícones mais lendários da história da aviação.

O que Carter e seus sócios adquiriram em fevereiro de 2024 foi, essencialmente, uma operação de licenciamento. Existem relógios Pan Am feitos pela Breitling e pela Timex; é possível comprar camisetas e moletons com a marca; e o nome já foi usado em uma destilaria de gim e vodca, entre outras coisas.

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A maioria dessas iniciativas continua ativa, mas, quase imediatamente, os novos proprietários começaram a planejar um tour de luxo de alto padrão.

"Sabíamos que essa seria uma boa forma de colocar um avião de volta no ar. Esse era um dos nossos principais objetivos" disse Carter.

"Era dourada" da aviação
A viagem em si foi organizada pela Bartelings, uma empresa especializada em excursões com aeronaves privadas, e pela Criterion Travel, uma operadora de turismo que planeja viagens de alto padrão para organizações de ex-alunos, museus e grupos semelhantes.

As seis paradas fazem parte das duas primeiras rotas transatlânticas da Pan Am, que a companhia aérea começou a operar comercialmente em 1939. O grupo vai se hospedar em hotéis como o Fairmont Hamilton Princess & Beach Club, em Bermuda; o Four Seasons, em Lisboa; e o Savoy Hotel, em Londres. A última parada, em Shannon, será centrada em uma visita ao Foynes Flying Boat & Maritime Museum, que conta com uma réplica em tamanho real de um Boeing 314 “flying boat”, o famoso Pan Am Yankee Clipper.

O tour se esforça ao máximo para evocar a “era dourada” da aviação. As comissárias de bordo, cedidas pela Icelandair (contratar e treinar equipes próprias ainda não está nos planos), vestem réplicas dos uniformes da Pan Am, com chapéus e luvas brancas.

Quando a pequena tripulação parou para tirar fotos com os pilotos, em seus elegantes uniformes, do lado de fora do terminal, rapidamente atraiu uma multidão. Os penteados impecáveis e os trajes elegantes evocaram instantaneamente uma época em que viajar era empolgante, um pouco glamouroso e cheio de possibilidades. Os passageiros podem até se sentir em um set de filmagem. Ao redor do grupo elegante, viajantes de moletom, sandálias plásticas e rabos de cavalo desalinhados arrastavam-se rumo à fila de segurança.

O 757 personalizado comporta cerca de 30 fileiras espaçosas de assentos de primeira classe. O corredor é largo, mas, infelizmente, não há serviço de "Chateaubriand" ao lado do assento — uma marca registrada da primeira classe da Pan Am, quando as comissárias fatiavam carne na hora. No entanto, haverá bastante champanhe disponível.

Nenhum dos trechos da viagem dura mais de sete horas, mas, caso algum passageiro deseje dormir, pode reclinar completamente o assento. (O banheiro é apenas um banheiro de avião com acabamentos mais refinados.)

Por enquanto, isso é mais do que suficiente. Carter afirma que não tiveram dificuldade para preencher todos os assentos da aeronave nesta viagem. Uma parte significativa dos passageiros tem uma conexão de décadas com a Pan Am; vários foram comissários de bordo ou filhos de pilotos.

Debbi Fuller, de Langdon, New Hampshire, foi comissária de bordo de 1980 a 1989. Ela mostrou o folheto da viagem ao marido no último inverno, rindo do valor de cinco dígitos. Ele a surpreendeu dizendo para reservar: “Ele disse: ‘Tenho 83 anos. Não vou levar esse dinheiro comigo. Sei o quanto a Pan Am significou para você. E perdi essa mesma quantia na bolsa de valores na semana passada mesmo.’”

O marido de Fuller ficou em casa (“os dias de viagem dele já passaram”), mas ela está acostumada a viajar sozinha, e sua empolgação com essa viagem era evidente. Ela levou seu uniforme, que precisou apenas de alguns pequenos ajustes, e planejava usá-lo em Bermuda.

Rede de ex-funcionários ativa
A rede de ex-funcionários da Pan Am é surpreendentemente ativa. Uma fundação arrecada fundos para manter um museu, que, junto com um podcast e um canal no YouTube, preserva histórias e lembranças que documentam a trajetória da companhia — desde seu primeiro voo (um hidroavião que fazia a rota de Key West a Havana em 1927) até se tornar um gigante que dominou as viagens aéreas e abriu rotas dos EUA para o mundo todo.

Mesmo sem terem trabalhado juntos há pelo menos 30 anos, muitos membros da tripulação ainda mantêm laços fortes, conta Wendy Knecht, ex-comissária de bordo que foi convidada a participar do primeiro trecho da viagem como parte de seu trabalho com a Pan Am Museum Foundation.

"De todos os empregos que tive, esse é o que mais pareceu uma família" afirma.

Até hoje, Knecht diz que frequentemente incorpora sua identidade Pan Am."Se recebo amigos para jantar, finjo que estou trabalhando na cozinha da primeira classe. A gente fazia festas ali todos os dias."

Mas Carter, o novo CEO da Pan Am, aposta que há um apelo pela nostalgia da icônica companhia aérea que vai muito além dos ex-membros da tripulação. E há indícios disso bem perto de onde o avião iniciou essa nova jornada: o TWA Hotel, localizado no antigo terminal projetado por Eero Saarinen no JFK, é um túnel do tempo da era dos jatos, com restaurantes, uma loja, bar e piscina na cobertura.

Pela Europa e Ásia, viagens de trem ultraluxuosas — que remetem a uma era ainda mais antiga de viagens elegantes — estão esgotadas, mesmo com preços na casa de dezenas de milhares de dólares por apenas alguns dias a bordo.

A Pan Am também entrou para o seleto grupo de operadores de viagens, como Four Seasons e Abercrombie & Kent, que apostam que o turismo de luxo em jatos privados atrai um público disposto a pagar até US$ 198.000 para voar com apenas algumas dezenas de companheiros para destinos cuidadosamente selecionados, com roteiros personalizados planejados nos mínimos detalhes.

Uma nova jornada privada da Pan Am já está sendo preparada. Em abril do próximo ano, passageiros poderão seguir a rota transpacífica em uma viagem de 21 dias com paradas em Tóquio; Siem Reap, no Camboja; Cingapura; Darwin e Sydney, na Austrália; Auckland; e Nadi, em Fiji. Essa viagem custará US$ 94.495 por pessoa em ocupação dupla, com acréscimo de US$ 9.500 para ocupação individual.

Mas se esse valor está fora do seu orçamento, Carter e seus sócios não pretendem deixá-lo de fora. Está previsto um hotel da Pan Am em um shopping center próximo a Los Angeles, e em breve será possível reservar uma noite na nova versão da Pan Am Experience da cidade, que Carter descreve como um “jantar-teatro” a bordo de um avião em solo com o tema do glamour da Pan Am dos anos 1970.

Se tudo o que você deseja é uma das famosas bolsas de mão da Pan Am, Carter diz que, infelizmente, elas não estarão à venda para o público em geral. No entanto, se você estiver na Coreia do Sul, ainda existem 14 lojas dedicadas exclusivamente a produtos da Pan Am.

O verdadeiro sonho da Pan Am, segundo Carter, é voltar a ser uma companhia aérea. A empresa já começou o processo caro e meticuloso de entender como relançar — e financiar — um serviço regular de voos. E, embora ainda esteja nos estágios iniciais, a companhia já garantiu um indicativo de chamada junto à Administração Federal de Aviação (FAA): Clipper.

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