Alemanha aprova aumento histórico nos gastos militares e pode transformar defesa da Europa
A medida, que recebeu o apoio de dois terços do Parlamento, isenta os investimentos das rígidas regras de dívida do país e cria um fundo de infraestrutura de aproximadamente R$ 3 trilhões
Em uma decisão histórica, o Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, aprovou nesta terça-feira um enorme aumento nos gastos com defesa e infraestrutura.
A medida, que recebeu o apoio de dois terços dos parlamentares, isenta os investimentos militares das rígidas regras de dívida da Alemanha e cria um fundo de infraestrutura de € 500 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões).
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A aprovação representa uma mudança significativa para um país cauteloso com endividamento e pode transformar o cenário da defesa europeia — à medida em que a guerra entre Ucrânia e Rússia avança, e após o presidente dos EUA, Donald Trump, sinalizar um compromisso incerto com a Otan.
No entanto, para que a nova medida entre em vigor, a câmara alta do Parlamento, o Bundesrat, ainda precisa confirmar a decisão com outra maioria de dois terços.
A votação, segundo a BBC, está marcada para a próxima sexta-feira.
O provável novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, defendeu a medida durante o debate no Bundestag, afirmando que o país “sentiu uma falsa sensação de segurança” na última década.
— A decisão que estamos tomando hoje pode ser nada menos que o primeiro grande passo em direção a uma nova comunidade de defesa europeia — declarou Merz, destacando que essa aliança incluiria países “que não são membros da União Europeia”.
Segundo a medida, os gastos com defesa ficarão isentos do chamado freio da dívida da Alemanha: uma lei na Constituição do país que limita rigorosamente os empréstimos do governo federal a apenas 0,35% do PIB do país.
Incerteza sobre a segurança europeia
Merz, do partido CDU e vencedor das eleições gerais no mês passado, propôs as medidas rapidamente após a vitória. Ele justificou a urgência da medida citando a incerteza sobre o futuro da segurança europeia, especialmente após as recentes negociações entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin.
— A situação piorou nas últimas semanas. É por isso que temos que agir rápido — disse Merz em entrevista à emissora pública ARD, no último domingo.
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O partido de extrema direita AFD e o partido de extrema esquerda Linke, que tiveram um bom desempenho nas eleições de fevereiro, se opõem aos planos de Merz.
Merz ainda não conseguiu formar uma coalizão para governar a Alemanha e anunciou planos ambiciosos para estabelecer um novo governo até a Páscoa.
"Europa deve ter uma postura forte"
A Europa precisa se rearmar para ter uma capacidade de dissuasão confiável em 2030, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta terça-feira, durante uma cerimônia na Academia Militar da Dinamarca.
— Até 2030, a Europa deve ter uma postura forte em matéria de defesa. Estar preparado para 2030 significa rearmar-se e desenvolver as capacidades necessárias para uma dissuasão confiável. Precisamos agir rapidamente — disse der Leyen, acrescentando que isso também significa "ter uma base de defesa industrial que constitua uma vantagem estratégica".
A Rússia, disse von der Leyen, "expandiu amplamente sua capacidade industrial de produção militar e está em um caminho sem volta na criação de uma economia de guerra completa".
— E enquanto essas ameaças aumentam, vemos nosso aliado mais antigo, os Estados Unidos, mudar seu foco para a região Indo-Pacífico. Podemos querer que essas coisas não sejam verdade — concluiu.
Ao apresentar von der Leyen, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Fredericksen, declarou que "se a Europa quer evitar a guerra, a Europa deve estar pronta para a guerra".

