Amiga relata últimas horas de mulher morta em incêndio no Recife: "Estava com um roxo no olho"
Cristiana, amiga de Isabele, disse que o companheiro e suspeito de tê-la matado era violento
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A reportagem da Folha de Pernambuco voltou ao local do incêndio que vitimou Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e os quatro filhos, Aline, de 7 anos; Adriel, de 4 anos; Aguinaldo, de 3 anos; Ariel, de 1 ano.
O crime aconteceu no último sábado (29), na comunidade Icauã, uma ocupação social no bairro da Caxangá, na Zona Oeste do Recife, onde a família residia.
No local, que ainda cheirava a plástico queimado, a amiga mais antiga e próxima de Isabele, Cristiana Severina da Silva, de 49 anos, contou que o companheiro de Isabele era violento.
“Ele cumpria as obrigação dele com as despesas, trabalhava com bico, comprava as coisas. Ela tinha de tudo, mas não tinha paz. Ele espancava ela, chamava muitos nomes com ela, os meninos ficavam tudo chorando. E ele era muito rebelde…”, relatou a amiga.
Residente da ocupação há 10 anos, mesmo período que Isabele, Cristina ainda disse que partia da amiga a vontade e os pedidos de não denunciar o agressor.
“Ninguém nunca chamou a polícia porque ela pedia, sabe? Por conta dos filhos, para não estragar a família. A única renda que ela tinha era do Bolsa Família. Eu dizia: ‘vai para a casa da tua mãe’ e ela respondia: ‘Tina, eu com quatro meninos, não vou. Eu preciso estar no meu barraquinho, porque se eu ganhar, os meus filhos vão ter sempre uma casa”, relatou Cristiana, reforçando que um dos medos da amiga era deixar o local e perder uma possível indenização.
Ainda segundo Cristiana, no dia do crime, a amiga estava assustada e pediu ajuda: “Tina, ele está com gasolina e o novinho está lá”, teria dito Isabele.
“Eu estava aqui sentada, daí veio ela e os três filhos dela [mais velhos]. Ela chegou pertinho, chorando, e estava com uma marca de faca de serra pequena e um roxo no olho. Daí ela disse: ‘Tina, ele está com gasolina e o novinho está lá’", contou.
Incêndio atingiu diversas casas | Foto:Arthur Botelho/Folha de PernambucoAinda segundo Cristiana, ela teria orientado a amiga a deixar os três filhos mais velhos na casa dela enquanto ia buscar o mais novo, mas não adiantou.
“Eu disse: ‘deixa esses três aqui comigo e não diz nada com ele, pega o novinho, que a gente vai para a praça passear e vocês ficam aqui até ele dormir”. Ela foi, mas os meninos sempre iam atrás dela, porque onde ela ia levava os meninos, ela não deixava eles com ninguém, nem comigo”, relatou a amiga.
Leonardo José do Nascimento, de 22 anos, que mora uma casa depois de onde a vítima morada com os filhos, contou que tentou ajudar Isabele e as crianças a saírem da casa, pelo telhado, mas não conseguiu.
“Eu escutei minha mãe gritando ‘fogo, fogo’, aí eu saí e já vi tudo. Tentei ajudar, subi em cima do fogo, tentei levantar as telhas, mas daí eu não consegui não, o fogo já estava se espalhando por tudo. Eu estava tentando levantar a telha pra tentar ajudar as pessoas, mas não consegui. Ainda pulei pro outro lado, tentando ajudar um senhor que estava jogando água, mas o fogo já tinha se espalhado”, lamentou o jovem.

