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Anzol muda para salvar tartarugas marinhas

Equipamentos com formato da letra "J" dos espinhéis horizontais terão de ser substituídos pelos circulares. Nova regra é para reduzir o risco de captura e morte dos animais

Em uma jornada de pesca de até um mês, mais de cem tartarugas são capturadas por engano, segundo o Projeto TamarEm uma jornada de pesca de até um mês, mais de cem tartarugas são capturadas por engano, segundo o Projeto Tamar - Foto: Arthur de Souza

Método mais comum de pesca em alto-mar, o espinhel horizontal com anzóis no formato de letra "J" é, segundo o Projeto Tamar, um dos maiores responsáveis pela captura incidental de tartarugas marinhas. Em Pernambuco, as espécies que mais interagem com esse tipo de pesca predatória são a couro, oliva e cabeçuda. Ocorre que, ao tentarem se alimentar das iscas, elas ficam presas nesses anzóis e são puxadas para dentro da água, morrendo afogadas ou em consequência dos ferimentos causados pelo petrecho.

Essa realidade motivou os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) a determinarem a substituição do anzol "J" pelo circular (ou gancho) nos espinhéis (cordas compridas) usados por embarcações, cujas espécies-alvo são os atuns albacora-branca, albacora-bandolim, albacora-laje e o peixe da espécie espadarte - esses dois últimos são bastante comuns no litoral pernambucano.

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Para se ter uma ideia do quão perigosas são essas armadilhas, em uma única saída (que dura entre 20 dias e um mês em alto-mar) uma embarcação é capaz de capturar por engano mais de 100 tartarugas marinhas. Testes feitos, desde 2004, pelo Programa de Pesca do Projeto Tamar com anzóis circulares apontam que esse tipo de ferramenta diminui em até 65% as chances de uma tartaruga da espécie couro, por exemplo, ser vítima do anzol "J".

"A substituição pelos (anzóis) circulares é uma batalha de dez anos nossa. Divulgamos por todo o Brasil o quanto esse equipamento tem pouco impacto sobre as tartarugas e só em ter virado uma normativa é um grande passo", comemora o coordenador técnico do Programa de Pesca do Projeto Tamar, Bruno Giffoni.

Feitos de metal e sem argola, o anzol circular é chamado assim porque a ponta é curva e virada em direção à haste, formando um círculo. Por ser assim, aumentam-se as chances de as tartarugas marinhas serem liberadas de volta ao mar com vida, além de não terem o céu da boca perfurado. Antes de a nova regra ser publicada no Diário Oficial da União, a medida - que terá validade a partir de 1º de novembro de 2018 - ganhou parecer favorável do subcomitê científico do Comitê Permanente de Gestão de Pesca de Atuns e Afins do Brasil.

"Mesmo que esse tipo (de anzol) não seja atrativo para algumas espécies de atum, trará ganho ecológico, pois salvaguardará a vida de outros animais marinhos. É muito comum capturar outros animais que não são alvos da pescaria, como aves marinhas, agulhões e tubarões", contextualiza o presidente do subcomitê e professor do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE, Paulo Travassos.

Outras regras
O tamanho do anzol circular determinado pelos ministérios deverá ser igual ou superior a 14/0. Além disso, desde o porto de origem até o porto de destino e também nas operações de pesca, as embarcações deverão conter desenganchador de anzol, cortador de linha, cortador de anzol, puçá ou sarico.

No caso de corte de linha, a recomendação é cortá-la o mais próximo possível da base do anzol ou usar a "técnica da voltinha" - quando o pescador utiliza a própria linha secundária, a qual é transpassada pelo anzol em sentido contrário, permitindo tracioná-la para retirada do anzol, preso à tartaruga.

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