Qui, 18 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
FOME

Brasil está entre os oito países mais famintos da América do Sul, aponta Índice Global da Fome

Dados divulgados em outubro mostram que, apesar de avanços do Brasil, a Bolívia permanece como o país mais afetado pela fome na América do Sul

Segundo o relatório, embora a média regional da América Latina permaneça relativamente baixa, o progresso estagnou e as desigualdades persistemSegundo o relatório, embora a média regional da América Latina permaneça relativamente baixa, o progresso estagnou e as desigualdades persistem - Foto: Lyon Santos/MDS

O Brasil está entre os oito países mais famintos da América do Sul, segundo o Índice Global da Fome (GHI) 2025, divulgado em outubro pela Welthungerhilfe e pela Concern Worldwide.

O país ocupa a oitava posição, com 6,4 pontos, na categoria de “fome baixa”, refletindo avanços recentes na segurança alimentar, inclusive com a saída do Mapa da Fome da ONU. A Bolívia lidera o ranking regional, com 14,6 pontos, classificada como de “fome moderada”.

O GHI avalia a situação alimentar mundial com base em quatro indicadores: desnutrição calórica, atraso no crescimento infantil, baixo peso para a altura e mortalidade infantil. A pontuação combina esses fatores, permitindo comparar a gravidade da fome entre países e regiões.

Segundo o relatório, embora a média regional da América Latina permaneça relativamente baixa, o progresso estagnou e as desigualdades persistem.

A realidade boliviana
Na Bolívia, a insegurança alimentar é resultado de múltiplos fatores socioeconômicos, geográficos e ambientais, segundo o World Food Program USA. Comunidades rurais e indígenas são as mais afetadas. O país é vulnerável a eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, que prejudicam a agricultura de subsistência, principal fonte de renda e alimentação para muitas famílias. A desigualdade entre áreas urbanas e rurais, especialmente entre indígenas e mulheres, limita o acesso a alimentos seguros e nutritivos.

Fatores internos, como bloqueios de estradas, e externos, como crises globais de preços, afetam a disponibilidade de alimentos. Além da subnutrição, a Bolívia enfrenta a “dupla carga da má nutrição”, com aumento de sobrepeso e obesidade. Instabilidades políticas e dificuldades de acesso a mercados rurais também agravam a situação.

Embora a Bolívia tenha reduzido sua pontuação desde os anos 2000, quando atingia 27 pontos, o progresso foi margina em relação aos outros países sul-americanos. Na América do Sul, o ranking de 2025 segundo o GHI é o seguinte:

Países como Peru, Colômbia e Brasil superam em muito a Bolívia, enquanto Chile e Uruguai mantêm níveis baixos de fome.

Brasil e o Mapa da Fome
Em uma perspectiva histórica, o Brasil registrava 11,6 pontos no GHI nos anos 2000, caiu para 5,4 em 2016 e, atualmente, apresenta 6,4. Esse avanço no índice está diretamente relacionado à saída do país do Mapa da Fome da ONU após três anos, com a média trienal 2022/2023/2024 abaixo de 2,5% da população em risco de subnutrição — critério que identifica países onde mais de 2,5% das pessoas enfrentam subalimentação grave.

O indicador, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), considera a proporção de pessoas sem acesso regular a alimentos suficientes e saudáveis, levando em conta produção, consumo e distribuição calórica.

O Brasil havia retornado ao Mapa da Fome no triênio 2019-2021, depois de ter saído em 2014. Hoje, a prevalência de subnutrição é inferior a 2,5%, enquanto a insegurança alimentar grave atinge 3,4% da população e a moderada, 13,5%. Embora cerca de 8,4 milhões de brasileiros tenham enfrentado fome recentemente, os números indicam melhora em relação aos anos anteriores.

O avanço é atribuído a políticas públicas de alimentação, programas de transferência de renda e maior cobertura social, além de recuperação econômica e acesso ampliado a alimentos. Ainda assim, desigualdades regionais e vulnerabilidade a mudanças climáticas permanecem como desafios estruturais para a segurança alimentar do país.

Análise global do Índice
O GHI 2025 alerta que, globalmente, a fome entrou em fase de estagnação. Com média de 18,3 pontos, ligeiramente inferior aos 19 de 2016, a meta de Fome Zero da ONU para 2030 não é mais considerada alcançável. Conflitos armados, mudanças climáticas, inflação de alimentos e cortes na ajuda humanitária contribuem para o retrocesso.

Países como Somália (42,6), Sudão do Sul (37,5) e República Democrática do Congo (37,5) registram níveis “alarmantes” ou “extremamente alarmantes”. Em contrapartida, Chile, China, Costa Rica e Uruguai apresentam pontuações abaixo de cinco. O estudo projeta que 56 países não alcançarão níveis baixos de fome até 2030, e a meta global de Fome Zero só seria atingida em 2137 se a tendência atual persistir.

Veja também

Newsletter