Caleidoscópio
Aos que não sabem, a casa informa que caleidoscópio é um instrumento óptico que serve para criar efeitos visuais simétricos com o auxílio de um conjunto de espelhos e vidros coloridos. Tinha objetivos recreativos, estimulantes na criação de peças artísticas e chegaram a dizer que, de alguma forma, auxiliavam no tratamento de pessoas com dislexia, autismo etc. Nada comprovado.
Susa, garoto de 12 anos, do filme de Rusuan Pirveli, junta cacos de vidro e pedaços de espelho para criar caleidoscópios. Terapia na construção e ao ver o resultado da sua obra. A história se passa na Georgia, país da Europa Oriental, do tamanho do estado da Paraíba. Foi a 2ª nação do mundo a adotar o cristianismo. Tem temperatura média (média, repetindo) variando entre 9°C e 19°C. Região importante (fronteira entre a Ásia e a Europa), foi disputada por persas, romanos, árabes, mongóis e turcos. Integrou a antiga União Soviética e, em 1991, declarou a sua independência.
Boa parte do tempo de Susa é dispendida na venda, para bodegas e bares, de vodca feita artesanalmente numa fabriqueta ilegal na qual sua mãe trabalha. Tem que pagar pedágio a dois meliantes, em idades pouco maiores. Alguém pode dizer que “é um filme”, que “é ficção” etc. É e não é. O Susa da Georgia é o Michael ou o Davidson ou o Weslley das cidades do Brasil, que não vendem vodca, mas catam e vendem papelão, vendem doces pró-cáries nos semáforos, comercializam baseados etc.
Outro dia li de um autor turco sobre a ilusão de que nós, humanos, fomos colocados na Terra para o nosso prazer. Não penso diferente e continuo achando - não sei até quando - que somos nós, humanos, que bagunçamos o coreto; na maior parte das vezes, porque há dinheiro na jogada. Vale para tudo: entre “amigos”, irmãos, parentes etc. Gosto de grana e acho que deve ser usada para se fazer o que se deseja, desde que não seja ilegal nem prejudique o próximo.
Preocupo-me com o meu País e mais ainda com a nossa região. A convicção é de que algo está fora de ordem. Outro dia tive que entrar em um condomínio horizontal fechado e para meu espanto, algumas residências estavam com muro de 2m de altura e, além do muro, cerca elétrica na parte superior. É o que se pode chamar de fim da picada ou de fim do mundo - a critério do freguês.
Como brasileiro com descendentes, preocupo-me com o que está aí e com o que está por vir, ainda mais quando observo que, para alguns, a solução para os brasileirinhos está do outro lado do Atlântico. Arrisco-me a dizer que o foco está aqui, na educação: é ela que funcionará como um GPS para as gerações atuais e futuras. O grande problema é que esse equipamento, comparando-o com uma plantação, tem tempos de plantar e de colher; é de ciclo longo, como as tâmaras - cuja colheita não se dá em menos de dez anos. Se não ocorrer essa preparação e plantação, teremos boa chance de dizer, em breve, que o Haiti é aqui. Em compensação, teremos milhões de cacos para montar caleidoscópios. Quem sabe os chineses podem comprar toda a produção?
*Executivo do segmento shopping centers
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