Casas estudantis no Recife têm capacidade para 753 universitários; saiba como ingressar
UFPE e UFRPE mantém casas para estudantes de outras cidades morarem; Governo do Estado mantém uma terceira casa, no Derby
A jornada do estudante universitário apenas começa no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com a implementação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a preocupação com viagem, moradia e distância da casa dos familiares também ganha espaço nas lutas enfrentadas pelos jovens que ingressam no ensino superior, uma vez que o Sisu aumentou a possibilidade de estudo para diversas universidades no Brasil. Para atender a demanda de moradia, os universitários podem contar, no Recife, com as casas do estudante.
No Recife, a Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade Rural de Pernambuco e a Secretaria Estadual de Educação disponibilizam aproximadamente 753 vagas nas sete residências estudantis, localizadas próximas aos campi. A reportagem da Folha de Pernambuco visitou os locais e conversou com estudantes, detalhando os processos seletivos, os auxílios estudantis e a qualidade das casas.
Casa do Estudante da UFRPE
Para ajudar estudantes do Brasil a se manterem no ensino superior, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) oferece programas de auxílios estudantis, como o Restaurante Universitário, os serviços de saúde no Departamento de Qualidade de Vida, as bolsas-auxílio e a estada na casa do estudante, que engloba todos os benefícios oferecidos pela universidade.
Zoroastro de Queiroz, 22 anos, estudante de ciências sociais da Universidade Federal de Pernambuco - Foto: Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco
Aos estudantes que desejam estudar no campus Recife e não possuem moradia fixa na Capital, a UFRPE disponibiliza vagas no complexo formado por três residências estudantis próximas aos locais de aula, no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife.
A casa mista, residência construída mais recentemente pela UFRPE, fica ao lado do Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe), em Dois Irmãos. Abrigando 160 estudantes, a estrutura da casa é formada por corredores femininos e masculinos, cada um com representantes responsáveis por dialogar e enviar demandas para a reitoria da Universidade.
Bastante organizada, a residência possui cozinha, área de serviço, espaços de estudos e convivência. Os quartos são bem iluminados e contam com banheiro interno, dois beliches com estrutura de madeira, armários de ferro e internet. Além disso, é uma das poucas residências que oferece estrutura totalmente acessível, com rampas e quartos para cadeirantes, embora atualmente não haja nenhum na casa.
Josilene Moraes, estudante da Universidade Rural de Pernambuco - Foto: Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco
Segundo a moradora Josilene Moraes, 22 anos, estudante de Ciências Econômicas e natural de Canhotinho, Agreste de Pernambuco, o serviço oferecido pela casa é essencial para a sua permanência na universidade. “Um ponto importante é o acompanhamento psicológico”, conta a estudante, que é atendida pelo Departamento de Qualidade de Vida, órgão responsável por oferecer atendimento de saúde no campus.
Para Gabriela Rego, 22 anos, aluna de Ciências Sociais e natural de Carpina, a moradia estudantil foi o que possibilitou sua continuidade no ensino superior. Após ter passado um bom tempo indo à universidade com o ônibus oferecido pela prefeitura de sua cidade, Gabriela já ficou meses sem ônibus, por causa do calendário diferente na faculdade da capital - assim, ela teve que pagar caro diariamente para ir até a Rural.
Gabriela Rego, estudante da Universidade Rural de Pernambuco - Foto: Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco
Antes de morar na casa, a aluna se submetia sempre aos horários fixos de chegada e saída dos ônibus, muitas vezes ficando dias inteiros na faculdade e pegando transportes superlotados. “A gente já chegou a colocar 130 pessoas dentro de um ônibus”, denuncia Gabriela.
A Universidade Rural informa que busca aumentar o número de vagas nas casas; para isso, está reformando os prédios mais antigos. A casa do estudante feminina, localizada em Dois Irmãos, está em reforma para abrigar 30 alunas. Apesar dos elogios ao serviço, Josilene Moraes vê necessidade de melhorias: “Teria que ter mais divulgação, aumentar a quantidade de vagas e reajustar a bolsa auxílio [atualmente no valor de R$ 410] de forma condizente com a situação econômica”.
Processo de ingresso
A Universidade Federal Rural de Pernambuco, através do Programa de Apoio ao Ingressante, pode disponibilizar até 134 vagas para as casas do estudante, com direito ao auxílio permanência de R$ 410, assistência pedagógica e psicológica, acesso gratuito ao Restaurante Universitário e ao Departamento de Qualidade de Vida através de editais divulgados duas vezes ao ano no site da Pró-reitoria de Gestão Estudantil e Inclusão.
O processo seletivo abre a cada semestre, sendo lançado normalmente entre os meses de fevereiro e março e julho e agosto. Visando a auxiliar estudantes em situação de vulnerabilidade, o critério de seleção leva em conta o local de origem mas, principalmente, as condições socioeconômicas. De acordo com Ana Paula Neri, coordenadora das casas, há atualmente estudantes até de outros estados, como Bahia, Minas Gerais e São Paulo.
Entre os programas ofertados aos moradores das casas, há também projetos de lazer e o Projeto de Assistência De Volta ao Lar, que duas vezes ao ano oferece recursos acadêmicos para todos os estudantes que desejam visitar a família.
Casa do Estudante da UFPE
Estruturada com três casas, a Universidade Federal de Pernambuco fornece aos estudantes uma moradia masculina e uma moradia mista dentro do campus, na Cidade Universitária, além de uma casa feminina próxima à Universidade, no bairro do Engenho do Meio. A equipe da Folha visitou a casa mista localizada dentro do campus, próxima ao Centro de Educação Física e à BR-101.
Casa do Estudante Mista na Universidade Federal de Pernambuco - Foto: Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco
Apesar da dificuldade de acesso ao espaço, que conta com pouca iluminação e opções de transporte público, os prédios de três andares são novos, bem estruturados, com grandes áreas de convivência, cozinha, área de serviço, espaço para lazer e estudo.
Atualmente, o prédio abriga 131 alunos em quartos mistos- cada cômodo possui dois beliches de estrutura de concreto, banheiro interno, armários e internet. Não há ventiladores nos quartos, mas há muitas tomadas e cada estudante se responsabiliza por seus ventiladores. Além disso, o espaço oferece um quarto no térreo, destinado a cadeirante, que não tem como subir as escadas do edifício, e um quarto para abrigar alunos visitantes - ou seja, aqueles que ainda não foram realocados para alguma casa e não têm condições de arcar com um aluguel.
Estudante do décimo período de enfermagem, Liliana Gomes, 22 anos, foi uma das primeiras a chegar à casa. Ingressante pelo primeiro edital em 2014.2, Liliana chegou ao local em 2015, seis meses depois de ter iniciado as aulas. Antes de ingressar na casa, ela morou em um apartamento alugado e pensou em desistir da faculdade, porque as contas estavam pesadas demais para os pais dela - um motorista e uma dona de casa, moradores de Palmares, na Mata Sul de Pernambuco..
“Eu vim pro Recife, mas meu pai não tinha condições; então ele tirou um empréstimo no banco e ficou me mantendo aqui. Por mim, eu não viria para cá [a casa], mas, quando eu vi que a situação estava insustentável, eu resolvi vir, independente das histórias ruins que eu ouvia sobre casas do estudante, como coisas sobre bagunça e drogas, mas cheguei sem conhecer ninguém e acabei mudando de ideia”, relata.
Segundo Liliana, a organização da casa (que conta com uma diretoria formada por sete estudantes e diálogo com a Pró-reitoria para Assuntos Estudantis) - e a união com suas colegas de quarto a fizeram aguentar com mais facilidade a distância de casa e da família. Destaque também para a falta de privacidade nos quartos - são quatro alunos por cômodo - e as dificuldades de universitária.
“Se não fosse o programa de assistência estudantil, eu não estaria na universidade, mas o programa ainda precisa de mudanças, há alguns pontos estruturais que deixam a desejar”, comenta Liliana, apontando falta de equipamentos, como ar condicionado, e pouco número de vagas para atender os alunos ingressantes na UFPE.
Processo de ingresso
A Universidade Federal de Pernambuco, por meio da Pró-reitoria para Assuntos Estudantis (Proaes), pode disponibilizar até 404 vagas nas casas do estudante, acesso gratuito ao Restaurante Universitário, apoio psicológico e um auxílio estudantil de R$ 500 para os estudantes da universidade sem residência no Recife.
As vagas são preenchidas através de editais que abrem duas vezes ao ano, no início dos dois semestres acadêmicos. A seleção é feita na plataforma online da UFPE - o SIG@ - e os critérios para a admissão são a comprovação de necessidade socioeconômica por meio de documentos solicitados pela Proaes. O edital para o ano de 2019.1 foi liberado no último dia 18 no site da Proaes com inscrições até o dia 15 de março.
Após a apresentação dos documentos, os universitários passam ainda por etapas eliminatórias de reuniões de convivência com antigos moradores da casa do estudante e visitas da assistência social da UFPE nas suas moradias de origem. Se classificados, o estudantes podem permanecer nas casas durante todo o tempo regular da graduação.
O processo, que pode ser demorado, não é a única forma de apoio que a Universidade oferece aos estudantes. Por não conseguir abrigar todos, alunos que possuem dificuldades para se manter na capital podem solicitar auxílio na Pró-reitoria para Assuntos Estudantis, localizada ao lado da Reitoria da UFPE.
Casa do Estudante de Pernambuco
Outra opção para estudantes é buscar a Casa do Estudante de Pernambuco. Organizada pela Secretaria de Educação do Estado, a casa, localizada no bairro do Derby, é o mais antigo dos edifícios de abrigo de alunos no Recife e conta com uma área bem estruturada, com quadra de esportes, refeitório e salas de estudos. Os serviços oferecidos vão além da moradia, contando com a possibilidade de residir na casa ou apenas ser sócio, frequentando os espaços de lazer, esportes e almoçar no local.
Mais abrangente do que as outras residências universitárias, a Casa do Estudante de Pernambuco recebe qualquer aluno com comprovante de matrícula em alguma entidade de ensino no Recife a partir de Ensino Médio - contando com faculdades particulares, públicas e até mesmo cursos preparatórios para o Enem. Atualmente, o local tem 120 moradores e 280 sócios, mas já abrigou 600 alunos.
Para receberam auxílio, os estudantes precisam aguardar a liberação do edital, que normalmente ocorre no final do ano, comprovar a conclusão do Ensino Médio ou Ensino Fundamental em alguma escola fora de Recife e se submeterem a uma prova. A reportagem procurou a assessoria da Casa do Estudante de Pernambuco para mais informações, mas não obteve respostas - a assessoria alegou que o edital ainda não tinha data de publicação.
"Uma casa acolhedora"- depoimento de uma moradora
Maria Eduarda Rocha, estudante de Odontologia da UFPE - Foto: Reprodução / Facebook
"Meu nome é Maria Eduarda e tenho 21 anos, curso Odontologia na UFPE. Eu ingressei na UFPE em 2017 e, depois de alguns dias de aula, eu descobri com outros amigos que existia as moradias da UFPE e os auxílios estudantis. Os meus amigos enfrentavam os mesmos problemas que eu no deslocamento do Interior para a universidade, custeio de gastos com alimentação e os atrasos constantes nas aulas por falta de transporte no horário correto do início das aulas. Passamos por todo um processo de documentação e entrevistas para comprovar que realmente merecíamos as vagas.
Fico na casa feminina, e, quanto a ela, encontramos defeitos que existem em todos os lugares, até em nossas próprias moradias, porém é uma casa acolhedora, organizada, as meninas são organizadas (as residentes); é um grupo forte que se ajuda e se compadece do próximo.
Tem uma diretoria forte, que se desdobra junto com os órgãos superiores para manter a casa em ordem e o mais aconchegante possível, com regras para facilitar a convivência e o respeito ao próximo e isso faz com que nossas famílias se sintam mais seguras em relação a toda essa mudança de cidade, moradia, pessoas, culturas e desafios.
Ressalto aqui a importância de nós, alunos, de sermos abraçados pela Universidade, para que assim consigamos concluir os nossos cursos. Sem essas políticas públicas educacionais, sem esse apoio para conosco, não teria como concluir sequer um semestre, por isso, devemos sempre lutar, dialogar e buscar melhorias.
E concluo dizendo que, apesar das dificuldades que encontraremos no caminho, um futuro brilhante nos espera. Então, vale a pena cada pedacinho de luta, que um dia se transformará em conquistas."



