Sáb, 06 de Dezembro

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RIO DE JANEIRO

Chefe do tráfico ordenou criação de app que virou fonte de renda do CV e seria ampliado para Rocinha

Outras comunidades da Zona Oeste também receberiam a plataforma, dessa vez com apoio da ADA; aplicativo funcionou por três meses

Aplicativo funcionou por cerca de três meses e está desativado há um mêsAplicativo funcionou por cerca de três meses e está desativado há um mês - Foto: TV Globo/Reprodução

Um aplicativo criado para controlar o transporte alternativo em áreas dominadas pelo tráfico e gerar receita para a facção Comando Vermelho (CV) foi autorizado pelo traficante Jorge Alexandre Cândido Maria, o Sombra, e tinha planos de expansão para comunidades da Zona Oeste e até para a Rocinha, na Zona Sul do Rio, com apoio do grupo rival Amigos dos Amigos (ADA).

Ao todo, segundo a polícia, cerca de 300 mototaxistas se cadastraram no app, após sofrerem coação.

Segundo a Polícia Civil, o aplicativo funcionou por cerca de três meses e está desativado há um mês. A descoberta fez parte da operação Rota das Sombras, deflagrada nesta sexta-feira e que visava a cumprir sete mandados de prisão e 12 de busca e apreensão.

Quatro pessoas foram presas, entre elas empresários. Durante as ações, foram apreendidos cerca de R$ 300 mil, joias e carros de luxo, como uma BMW que estava com um casal detido em Jacarepaguá.

De acordo com as investigações, o esquema tinha como alvo principal mototaxistas, que eram ameaçados para instalar e utilizar exclusivamente o aplicativo.

Assim que uma corrida era aceita, entre 20% e 30% do valor pago pelo passageiro ia direto para a chamada caixinha do tráfico. Além disso, os mototaxistas tinham que pagar de uma taxa mensal obrigatória.

O delegado Alexandre Netto, titular da 34ª DP, explicou que o sistema tinha um núcleo financeiro estruturado, com pagamentos via Pix e empresas de fachada — entre elas, um mercado em São Gonçalo, na Região Metropolitana, ligado a grupos relacionados com o CV:

"Num primeiro momento, recebemos informações de que um grupo criminoso estava implementando um aplicativo na região e impedindo que outros também atuassem. Esse aplicativo funcionaria com a função de captar recursos para esse grupo criminoso. A partir de coações e ameaças, esses mototaxistas eram obrigados a instalar o aplicativo e, no momento em que a corrida era aceita, parte dos valores eram repassados diretamente a esse grupo criminoso".

As denúncias iniciais partiram de moradores e mototaxistas insatisfeitos com a imposição do sistema. A partir dessas informações, os investigadores identificaram os proprietários e sócios das empresas envolvidas, inclusive empresários que financiaram o desenvolvimento do aplicativo para a facção.

"No momento em que um empresário aceita uma proposta de uma organização criminosa para realizar qualquer atividade ilícita, na minha opinião, ele é um traficante. Está associado ao tráfico, independentemente da qualificação técnica ou não", afirmou Netto, ao comentar a participação de desenvolvedores e patrocinadores do sistema.

O delegado disse, ainda, que o aplicativo já foi banido das plataformas do Google e da Apple. Segundo o delegado, a escolha do nome da operação reflete não apenas o caráter financeiro, mas também a função de controle territorial do aplicativo:

"O nome da operação é Rota das Sombras, porque não é só uma questão financeira, mas um controle da mobilidade urbana naquela região. É ter um controle de quem pode entrar e de quem pode sair. E para onde vão"

Os suspeitos vão responder por financiamento do tráfico, associação criminosa, extorsão e, em um desdobramento da apuração, também por lavagem de dinheiro.

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