Seg, 08 de Dezembro

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SOJA

China deixa de comprar soja dos EUA em setembro pela 1ª vez desde 2018

Mês costuma marcar o início dos embarques americanos do grão para Pequim, mas o país asiático buscou outros fornecedores, incluindo o Brasil, em meio à guerra comercial

Um trabalhador despeja soja importada do Brasil em uma empresa de processamento em Binzhou, na província de Shandong, leste da ChinaUm trabalhador despeja soja importada do Brasil em uma empresa de processamento em Binzhou, na província de Shandong, leste da China - Foto: Getty Images via AFP

Pela primeira vez desde 2018, a China deixou de importar soja dos Estados Unidos em um mês de setembro. No mês passado, não houve um registro sequer de compras do grão cultivado em terras americanas, reflexo do tarifaço de Donald Trump, que fez o país asiático revidar e elevar a tarifa sobre a soja importada dos EUA.

Em paralelo, a venda de soja de nações da América do Sul disparou em relação ao ano anterior, à medida que os importadores chineses buscaram novos mercados para compensar a alta da tarifa sobre o grão.

Dados da Administração Geral de Alfândegas da China divulgados nesta segunda-feira apontam que as importações de soja do mês passado vindas dos EUA para a China caíram a zero, ante 1,7 milhão de toneladas no ano anterior.

A colheita nos EUA geralmente começa em setembro, o que marca a transição de uma temporada de exportação para outra. Isso quer dizer que agosto é um mês crucial, quando são feitas as encomendas chinesas de soja de produtores americanos.

O início da colheita em setembro é geralmente quando a China faz uma série de pedidos às fazendas de Illinois, Iowa, Minnesota e Indiana. Antes disso, as importações chinesas se concentram no Brasil, já que na América do Sul a safra ocorre entre abril e maio.

As indústrias chinesas que processam o grão em ração animal costumam fazer reservas antecipadas em agosto para aproveitar os preços mais baixos e garantir o abastecimento nas primeiras semanas ou meses do chamado ano-safra.

Mas não é o que foi visto neste ano. Os embarques do grão americano caíram devido às altas tarifas que a China impôs em março sobre as importações dos EUA e porque os estoques americanos colhidos anteriormente já foram comercializados.

As importações de soja da China atingiram 12,87 milhões de toneladas em setembro, o segundo maior nível já registrado, segundo aponta reportagem da Reuters.

No mês passado, as cargas procedentes do Brasil aumentaram 29,9% em relação ao ano anterior, totalizando 10,96 milhões de toneladas, representando 85,2% do total das importações chinesas do produto, mostraram dados da alfândega citados pela agência de notícias. Já os embarques da Argentina subiram 91,5%, para 1,17 milhão de toneladas, ou 9% do total.

A China é o maior importador de soja do mundo. Os EUA são, historicamente, o segundo maior fornecedor de soja para a China, atrás apenas do Brasil.

Sem um avanço nas negociações comerciais entre EUA e China, os agricultores americanos afirmam que o impasse os deixa à beira de um precipício financeiro, pois podem enfrentar perdas de bilhões, enquanto os processadores chineses continuam adquirindo soja da América do Sul.

De acordo com a Reuters, Pequim pode enfrentar uma possível escassez de oferta no início do próximo ano, antes que as novas safras do Brasil cheguem ao mercado.

Em entrevista à Reuters, Johny Xiang, fundador da AdRadar Consulting, com sede em Pequim, alerta que uma lacuna no fornecimento de soja pode surgir na China entre fevereiro e abril do próximo ano se não houver um acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo. Ele lembra que o Brasil já enviou um volume enorme de soja, e ninguém sabe quanto estoque de safra antiga ainda resta.

Para Pequim, interromper as importações de soja dos EUA tem sido uma maneira fácil e relativamente barata de pressionar Trump antes de uma reunião planejada com o líder chinês Xi Jinping na Coreia do Sul ainda este mês.

Em agosto, o presidente americano disse que a China deveria duplicar a compra de soja dos EUA. Já na noite de domingo, falando com repórteres no Air Force One, Trump disse que queria que a China retornasse ao seu nível anterior de compras e que acreditava que Pequim estava pronta para fechar um acordo sobre soja.

Na semana passada, Trump foi às redes sociais para chamar a decisão da China de não comprar soja dos EUA de “ato economicamente hostil” e disse que os EUA estavam considerando “encerrar” a compra de óleo de cozinha da China como retaliação.

Mas, diz o The Wall Wtreet Journal, Pequim ignorou as ameaças de Trump. Segundo analistas, os chineses estão prontos para estender a paralisação das compras pelo restante do ano.

Exportações de terras-raras
De um lado a China deixou de importar soja dos EUA e, de outro, está controlado as exportações de ímãs de terras-raras. As vendas para o exterior caíram caíram 6,1% em setembro em relação a agosto, segundo dados da alfândega divulgados nesta segunda-feira.

A queda das remessas de ímãs de terras-raras reacende os temores de que o maior fornecedor do mundo possa usar seu domínio sobre um componente essencial para empresas de defesa dos EUA e fabricantes de produtos que vão de carros a smartphones como moeda de negociação nas conversas comerciais entre as duas maiores economias do mundo.

“As fortes oscilações nas exportações de ímãs de terras raras mostram que a China sabe que possui uma carta-chave nas negociações comerciais internacionais”, disse Chim Lee, analista sênior da Economist Intelligence Unit, em entrevista à Reuters.

“As fortes oscilações nas exportações de ímãs de terras raras mostram que a China sabe que possui uma carta-chave nas negociações comerciais internacionais”, disse Chim Lee, analista sênior da Economist Intelligence Unit.

Em abril e maio, Pequim pressionou montadoras globais com restrições às exportações de diversos itens de terras-raras e ímãs relacionados, enquanto os negociadores se confrontavam sobre tarifas americanas de três dígitos sobre produtos da segunda maior economia do mundo.

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