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Cirurgias de fimose aumentam mais de 80% em meninos de 10 a 19 anos no Brasil; entenda o motivo

Levantamento de 10 anos trouxe preocupação a especialistas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)

Antônio César Cruz, Urologista do Hospital Santa Joana Recife, da Rede Américas, utilizando o robô Da Vinci  XAntônio César Cruz, Urologista do Hospital Santa Joana Recife, da Rede Américas, utilizando o robô Da Vinci X - Foto: Carlos Melo

Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Ministério da Saúde dos últimos 10 anos mostra um aumento de 81,58% no número de internações cirúrgicas devido a fimose, parafimose e prepúcio redundante na faixa etária de 10 a 19 anos.

De 2015 a 2024 foram registradas no total 130.764 internações. No mesmo período, a faixa etária de 10 a 14 anos teve um aumento de internações de 87,7% e a de 15 a 19 anos, de 70%.

Os números acenderam um alerta, de acordo com os especialistas da SBU. Pois isso indica que os adolescentes estão recebendo o diagnóstico de fimose tardiamente, e, por isso, precisam passar por cirurgia com uma recuperação mais complexa.

A fimose deve ser diagnosticada e tratada na infância, não postergando para a adolescência, pois evitaria complicações inerentes à puberdade e traria uma recuperação mais tranquila”, explica Roni de Carvalho Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da SBU.

Além disso, dados de 2022 do Ministério também apontam que a ida das meninas de 12 a 18 anos ao ginecologista é 18 vezes mais frequente do que a ida dos meninos ao urologista.

“A recomendação é que o diagnóstico da fimose e a cirurgia, quando necessária, sejam realizados ainda na infância, entre 3 e 9 anos, pois na adolescência o procedimento pode gerar mais repercussões, como recuperação mais demorada, deiscência de pontos e desconforto na ereção espontânea. Na infância, ainda não há ação da testosterona, que dá origem à ereção, a qual pode ser um complicador no pós-operatório”, explica Daniel Suslik Zylbersztejn, diretor do Departamento de Urologia do Adolescente da SBU.

A fimose se trata de um excesso de pele que recobre o pênis, dificultando que a glande (cabeça do pênis) seja exposta. Ela pode ser fisiológica, quando ocorre desde o nascimento ou secundária, quando causada por infecções, inflamações ou traumas no prepúcio que podem acontecer ao longo da vida.

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Por dificultar a higienização do pênis, quando não tratada, ela facilita o aparecimento de infecções urinárias, balanite (inflamação da glande) e balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio), também pode levar à dificuldade nas relações sexuais e ereções e maior facilidade de contrair doenças sexualmente transmissíveis.

Enquanto a parafimose é uma urgência urológica que ocorre quando o prepúcio (pele retrátil que cobre a glande), após ser retraído, não consegue retornar à posição normal e estrangula o pênis. Em casos graves, leva à necrose da glande. Já o prepúcio redundante tem como característica o excesso de pele sobre a cabeça do pênis, mas que não impede a retração completa para expor a glande, como ocorre na fimose.

“Esses números revelam muito mais do que estatísticas: representam meninos e famílias que poderiam ter evitado complicações com informação adequada e acompanhamento médico no tempo certo”, ressalta a urologista Karin Jaeger Anzolch, diretora de comunicação e coordenadora das campanhas de awareness da SBU.

Tratamento
O diagnóstico é feito de forma manual. Depois de detectada, ela pode ser tratada de diferentes formas, a depender do caso. O tratamento pode incluir pomadas à base de corticoides ou exercício de retração da fimose para meninos com mais de 5 anos.

A cirurgia é indicada quando as outras soluções não surtem mais efeito, segundo o Ministério da Saúde. O procedimento pode remover completamente a camada de pele que recobre a glande do prepúcio ou com pequenos cortes na pele para permitir que a glande retorne ao seu lugar.

“A cirurgia da fimose, também conhecida como postectomia, pode ser realizada em ambiente ambulatorial, sob sedação ou até mesmo apenas com anestesia local. O procedimento costuma durar cerca de 60 minutos e, após o término da cirurgia, o adolescente já está liberado para ir para casa com o uso de analgésicos simples e com repouso por 2-3 dias. A cicatrização completa costuma demorar cerca de 21 a 30 dias. Essa cirurgia traz benefícios permanentes, melhora a higiene genital, reduzindo os riscos de ISTs e do câncer de pênis na vida adulta”, orienta Zylbersztejn.

O levantamento faz parte da 8ª edição da campanha #VemProUro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que incentiva a ida do adolescente ao urologista.

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