Cirurgias de fimose aumentam mais de 80% em meninos de 10 a 19 anos no Brasil; entenda o motivo
Levantamento de 10 anos trouxe preocupação a especialistas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)
Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Ministério da Saúde dos últimos 10 anos mostra um aumento de 81,58% no número de internações cirúrgicas devido a fimose, parafimose e prepúcio redundante na faixa etária de 10 a 19 anos.
De 2015 a 2024 foram registradas no total 130.764 internações. No mesmo período, a faixa etária de 10 a 14 anos teve um aumento de internações de 87,7% e a de 15 a 19 anos, de 70%.
Os números acenderam um alerta, de acordo com os especialistas da SBU. Pois isso indica que os adolescentes estão recebendo o diagnóstico de fimose tardiamente, e, por isso, precisam passar por cirurgia com uma recuperação mais complexa.
A fimose deve ser diagnosticada e tratada na infância, não postergando para a adolescência, pois evitaria complicações inerentes à puberdade e traria uma recuperação mais tranquila”, explica Roni de Carvalho Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da SBU.
Além disso, dados de 2022 do Ministério também apontam que a ida das meninas de 12 a 18 anos ao ginecologista é 18 vezes mais frequente do que a ida dos meninos ao urologista.
“A recomendação é que o diagnóstico da fimose e a cirurgia, quando necessária, sejam realizados ainda na infância, entre 3 e 9 anos, pois na adolescência o procedimento pode gerar mais repercussões, como recuperação mais demorada, deiscência de pontos e desconforto na ereção espontânea. Na infância, ainda não há ação da testosterona, que dá origem à ereção, a qual pode ser um complicador no pós-operatório”, explica Daniel Suslik Zylbersztejn, diretor do Departamento de Urologia do Adolescente da SBU.
A fimose se trata de um excesso de pele que recobre o pênis, dificultando que a glande (cabeça do pênis) seja exposta. Ela pode ser fisiológica, quando ocorre desde o nascimento ou secundária, quando causada por infecções, inflamações ou traumas no prepúcio que podem acontecer ao longo da vida.
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Por dificultar a higienização do pênis, quando não tratada, ela facilita o aparecimento de infecções urinárias, balanite (inflamação da glande) e balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio), também pode levar à dificuldade nas relações sexuais e ereções e maior facilidade de contrair doenças sexualmente transmissíveis.Enquanto a parafimose é uma urgência urológica que ocorre quando o prepúcio (pele retrátil que cobre a glande), após ser retraído, não consegue retornar à posição normal e estrangula o pênis. Em casos graves, leva à necrose da glande. Já o prepúcio redundante tem como característica o excesso de pele sobre a cabeça do pênis, mas que não impede a retração completa para expor a glande, como ocorre na fimose.
“Esses números revelam muito mais do que estatísticas: representam meninos e famílias que poderiam ter evitado complicações com informação adequada e acompanhamento médico no tempo certo”, ressalta a urologista Karin Jaeger Anzolch, diretora de comunicação e coordenadora das campanhas de awareness da SBU.
Tratamento
O diagnóstico é feito de forma manual. Depois de detectada, ela pode ser tratada de diferentes formas, a depender do caso. O tratamento pode incluir pomadas à base de corticoides ou exercício de retração da fimose para meninos com mais de 5 anos.
A cirurgia é indicada quando as outras soluções não surtem mais efeito, segundo o Ministério da Saúde. O procedimento pode remover completamente a camada de pele que recobre a glande do prepúcio ou com pequenos cortes na pele para permitir que a glande retorne ao seu lugar.
“A cirurgia da fimose, também conhecida como postectomia, pode ser realizada em ambiente ambulatorial, sob sedação ou até mesmo apenas com anestesia local. O procedimento costuma durar cerca de 60 minutos e, após o término da cirurgia, o adolescente já está liberado para ir para casa com o uso de analgésicos simples e com repouso por 2-3 dias. A cicatrização completa costuma demorar cerca de 21 a 30 dias. Essa cirurgia traz benefícios permanentes, melhora a higiene genital, reduzindo os riscos de ISTs e do câncer de pênis na vida adulta”, orienta Zylbersztejn.
O levantamento faz parte da 8ª edição da campanha #VemProUro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que incentiva a ida do adolescente ao urologista.

