Colômbia, Panamá e Costa Rica alertam sobre abusos na crescente migração norte-sul
No acumulado do ano, as restrições de trânsito na selva do Darién, e as mudanças promovidas pelo governo de Donald Trump reduziram em 97% o fluxo de migrantes de sul a norte
As defensorias de direitos humanos da Colômbia, Costa Rica e Panamá denunciaram graves abusos contra o número crescente de migrantes que retornam ao sul do continente devido ao endurecimento da política migratória dos Estados Unidos, segundo um relatório apresentado nesta sexta-feira (29) em Bogotá.
No acumulado do ano, as restrições de trânsito na selva do Darién, que separa a América do Sul da América Central, e as mudanças promovidas pelo governo de Donald Trump reduziram em 97% o fluxo de migrantes de sul a norte, provocando uma onda de pessoas que regressam a seus países com menos dinheiro e mais dificuldades.
Entre janeiro e agosto, mais de 14 mil pessoas retornaram do México e dos Estados Unidos, "um aumento significativo da migração inversa do norte para o sul", de acordo com o relatório elaborado com apoio do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).
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"Os testemunhos obtidos refletiram uma multiplicidade de situações de violência enfrentadas por essa população, com especial ênfase em abusos físicos, extorsões, detenções arbitrárias e violência sexual, particularmente durante sua passagem por Guatemala e México", indica o relatório.
Mais de 86% dos retornados, em sua grande maioria venezuelanos, relataram abusos na perigosa selva do Darién, entre Colômbia e Panamá.
"Persistem dificuldades" devido "à ausência de abrigos", à discriminação e às "limitações" no atendimento em saúde mental e sexual, afirmou a defensora do povo da Colômbia, Iris Marín, durante a apresentação do relatório.
Além disso, a presença de grupos armados "aumentou o risco de recrutamento forçado, exploração sexual e violência contra migrantes", acrescenta o documento.
As defensorias também denunciam "casos de mulheres vítimas de exploração laboral, sexual e de xenofobia".
Redes de tráfico de pessoas controlam os caminhos de retorno e oferecem traslados da Costa Rica até o Panamá ou a Colômbia por cerca de 260 dólares (R$ 1.410).
"Uma alta porcentagem das pessoas em migração inversa fica retida por longos períodos" enquanto tenta reunir dinheiro, afirma o documento. Isso "aumenta sua exposição a situações de exploração e abuso".
Os cortes de recursos para organizações humanitárias internacionais promovidos por Trump reduzem a ajuda aos migrantes, segundo o relatório.
O maior fluxo no Darién foi registrado em 2023, quando 520 mil pessoas se aventuraram pela rota.

