Desapegar é preciso para seguir novos padrões de comportamento
O processo de desapego libera bloqueios psicológicos e muda padrões
“Todas as nossas misérias e sofrimentos não são nada mais do que apego.” A frase é de Osho, controverso líder espiritual indiano que ficou conhecido, no século 20, por disseminar o desapego no Ocidente. Para especialistas em saúde mental, desapegar é indispensável para mudar comportamentos enraizados e amadurecer. A experiência também pode ser aplicada aos hábitos de consumo.
Para o psiquiatra Sigmund Freud, criador da psicanálise, o sujeito é produto das suas experiências e história de vida. “A relação que cada um vai ter com objetos e sua forma de consumo surge a partir da sua história. Vejo uma questão importante do ponto de vista que desapegar é perder. Há sempre uma carência de afeto, onde os objetos surgem para suprir esse buraco interno. Outra questão é se esse desapego integra um circuito para eu consumir mais. Nós vivemos numa sociedade capitalista, onde o consumo é, naturalmente, muito forte.
Coisas são coisas
“A experiência de se desprender nos permite entender que as coisas são coisas e não precisamos nos encher delas. Seja do ponto de vista físico ou psíquico”, aponta a psicanalista Andréa Rapela.
Na terapia, cada um é convidado a visitar o passado para poder se libertar de travas que podem se converter em compulsões por compras, bebidas e jogos. “As experiências traumáticas fazem com que o sujeito se fixe a determinadas questões. A análise ajuda o sujeito a não repetir o que não quer mais na vida, o que tem vontade de mudar e não consegue. Não é apagar o passado, mas não ficar preso a ele”, reflete Rapela, ao lembrar que o problema não está em ter, mas no depender.
Aos 15 anos, o estudante Ismael Rodrigues encontrou no desapego proposto pela vida franciscana um caminho possível ao seu ideal de mudar o mundo. Hoje, aos 19, ele conta gostar de moda, mas guarda numa caixa as peças de roupa que mantém no Instituto dos Pobres de Jesus Cristo, no bairro da Boa Vista, área central do Recife.
“Se prender às coisas materiais é uma forma de se perder. Não é que eu não consuma, mas que não sou dependente delas. Quando nos atemos ao que realmente importa, como as relações, ganhamos muito mais”, afirma.
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Na “casa do desapego”, como Ismael chama o Instituto, ele recebe doações de roupas de colaboradores e paróquias vizinhas. As peças são divididas entre as que irão para o bazar, que ajudam no orçamento do lar, e as que serão doadas para moradores de rua. “As camisas de manga curta e os shorts são doados para eles, pois são mais frescos. As peças brancas nunca são”, destaca.
Aos 54 anos, Jane Cabral comanda o Brechop Bazar, na Boa Vista. O lugar tem aproximadamente 30 mil peças entre R$ 5 e R$ 25. Ali, as roupas deixam de ser objeto de acúmulo, muitas vezes até atreladas a histórias inusitadas e encontram novo uso - como quando uma mulher deixou uma caixa com as roupas do ex-marido.
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“Não adianta manter no guarda-roupa peças que não servem. Tem estudantes de Direito que não têm condição de comprar um blazer por R$ 300 e aqui encontram por R$ 20 ou R$ 15. Foi através do desapego de alguém que outra pessoa pôde se vestir. É quase uma ação social, como se fosse uma troca”, conta a empreendedora.
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