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Desmatamento

Desmatamento pode cortar Xingu em dois, aponta relatório de ONG

"Esse é o pior de nossos pesadelos", afirma Biviany Rojas, coordenadora do programa Xingu

Bacia do XinguBacia do Xingu - Foto: FUNAI

O Xingu corre o risco de ser cortado em dois pelo desmatamento na região, segundo monitoramento realizado ao longo de três anos pelo Sirad X, sistema de detecção de desmate da Rede Xingu +, do ISA (Instituto Socialambiental)
O acompanhamento em questão teve início pouco antes da ascensão de Jair Bolsonaro (sem partido) à presidência. Sob Bolsonaro, o Brasil vê a explosão do desmatamento em todo o país, com os maiores níveis de destruição de florestas em mais de dez anos.

A análise da Rede Xingu +, que usa dados do satélite de radar Sentinel-1 da ESA (Agência Espacial Europeia), mostra que, de 2018 a 2020, houve o desmatamento de 513,5 mil hectares de floresta na bacia do Xingu. A área desmatada equivale a cerca de cinco vezes o município de Belém, no Pará.

"Esse é o pior de nossos pesadelos", afirma Biviany Rojas, coordenadora do programa Xingu, da ONG ISA, sobre o desmatamento possivelmente atravessar a região de lado a lado.

Uma das frentes de desmatamento que pode causar esse corte vem das ações de derrubada de floresta a partir da BR-163. A outra parte da APA (Área de Proteção Ambiental) Triunfo do Xingu, localizada nos municípios de Altamira e São Félix do Xingu, ambos no Pará, duas das cidades com maiores níveis de desmate do país.


São Félix tem o maior rebanho bovino do país e, por isso e pelo desmate no município, é líder de emissões de gases-estufa, segundo dados do Seeg Municípios (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), iniciativa do Observatório do Clima, rede com mais de 50 ONGs.

 



A APA Triunfo do Xingu é uma unidade de conservação que permite uso sustentável. Ela, porém, é a que possui maior desmatamento na bacia do Xingu e há mais de uma década é a área protegida mais devastada do Brasil, aponta a análise do Sirad X.


Segundo o documento, mais de 40% da área dessa unidade de conservação já foi convertida e a pecuária é a principal atividade de pressão de desmatamento na área.


De acordo com Ricardo Abad, analista de geoprocessamento do Isa, nas áreas protegidas da região é possível observar o desmatamento seguindo áreas de CAR (Cadastro Ambiental Rural), registro que todo proprietário de terras no país deve fazer.


Na Floresta Estadual do Iriri, a análise aponta que atualmente há 201 imóveis rurais cadastrados que ocupam cerca de 90% da floresta. Em 2012, eram 39 propriedades registradas. Segundo o documento de análise do Sirad, os registros nessa área de proteção apontam para uma ocupação irregular de terras públicas, ou seja, grilagem.

A quebra desse corredor ecológico do Xingu traz preocupações ambientais quanto à perdas de biodiversidade, além da ampliação de desmatamento. "É um corredor que liga a parte da floresta densa no Pará com uma região de transição nas cabeceiras do Xingu", diz Abad.


Também preocupa a questão sociocultural, considerando as terras indígenas da região, sob intensa pressão de desmatamento.
Um exemplo citado pelo relatório é a TI (Terra Indígena) Trincheira Bacajá, do povo xikrin, que só em 2019 perdeu 5.600 hectares de mata, o maior desmatamento desde a sua homologação.

As lideranças xikrin também foram ameaçadas de morte nesse ano. Já no fim de 2020, um grupo de invasores da Terra Indígena Apyterewa, vizinha da Trincheira Bacajá, cercou uma base de monitoramento usada pelo Ibama, Funai e Força Nacional, hostilizou uma equipe de fiscalização e incendiou uma ponte de madeira que dá acesso à terra indígena.

Desde o início do governo Bolsonaro, ganhou força o mercado ilegal de lotes dentro das terras indígenas que fazem parte da bacia do Xingu, a partir da expectativa de uma possível regularização posterior das ocupações.

O presidente Bolsonaro tem constantemente incentivado atividades, como mineração, dentro de terras indígenas. O relatório do monitoramento Sirad aponta uma estrada que cresceu, recentemente, cerca de 40 km para dentro da Trincheira Bacajá. Segundo o documento, existem pelo menos três frentes de invasão nesse território, "cada vez mais próximas das aldeias".

 

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