Dia dos Avós: os desafios e vivências de chegar cedo nesta fase da vida
Geralmente relacionados a pessoas idosas, alguns assumem o papel de avós de forma precoce
Celebrado no Brasil neste sábado, 26 de julho, o Dia dos Avós é uma data importante para lembrar de pessoas que, em muitos casos, representam os pilares das famílias.
A data foi demarcada para homenagear São Joaquim e Sant’Ana, avô e avó de Jesus, respectivamente.
De uma maneira geral, a figura dos avós está relacionada com idosos, de cabelos brancos, mas é comum pessoas assumirem esse papel mais jovens.
A Folha de Pernambuco foi atrás de quem se tornou “voinho” e “voinha” ainda cedo para abordar os desafios desta experiência.
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A dona de casa Miriam Rosa tem 57 anos, já é bisavó e se tornou avó aos 32 anos de idade. Primeiro, ela engravidou aos 16 anos da sua primeira filha, Marcelle Rosa, a qual teve Millyane Ágatha também aos 16 anos.
Ao lembrar da primeira gravidez, Miriam destaca que teve o apoio da família, uma vez que ela e seu atual marido eram menores de idade.
Por isso, a dona de casa se prontificou a ajudar sua filha que passou pela mesma situação.
"Quando recebi a notícia, eu fiquei em choque. Mas, assim, eu pensei em apoiá-la porque já tinha acontecido comigo e a história estava se repetindo. Dei força e até hoje estou apoiando".
As preocupações de Miriam, à época, eram sobre falta de maturidade da filha e a necessidade dela terminar os estudos. Millyane Ágatha, inclusive, sempre morou e mora até hoje com a avó.
“Eu tomei a iniciativa de ajudar, de ficar com ela, para minha filha terminar os estudos. Também porque ela era muito nova, não sabia cuidar direito. Eu tinha medo dela fazer algo errado com a menina”.
Miriam Rosa ao centro com o bisneto, Andrei Lohan, no colo. Ela é acompanhada da neta e mãe de Lohan, Millyane Ágatha (dir); e pela filha, Marcelle Rosa, e o neto Miqueas Allef (esq). Foto: Matheus Ribeiro/Folha de Pernambuco. Avó ou mãe?
Pela pouca idade para ser avó, Miriam descreve que tinha uma relação semelhante à maternal com Millyane Ágatha.
"As pessoas estranhavam, pensavam que ela era a minha filha. E eu também nem sabia ser avó, eu nem me sentia avó, só conseguia me sentir a mãe dela. Era muito parecido o sentimento e eu não esperava esse título de avó. Aos 32 anos, eu ainda estava na época de ser mãe", relembrou.
Psicóloga clínica e hospitalar com atendimento a todas as idades, Suenne Valadares analisa os desafios que a relação de avós assumindo responsabilidades de maternidade ou paternidade podem gerar nas relações familiares. Segundo a especialista, é importante avaliar cada caso
“Às vezes, os avós assumirem pode ser uma saída muito interessante para a família, no sentido da criança permanecer naquele núcleo de origem e de possivelmente ser cuidada de melhores maneiras. Por outro lado, às vezes, pode haver algum nível inconsciente de uma certa disputa da mãe com a filha, e vice-versa”, analisou.
Suenne Valadares, psicóloga, afirma que os avós, idealmente, poderiam atuar como uma ponte mediadora. Foto: Cortesia. ressalta que colocar o jovem no lugar de incapaz nem sempre é verdade. O ideal, segundo a especialista, é a participação dos avós como uma "ponte mediadora".
“Acho que o primeiro passo é acolher esse que vai ter o filho ou a filha. Entender o que eles esperam, se têm a dimensão do que é o cuidado com o bebê”, iniciou.
"Dar conta de um bebê é algo do universo adulto. Então seria melhor participar como uma ponte mediadora. Dessa posição adulta que é ser pai e ser mãe, cheio de responsabilidade com alguém, mas considerando que esse filho ou filha que vai ter o bebê precisa ainda de uma certa construção, de uma certa orientação. Então, com certeza, estar ao lado, acolhendo, entendendo e orientando. Acho que esse é um bom caminho", concluiu.
Outra forma de lidar
Atualmente com 43 anos, o administrador Douglas Travassos iniciou a experiência como avô aos 39 anos. A paternidade veio aos 17 anos, quando teve Stephany Travassos, a qual foi mãe de Bernardo, aos 21 anos.
Apesar de trabalhar desde os 16 anos e conseguir bancar financeiramente a filha que veio de forma inesperada, Douglas relembra que a imaturidade atrapalhou o começo de sua atuação enquanto pai.
“O desafio maior era realmente a idade e a falta de maturidade. Eu não era casado, queria viver o resto da minha adolescência e início da minha juventude. E nisso, eu fui, de alguma forma, ausente. Ela cresceu e parecia muito mais minha irmã. Todo mundo dizia que era minha irmã na rua, do que propriamente minha filha”, disse.
Ao longo da vida, Douglas se tornou pai outras vezes e atualmente tem quatro filhos. Uma curiosidade é que o último a nascer, João Marcello, tem 2 anos e é mais novo que seu neto, que está com 4 anos de idade.
Experiência de ser avô cedo
Douglas acredita que há alguns desafios ao se tornar avô cedo. Ele também tem a concepção da figura do avô remete a uma pessoa mais velha, já aposentada, que tem tempo de ficar com neto, quando os filhos viajam, por exemplo.
Entretanto, a rotina agitada do dia a dia não permite que o avô tenha esse tipo de vivência com o neto.
"Eu estou vivendo a paternidade, meu filho tem 2 anos. Eu trabalho o dia todo, tenho minhas obrigações. Por mais que você queira ter tempo, não tem. Com essa idade você ainda está estudando, está correndo atrás de outras coisas. Então, eu não tenho tempo livre e isso talvez seja a parte negativa”.
Por outro lado, o administrador relata que a pouca idade faz com que ele tenha mais disposição para realizar certas atividades com o neto.
"Eu acho que você tem vigor e força para curtir o neto, com energia para que você acompanhe jogando bola, para que você leve no estádio, para que você faça coisas mais dinâmicas que exigem força e um pouco do seu físico. Então, hoje, o que eu faço com o meu filho, faço com o meu neto e isso é muito legal”.
Douglas Travassos, seu neto Bernardo (esq) e familiares. Foto: Cortesia. Psicólogo clínico com ênfase nas abordagens Gestalt e EMDR, Wilson Vila Bela observa o que geralmente ocorre com pessoas que se tornaram avôs ou avós cedo.
"As pessoas que são avós antes dos 45 anos, são pessoas que ainda estão trabalhando, frequentam academia, vão ao teatro, se reúnem com os amigos, etc. Ou seja, têm inúmeras preocupações", detalhou.
De acordo com o psicólogo, ao compreender a dificuldade de ter a presença constante por estar numa fase muito ativa da vida pessoal e profissional, é primordial uma relação de amor.
E o que é ser avô/avó?
Esta simples pergunta permite uma série de respostas e vivências. Para Miriam Rosa, as responsabilidades intercaladas entre o papel de avó e mãe foram aumentadas com sua neta.
“Eu optei por cuidar [da neta] porque minha filha não tinha idade. A preocupação aumentava bastante por estar criando filhos que não são nossos. Mas, assim, eu amo muito meus netos".
Já para Douglas Travassos, o sentimento que floresce com o papel de avô na idade que aconteceu é de esperança.
“Eu lembro dos meus avós que foram importantes para mim e que eu perdi ainda criança por causa da idade. Então, quando eu penso em ser avô cedo, isso me traz alegria e esperança. Esperança de viver com o meu neto durante muito tempo, ver ele crescer e poder ajudar nos momentos de dificuldade”.

