Em "batalha" com Trump, principal agente do FBI promete "se empenhar" após remoções de funcionários
James E. Dennehy diz em um e-mail a funcionários que polícia federal americana está em uma "batalha própria" com o governo
Principal agente do maior e mais respeitado escritório do FBI (polícia federal dos EUA) em Nova York, James E. Dennehy prometeu, em um e-mail desafiador enviado a sua equipe, “se empenhar” depois que o governo Trump atacou os funcionários envolvidos nas investigações do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Além disso, elogiou os líderes interinos do departamento por defenderem sua independência.
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"Hoje, nos encontramos no meio de uma batalha própria, pois pessoas boas estão sendo expulsas do FBI e outras estão sendo alvo de ataques por terem feito seu trabalho de acordo com a lei e a política do FBI", escreveu Dennehy, um agente veterano e altamente reconhecido que está no comando do escritório desde setembro.
Procurado por meio de um representante em Nova York, o agente não quis comentar.
O e-mail, ao qual o jornal The New York Times teve acesso, foi enviado depois que o Departamento de Justiça ordenou ao FBI, na sexta-feira, que coletasse os nomes dos funcionários que ajudaram a investigar o ataque ao Congresso.
Isso levantou a possibilidade de que os nomeados políticos de Trump planejem expurgar funcionários de carreira, incluindo os agentes de campo. Esse número pode chegar a 6 mil pessoas, cerca de um sexto do quadro total de colaboradores, segundo o FBI
Ao menos nove funcionários de alto escalão foram forçados a sair desde a posse de Trump, mergulhando a agência em uma confusão. Dennehy escreveu que essas remoções espalharam "medo" e "angústia" nas fileiras do FBI.
Essa sensação de pavor foi alimentada por um questionário notável enviado aos funcionários do FBI, pedindo que descrevessem qual foi, se é que tiveram, o papel que desempenharam na investigação e no julgamento dos manifestantes de 6 de janeiro.
O formulário exige que os funcionários digam se coletaram provas, prestaram serviços de apoio, entrevistaram testemunhas, executaram mandados de busca ou testemunharam em julgamento — atividades básicas dos agentes do FBI durante o curso normal e legal de suas funções.
Eles têm até as 15 horas desta segunda-feira para preencher o documento.
Robert C. Kissane, vice-diretor interino, procurou dissipar as preocupações de que os funcionários do F.B.I. seriam punidos por fazerem seu trabalho, enquanto tentava responder a perguntas sobre a lista que o Departamento de Justiça estava reunindo.
“Não consideramos a identificação de ninguém na lista como um indicador de qualquer má conduta”, escreveu ele em uma longa mensagem aos funcionários, acrescentando que eles continuam a trabalhar com a Justiça para "entender melhor o propósito para o qual a lista está sendo solicitada".
Kissane disse ainda que o FBI realizou cerca de 2.400 investigações relacionadas ao ataque ao Capitólio e distribuiu o questionário com base nos nomes de todas as pessoas ligadas a esses casos.
Ele garantiu que as pessoas que receberam o questionário não eram obrigadas a preenchê-lo, mas que a gerência era obrigada a fazê-lo.
Enquanto Dennehy, em seu e-mail, pediu aos funcionários que mantivessem a calma e não tomassem nenhuma decisão precipitada sobre suas carreiras, pois ele se comprometeu a prestar assistência a eles, independentemente do que acontecesse.
Ele também sugeriu que não tinha intenção de deixar o cargo.
"Chegou a hora de me dedicar", escreveu.
Em um gesto extraordinário, ele elogiou os dois principais nomes em exercício no FBI, Brian Driscoll e Kissane, por "lutarem" pelos seus agentes
Ambos resistiram aos esforços para demitir imediatamente os funcionários de carreira e pressionaram por um processo de revisão formal para adiar ou mitigar a interrupção, segundo pessoas familiarizadas com a situação.
"Eles são guerreiros", definiu Dennehy, que é um ex-fuzileiro naval, sobre aqueles que resistiram às amplas demissões de funcionários do FBI em todo o departamento.
Clima de incerteza
A incerteza no F.B.I. é tão grande que alguns líderes do departamento se sentiram obrigados a enviar e-mails aos colegas para dizer que não foram demitidos.
"Sei que muitos de vocês viram ou ouviram relatos de que os executivos do FBI foram convidados a renunciar ou a serem demitidos", escreveu o principal agente em Seattle na sexta-feira em uma mensagem a qual o The Times teve acesso.
"Para esclarecer minha própria situação, até o momento em que escrevo, não fui demitido ou solicitado a me demitir, nem recebi qualquer indicação de que poderia ser."
No sábado, o FBI emitiu uma declaração incomum, assegurando que Driscoll ainda era o diretor interino.
E Dennehy, em seu e-mail, também rejeitou os rumores de que alguém havia sido demitido fora do pequeno grupo de funcionários já conhecidos.
O escritório de Dennehy conta com aproximadamente 1.100 agentes e cerca de 500 oficiais de tarefas, que são investigadores da polícia e policiais de outros órgãos federais designados para trabalhar com o FBI.
O número de agentes em Nova York representa 10% do número em todo o país. Há também cerca de 1.000 funcionários civis, incluindo analistas, técnicos e outras equipes de apoio.
Spencer Evans, principal agente em Las Vegas e executivo cujo emprego parecia estar em perigo, informou sua equipe na quinta-feira que seria demitido do FBI na segunda-feira de manhã.
"Não me deram nenhuma justificativa para essa decisão, que, como você pode imaginar, foi um choque", escreveu ele em um e-mail visto pelo The Times.
Já o chefe do escritório de campo de Nova Orleans foi convidado a retornar à sede depois que seu nome apareceu como alguém que o governo poderia querer remover, de acordo com funcionários atuais e antigos do FBI.
Ele estava de férias quando um terrorista atravessou uma multidão no dia de Ano Novo e foi criticado por estar ausente durante o Mardi Gras.
Em 6 de janeiro de 2021, o agente também era um dos principais supervisores do escritório de campo de Washington e ajudou a dirigir a resposta da agência ao ataque ao Capitólio.
"Ações ilegais"
A Sociedade de Ex-Agentes Especiais do FBI, que representa milhares de aposentados, chamou as demissões forçadas de "ações ilegais" que violaram as leis de serviço civil e os direitos de devido processo dos funcionários.
O Departamento de Justiça não acusou nenhum dos alvos de conduta imprópria e baseou a maioria das ações pessoais no poder discricionário do presidente de acordo com a Constituição.
Em sua mensagem aos funcionários, Dennehy descreveu os que saíram como "indivíduos extraordinários", e disse que "lamentava as aposentadorias forçadas".
Ele comparou a situação atual aos seus dias como fuzileiro naval no início dos anos 90, quando cavou uma pequena trincheira de um metro e meio de profundidade e se agachou por segurança.
"Foi péssimo, mas funcionava", escreveu.

