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Em encontro com tom de despedida, Cristina Kirchner visita Pepe Mujica no Uruguai: "velhos amigos"

Aos 89 anos e diagnosticado com câncer, ex-presidente uruguaio recentemente anunciou que não se submeteria a novos tratamentos para a doença

Cristina Kirchner visita Pepe Mujica no UruguaiCristina Kirchner visita Pepe Mujica no Uruguai - Foto: Redes Sociais/Reprodução

Em um encontro com tom de despedida, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner se reuniu na quarta-feira com o uruguaio José “Pepe” Mujica, que, aos 89 anos e diagnosticado com câncer, recentemente confirmou que a doença fez metástase e se espalhou para outros órgãos – o que fez com que ele desistisse de se submeter a novos tratamentos. Na reunião, também esteve presente a esposa de Mujica, Lucía Topolansky.

“Com Pepe e Lucía na cozinha de sua chácara. No Uruguai, claro. Conversa e análise de militantes que continuarão sendo até o último dia de suas vidas. Obrigada a ambos pelo momento compartilhado. E por tudo o mais também”, escreveu Kirchner no X ao compartilhar uma foto dos três. Segundo a imprensa argentina, a ex-presidente peronista viajou à tarde em um avião privado e seguiu diretamente para o encontro.

Ao jornal argentino Ámbito Financeiro, Mujica definiu a visita como “um encontro de dois velhos amigos em tom de despedida”. Ele e Kirchner foram presidentes do Uruguai e da Argentina entre 2010 e 2015. A reunião ocorreu após anos de relação política, com momentos de aproximação e distanciamento, principalmente por parte do uruguaio, que no passado criticou o estilo de liderança da ex-presidente argentina.

Em 2013, durante uma conferência em que não percebeu que o microfone estava ligado, Mujica comentou: “Essa velha é pior que o zarolho”, em referência a Kirchner e seu falecido marido, o ex-presidente Néstor Kirchner. Anos depois, em novembro passado, o uruguaio questionou a permanência de certos líderes latino-americanos no poder, incluindo de Kirchner. Em entrevista, ele afirmou:

— Lá está a velha Kirchner na Argentina, à frente do peronismo. Em vez de se colocar como velha conselheira e deixar novas gerações, não, ela está ali atrapalhando. Como custa largar o cargo — disse ele à AFP.

Apesar desses desentendimentos, nos quais a argentina evitou confrontos, Mujica também manifestou em outras ocasiões o seu respeito pela ex-presidente. Em outras oportunidades, ele a definiu como uma mulher que “por vezes vai longe demais, mas que, à sua maneira, ama o povo argentino”. Em dezembro, Mujica também admitiu ter se expressado de forma “grosseira” sobre Kirchner.

‘Estou morrendo’
Desde que descobriu um tumor no esôfago, em abril do ano passado, Mujica já passou por diversas intervenções médicas. Com a piora da doença, o ex-presidente, reconhecido mundialmente por seu estilo de vida austero e por seu discurso crítico ao consumismo, optou por se retirar completamente da vida pública. Ele recentemente pediu para que o deixassem em paz, sem novos pedidos de entrevistas ou comentários.

— Não posso fazer nenhum tratamento bioquímico nem cirurgia porque meu corpo não aguenta — disse, acrescentando: — Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso.

Com sua retirada, Mujica vive o fechamento de um extenso ciclo político que o levou de guerrilheiro tupamaro nos anos 60 a prisioneiro durante a ditadura uruguaia, legislador, ministro e, finalmente, presidente. Em seu mandato, Mujica chamou atenção mundial por sua vida simples, recusando o uso da residência presidencial e continuando a viver em sua modesta chácara, enquanto doava a maior parte de seu salário.

Como líder, Mujica manteve uma preocupação constante com a renovação e continuidade da Frente Ampla, o principal partido da oposição, quando ele já não estivesse mais vivo. O último voto de confiança do octogenário foi para Yamandú Orsi, a quem apoiou e que venceu nas eleições presidenciais do ano passado. Orsi, que se mostrou grato pelo apoio de Mujica, assumirá o cargo em 1º de março.

No que expressou como seu último desejo, o ex-presidente demonstrou gratidão à sua esposa, Lucía, e reiterou sua vontade de ser enterrado ao lado de sua cadela Manuela, que morreu anos atrás.

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