Seg, 08 de Dezembro

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Acidente

'Entrei no avião e só pensava nele', diz instrutor de empresário morto em acidente de paraquedas

Profissionais alertam sobre diferença entre base jump, modalidade radical praticada pelo atleta, e o paraquedismo tradicional

Gabriel Farrel, empresário morto em acidente de paraquedas no Rio, compartilhava seus voos nas redes sociais Gabriel Farrel, empresário morto em acidente de paraquedas no Rio, compartilhava seus voos nas redes sociais  - Foto: Reprodução

Após mais de 24 horas da morte do empresário Gabriel Farrel, de 31 anos, instrutores de paraquedismo que conviveram com o atleta ainda tentam compreender o que teria acontecido com ele. Segundo informações preliminares, Gabriel havia morrido ao saltar sobre a Praia da Reserva, na nova Zona Sudoeste do Rio, uma vez que seu paraquedas não funcionou como previsto. Os profissionais lamentaram o episódio, e alertaram sobre a importância de diferenciar algumas modalidades radicais do paraquedismo comum.

— Precisei fazer um salto pouco tempo depois de descobrir o que havia acontecido e estava com a cabeça muito perturbada. Entrei no avião e só pensava nele, mas tentei ressignificar aquele momento. Quis saltar para honrar a memória do Gabriel, que morreu fazendo o que amava — relembra o instrutor Fábio Lima, que se sentiu extremamente abalado ao saber da morte do empresário, a quem conhecia há seis anos.

Até o momento, não se sabe de qual aeronave Gabriel teria saltado. Em suas redes sociais, no entanto, o atleta compartilhava registros em que aparecia utilizando um paratrike, ou seja, um equipamento motorizado, que possui um parapente acoplado a um triciclo leve, capaz de permitir voos a até 3.000 metros.

De acordo com Fábio, dezenas de pessoas o procuraram ainda no domingo — dia da morte do empresário — para tentar entender o que teria acontecido com o paraquedas do atleta durante o salto. — Eu expliquei, para quem me ligou, que o que ele fazia era diferente, era base jump, um outro tipo de modalidade.
 

Base jump X paraquedismo

Diferente do paraquedismo tradicional, o base jump é uma modalidade radical não-regulamentada. No primeiro, deve-se saltar de uma aeronave regularizada, ter dois paraquedas — que podem ser acionados de quatro formas diferentes, sendo uma delas automática —, além de passar por uma supervisão rigorosa do equipamento antes do salto.

Já no segundo, a adrenalina é mais intensa, pode-se pular de alturas mais baixas — e em locais inusitados, como picos, antenas e prédios — e o atleta conta consigo mesmo para acionar a abertura do paraquedas, que deve ser feita até o momento em que o salto alcança 50 metros do chão.

Segundo Duda Balthazar, responsável técnico de atividade da empresa Rio Paraquedismo, a prática do esporte segue rigorosamente as normas estabelecidas pela Confederação Brasileira de Paraquedismo (CBPq), o que garante a segurança.

— Caso ocorra alguma intercorrência durante o salto, é impossível que o paraquedas reserva não seja acionado automaticamente. Além das regulamentações da CBPq, seguimos as recomendações do fabricante, e fazemos cursos bastante específicos para que possamos ser instrutores de salto duplo — garante Balthazar.

A atividade radical, que custa em média R$ 1.800 por pessoa no Rio de Janeiro, pode ser feita em dupla — entre aquele que deseja experimentar o esporte e um instrutor capacitado — ou de forma individual, requerendo um curso de paraquedismo, com até seis meses de duração.

— O salto em si não é uma experiência de pura adrenalina, mas uma transformação pessoal. Durante o tempo que estamos no ar, conseguimos lembrar de nós mesmos, experimentamos um misto de sentimentos e, ao notar que vencemos o medo, alcançamos o êxtase — detalha o profissional.

Para aqueles que farão o esporte radical pela primeira vez, Duda Balthazar indica uma alimentação balanceada antes da atividade, como também a redução do consumo de álcool e outras drogas durante as 12 horas que antecedem a prática. No que diz respeito às roupas, o ideal é usar peças que garantam a flexibilidade e sejam confortáveis. O protetor solar é igualmente indispensável no dia do salto, uma vez que há uma grande exposição solar.

Segundos antes do salto, o instrutor diz que busca tranquilizar os clientes ao fornecer explicações simples e objetivas.

— Eu trabalho com isso há 25 anos, já realizei mais de seis mil saltos duplos, sei como as pessoas se comportam no momento de pular da aeronave. Eu apenas digo o que deve ser feito, sem detalhar os motivos e, assim, eles conseguem absorver as informações experimentar um salto tranquilo.

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