Sáb, 06 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
GUERRA

Enviado especial da ONU pede que Israel cesse "imediatamente" seus ataques contra a Síria

Ofensivas ocorrem após confrontos sectários deixarem 119 mortos nesta semana; Estado judeu diz buscar proteger minoria drusa na região

Enviado Especial das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Geir PedersenEnviado Especial das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Geir Pedersen - Foto: abrice Coffrini/ AFP

O enviado especial da ONU, Geir Pedersen, pediu neste sábado que Israel cesse “imediatamente” seus ataques contra a Síria, após múltiplos bombardeios — um deles muito próximo ao palácio presidencial — e confrontos sectários mortais.

Como parte de uma campanha que, segundo o Estado judeu, busca proteger a minoria drusa, uma vertente esotérica do islã, as Forças Armadas israelenses realizaram novos bombardeios na região durante a noite.

Os ataques ocorreram após confrontos sectários deixarem 119 mortos nesta semana, a maioria combatentes desse grupo religioso, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Desde que as novas autoridades sírias assumiram o poder, após a queda de Bashar al-Assad em dezembro, o governo interino prometeu uma gestão inclusiva. No entanto, essas autoridades — formadas por uma coalizão de grupos rebeldes liderados por islamistas com vínculos passados com a al-Qaeda — enfrentam dificuldades em um país multiconfessional e multiétnico que atravessou quase 14 anos de guerra civil.

“Condeno veementemente as contínuas e crescentes violações da soberania da Síria por parte de Israel, incluindo os múltiplos bombardeios em Damasco e outras cidades”, declarou Pedersen em publicação no X. “Exijo a cessação imediata desses ataques e que Israel pare de colocar em risco a população civil síria e respeite o direito internacional”, acrescentou.

O OSDH, uma ONG com sede no Reino Unido e fontes em campo, relatou mais de 20 bombardeios na sexta-feira e afirmou que foi o “ataque mais intenso” de Israel contra a Síria em 2025 até agora. A agência estatal síria SANA informou sobre ataques perto de Damasco, no centro, oeste e sul do país, e noticiou a morte de um civil na noite de sexta. O Exército israelense, por sua vez, afirmou ter “atingido uma instalação militar, canhões antiaéreos e infraestrutura de mísseis terra-ar na Síria”, sem fornecer mais detalhes.

Firas Aabdeen, de 32 anos, membro das forças de segurança em Harasta, perto de Damasco — onde um dos bombardeios ocorreu —, contou ter ouvido vários impactos “muito fortes” e disse que um quartel militar da era Assad, em grande parte desativado, foi atingido. Segundo os militares israelenses, suas forças bombardearam uma área próxima ao palácio de Ahmed al-Sharaa, presidente interino da Síria, na sexta-feira.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Israel Katz, afirmaram em comunicado que o ataque foi “uma mensagem clara enviada ao regime sírio”, advertindo que “não permitirá” que as forças sírias “se instalem ao sul de Damasco nem que ameacem de qualquer forma a comunidade drusa”. Por sua vez, o governo sírio declarou que o ataque representa uma “escalada perigosa contra as instituições do Estado e sua soberania”.

Em comunicado emitido neste sábado, o Exército israelense anunciou que está “desdobrado no sul da Síria” e que está pronto para impedir “a entrada de forças hostis na região de localidades drusas”. Um líder druso da província de Sueida — reduto dessa minoria no sul sírio —, porém, disse à AFP que “não houve nenhum desdobramento de soldados israelenses” na região.

"Parece que sua presença está limitada à província de Quneitra, onde já estabeleceram posições após a queda do regime de [Bashar] al-Assad", declarou.

Após a queda de Assad, Israel ocupou uma faixa da zona desmilitarizada patrulhada pela ONU nos Montes Golã — território que tomou da Síria na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Os confrontos desta semana começaram na segunda-feira com um ataque de grupos armados alinhados ao governo interino em Jaramana, após a circulação nas redes sociais de uma mensagem de áudio atribuída a um druso, considerada blasfema em relação ao profeta Maomé. A AFP não conseguiu verificar a autenticidade da gravação.

Esses confrontos agravaram as tensões na Síria, após massacres ocorridos no início de março no oeste do país, que deixaram 1.700 mortos — em sua maioria, membros da minoria alauíta, à qual pertence Assad. Desde o início da guerra na Síria, em 2011, Israel já realizou centenas de bombardeios contra o país, com o qual ainda está tecnicamente em guerra.

Veja também

Newsletter