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LIBERAÇÃO

EUA exigem que estudantes deixem as redes sociais públicas para a concessão de visto

Após suspender o processamento de vistos estudantis por quase um mês, novas diretrizes do Departamento de Estado avançam na verificação de postagens 'hostis' aos valores americanos

Donald Trump EUADonald Trump EUA - Foto: Saul Loeb / AFP

Após suspender o processamento de vistos para estudantes por quase um mês, os Estados Unidos anunciaram a retomada dos agendamentos nesta quarta-feira. No entanto, a triagem agora exige que os solicitantes deixem as contas nas redes sociais públicas, de modo que as equipes consulares possam detectar eventuais postagens "hostis" aos valores americanos.

A checagem das redes sociais é uma prática antiga, que passou a ser exigida em 2019, durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump. No entanto, o Departamento de Estado não estabelecia nenhuma diretriz determinando que os solicitantes de visto tivessem seus perfis abertos.

A partir de agora, todos os pedidos de vistos de não imigrantes F, M e J, que são utilizados para intercâmbios acadêmicos e pesquisa, terão as redes sociais revisadas, disseram as autoridades.

Os funcionários consulares nas missões no exterior estão sendo orientados a procurar “quaisquer indícios de hostilidade em relação aos cidadãos, cultura, governo, instituições ou princípios fundadores dos Estados Unidos”. O Departamento de Estado não forneceu mais detalhes sobre como os funcionários definiriam esses critérios.

A nova política parece ser a mais recente frente na ampla ofensiva do governo Trump contra as universidades, que busca tentar reprimir o pensamento progressista nas instituições. Alguns assessores do presidente afirmam que as universidades americanas precisam abraçar ideias e alunos mais conservadoras.

Os parâmetros vagos da orientação sem dúvida criarão muita incerteza entre as universidades americanas e os estudantes estrangeiros que pretendem viajar para os Estados Unidos.

Críticos dizem que o processo de revisão e outras ações relacionadas aos vistos determinadas pelo secretário de Estado, Marco Rubio, têm como objetivo sufocar a liberdade de expressão, promover a conformidade ideológica e coagir cidadãos estrangeiros a se autocensurarem e se absterem de criticar o governo Trump.

Muitas universidades americanas pedem que os estudantes estrangeiros paguem a mensalidade integral, o que representa uma parte substancial das receitas anuais das instituições. Em alguns campi, os estudantes estrangeiros são a maioria dos pesquisadores em certas disciplinas, especialmente nas ciências exatas.

Em 2023, os estudantes estrangeiros foram responsáveis por mais de 1,3 milhão de diplomas emitidos no ensino superior, de acordo com um relatório do Departamento de Segurança Interna.

Professores visitantes do exterior, que também são afetados pelas novas restrições, muitas vezes desempenham papéis importantes no ensino e na pesquisa em muitas universidades americanas.

Um porta-voz do Departamento de Estado disse em um e-mail em meados de março que “toda a tecnologia disponível” estava sendo usada para selecionar os requerentes de vistos. O porta-voz estava respondendo a uma pergunta do The New York Times sobre se o departamento estava usando inteligência artificial para vasculhar bancos de dados e postagens nas redes sociais para encontrar pessoas que, na opinião dos assessores de Trump, deveriam ter seus vistos revogados.

— Acho que estamos muito preocupados que isso se torne uma espécie de teste político que será aplicado aos estudantes — disse Sarah Spreitzer, vice-presidente do Conselho Americano de Educação, ao New York Times. — Não acredito que isso já tenha acontecido antes. Obviamente, vamos ver como isso será aplicado.

Rubio emitiu um memorando em 25 de março instruindo os funcionários consulares a examinar o conteúdo das redes sociais de alguns requerentes de vistos de estudante e outros tipos de vistos.

Em 27 de maio, ele enviou outro memorando às embaixadas e consulados, ordenando que suspendessem as entrevistas para vistos de estudante e de pesquisador visitante até que a sede do Departamento de Estado pudesse elaborar novas diretrizes para a análise das contas dos requerentes nas redes sociais.

Rubio também disse que o Departamento de Estado teria como alvo os vistos de estudantes chineses. Ele anunciou em 28 de maio que o governo Trump trabalharia para “revogar agressivamente” os vistos de estudantes chineses, incluindo aqueles com vínculos com o Partido Comunista Chinês ou que estudam em “áreas críticas”. Ele e o departamento não deram mais detalhes.

Separadamente, a Casa Branca tentou encerrar as matrículas de estudantes estrangeiros na Universidade Harvard como parte de seu ataque à instituição. O Departamento de Estado suspendeu o processamento de vistos para estudantes estrangeiros, acadêmicos e outros visitantes estrangeiros que planejavam ir para Harvard, mas a agência instruiu as missões diplomáticas no exterior a retomar o processamento em 9 de junho, depois que um juiz barrou a proibição.

Nos últimos meses, Rubio falou sobre o cancelamento de vários vistos de estudante, a revogação do status de residência permanente (“green cards”) e a análise minuciosa do histórico nas redes sociais de visitantes estrangeiros, muitas vezes no contexto da indignação em torno da campanha de guerra de Israel em Gaza. Ele afirmou que manifestantes pró-palestinos em campi universitários assediaram outros estudantes, destruíram propriedades e perturbaram a vida cotidiana, embora esses atos não tenham sido generalizados nos protestos universitários.

No final de março, Rubio disse a repórteres que havia revogado mais de 300 vistos, muitos dos quais emitidos para estudantes, e continuaria cancelando a caça.

Na mesma época, o chefe da diplomacia americana retirou o status de residência permanente de Mahmoud Khalil, estudante recém-formado pela Universidade de Columbia e ex-ativista estudantil acusado de liderar os protestos anti-Israel que tomaram a institução no ano passado. Rubio disse que Khalil, que tem ascendência palestina e é casado com uma cidadã americana, estava prejudicando a política externa dos Estados Unidos. Khalil acabou sendo preso por agentes de Imigração.

De lá para cá, diversos cidadãos estrangeiros que corriam risco de perder seus vistos ou green cards entraram com ações contra o governo dos Estados Unidos, e os juízes emitiram ordens de restrição temporária contra as ações federais.

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