Seg, 08 de Dezembro

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Ex-cirurgião acusado de abusar de quase 300 pacientes vai a julgamento na França

Joel Le Scouarnec teria cometido crimes enquanto vítimas acordavam de anestesia ou durante exames pós-operatórios, em uma dúzia de hospitais, entre 1989 e 2014

Joël Le Scouarnec, de 74 anos, já está preso após ter sido condenado em 2020 por abusar de quatro menores, entre elas duas de suas sobrinhas Joël Le Scouarnec, de 74 anos, já está preso após ter sido condenado em 2020 por abusar de quatro menores, entre elas duas de suas sobrinhas  - Foto: AFP

Um ex-cirurgião começa a ser julgado nesta segunda-feira na França, sob acusação de estuprar ou agredir sexualmente quase 300 ex-pacientes, a maioria crianças.

Joel Le Scouarnec, de 74 anos, já está preso depois que um tribunal o considerou culpado de abusar de quatro crianças em 2020, incluindo duas de suas sobrinhas.

No novo julgamento, que durará quatro meses, ele enfrenta alegações de que também agrediu ou estuprou 299 pacientes, muitas delas ao acordarem da anestesia ou durante exames pós-operatórios, em uma dúzia de hospitais entre 1989 e 2014.

 

No total, 256 das 299 vítimas tinham menos de 15 anos, com a mais jovem com 1 ano e a mais velha, com 70. O julgamento provavelmente será um novo choque para a França. Acontece apenas dois meses depois que o francês Dominique Pelicot foi condenado por recrutar dezenas de estranhos para estuprar sua mulher sedada Gisele Pelicot.

Desde então, Gisele se divorciou e se tornou uma heroína feminista por se recusar a ter vergonha de falar sobre a década de abusos. Neste outro caso, Le Scouarnec é o único réu acusado de crimes contra centenas de vítimas.

O julgamento na cidade de Vannes, na região oeste da Bretanha, será aberto ao público, mas sete dias de depoimentos de vítimas que foram alvos enquanto menores serão mantidos a portas fechadas.

Se condenado, Le Scouarnec enfrenta uma pena máxima de 20 anos de prisão — a lei francesa não permite que sentenças sejam somadas, mesmo quando há várias vítimas.

'Falha coletiva'
O cirurgião praticou a profissão por décadas, até sua aposentadoria, apesar de uma sentença de 2005 por possuir imagens sexualmente abusivas de crianças e colegas ter levantado preocupações.

Le Scouarnec operava na cidade ocidental de Lorient em 2004 quando o FBI alertou as autoridades francesas de que ele estava entre as centenas de pessoas na França que estavam consultando imagens de abuso sexual de crianças online.

Um tribunal nas proximidades de Vannes o condenou, no ano seguinte, a uma pena de quatro meses de prisão, que foi suspensa.

Naquela época, o médico já havia se mudado para trabalhar em outra cidade da Bretanha, Quimperle, onde foi promovido apesar da gerência ter sido informada de sua condenação. Ele então se mudou para o Sudoeste da França, onde trabalhou até sua aposentadoria.

Os investigadores descobriram seus supostos crimes depois que ele se aposentou, em 2017, quando uma menina de 6 anos o acusou de estupro. A polícia encontrou relatos de abuso em seus diários.

Vítimas e defensores dos direitos da criança dizem que o caso destaca deficiências sistêmicas que permitiram que Le Scouarnec cometesse crimes sexuais repetidamente.

Frederic Benoist, advogado do grupo de advocacia francês La Voix de l'Enfant (A Voz da Criança), disse que o fato de Le Scouarnec nunca ter sido impedido de praticar a medicina foi resultado de uma "falha coletiva".

Uma investigação separada foi aberta por promotores regionais sobre essas falhas, embora ainda não mire nenhum indivíduo ou instituição em específico.

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