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EM DOIS MESES

Exército de Israel emite ordem de retirada em Khan Younis em meio a plano para controlar 75% de Gaza

Militares israelenses pretendem manter toda a população civil do enclave em área equivalente a 25% do território palestino

Mulher palestina em escombros da escola Fahmi al-Jarjawi, bombardeada por Israel nesta segundaMulher palestina em escombros da escola Fahmi al-Jarjawi, bombardeada por Israel nesta segunda - Foto: Omar al-Qattaa/AFP

O Exército de Israel emitiu um alerta de retirada para a população civil na cidade de Khan Younis, no sul do enclave palestino, de onde afirmam ter partido disparos de foguete contra o país. A ordem para retirada ocorre após novos bombardeios israelenses matarem 50 pessoas desde a madrugada desta segunda-feira, segundo contagem da Defesa Civil de Gaza, e um dia após a imprensa israelense detalhar planos do governo para deslocar toda a população palestina para uma área equivalente a apenas 25% do enclave, enquanto os militares tentam ocupar os 75% restantes nos próximos dois meses.

"Organizações terroristas continuam a lançar foguetes de suas áreas. A área de Khan Younis é considerada uma perigosa zona de combate e foi alvo de alerta diversas vezes", disse o alerta israelense, publicado em língua árabe. "Retirem-se imediatamente para o oeste, para a área de Mawasi".

A faixa costeira de Mawasi é um dos três bolsões em que os militares israelenses pretendem manter a população palestina enquanto a nova fase da ofensiva com objetivo de eliminar o Hamas está em curso, segundo fontes israelenses. Toda a população de Gaza, calculada em cerca de 2,4 milhões antes da guerra, seria confinada em Mawasi (sul), em uma área no centro da Faixa e na Cidade de Gaza, ao norte. Somadas, as três zonas teriam 226 quilômetros quadrados, o equivalente a 25% do território. O restante 75% do enclave ficaria sob controle dos militares — que atualmente controlam cerca de 40% do território.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que a operação "Carruagens de Gideão", em curso a cerca de dez dias, visa derrotar o Hamas e resgatar os reféns mantidos em Gaza. O premier também afirmou que a totalidade da Faixa de Gaza será ocupada pelas forças israelenses, e recentemente defendeu o plano de Donald Trump para o enclave — que consistiria na retirada da população civil para outros países.

Os planos israelenses ocorrem à contragosto de grande parte da comunidade internacional, que tem aumentado o tom das críticas ao governo em meio ao recrudescimento da ofensiva. A Defesa Civil de Gaza, administrada pelo Hamas, anunciou nesta segunda-feira que mais de 50 pessoas morreram em vários bombardeios israelenses, trinta e três delas em um ataque contra a escola Fami Aljerjawi, na Cidade de Gaza, que era usada como abrigo.

O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Bassal, informou que outro bombardeio em Jabaliya, no sul da Faixa, atingiu a casa de uma família e que socorristas recuperaram 19 cadáveres. Antes, o mesmo órgão havia informado que 22 pessoas morreram no domingo, incluindo uma mulher grávida e crianças.

O Exército israelense afirmou que "terroristas importantes" estavam na escola bombardeada nesta segunda-feira, e que "tomou várias medidas para mitigar o risco de causar danos à população civil".

A catástrofe humanitária provocada pela retomada do conflito e um bloqueio severo à entrada de ajuda humanitária em vigor desde 2 de março — alguns caminhões de ajuda entraram a partir da semana passada, mas organizações relatam que os insumos não chegaram até a ponta — criaram uma crescente onda de indignação internacional.

Mesmo países aliados expressaram críticas. O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou nesta segunda-feira "não entender mais" os objetivos do Exército israelense na Faixa de Gaza, durante uma entrevista na emissora pública WDR. Berlim historicamente mantém um tom cauteloso ao criticar Israel em razão do histórico da Segunda Guerra Mundial.

— Eu não entendo mais o que o Exército israelense está fazendo na Faixa de Gaza, com qual objetivo a população civil está sendo impactada a tal ponto — disse Merz. — Prejudicar a população civil a tal ponto, como tem sido cada vez mais o caso nos últimos dias, não pode mais ser justificado como uma luta contra o terrorismo do Hamas.

A União Europeia aprovou na semana passada a revisão do acordo de associação com Israel. O chefe da diplomacia da Espanha, José Manuel Albares, declarou no domingo que a comunidade internacional deveria contemplar sanções contra Israel para interromper a guerra em Gaza, durante uma reunião em Madri na qual representantes de nações árabes e europeias, além do Brasil, pediram o fim da ofensiva israelense.

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— A muito curto prazo, para deter esta guerra que já não faz sentido, e permitir que a ajuda humanitária chegue de maneira massiva, sem obstáculos, de forma neutra, para que Israel não decida quem pode comer e quem não pode, (...) devemos considerar sanções — disse o ministro espanhol.

Uma fonte palestina ouvida pela AFP declarou nesta segunda que uma nova proposta de cessar-fogo em Gaza apresentada pelos mediadores inclui a libertação de 10 reféns, uma trégua de 70 dias e a retirada parcial de Israel do território palestino.

— A nova proposta, que é considerada um desenvolvimento da perspectiva do emissário americano Steve Witkoff, inclui a libertação de 10 reféns israelenses vivos que estão sequestrados pelo Hamas, em troca de uma trégua de 70 dias, uma retirada parcial da Faixa de Gaza (e) a libertação de vários prisioneiros palestinos — disse em anonimato.

O presidente dos EUA, Donald Trump, principal aliado de Israel, afirmou no domingo que espera "acabar com toda esta situação o mais rápido possível", referindo-se à crise humanitária. O governo americano apoia uma proposta que visa concentrar toda a ajuda humanitária em uma única fundação — que atraiu críticas variadas, desde sua dependência do Exército israelense para funcionar, ao fato de que os civis teriam que se deslocar para zonas pré-estabelecidas para conseguir ajuda.

O plano sofreu um revés ainda no domingo quando o diretor-executivo da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), Jake Wood, renunciou ao cargo, afirmando que não poderua cumprir sua missão "respeitando estritamente os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência". (Com AFP e Bloomberg)

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