Seg, 08 de Dezembro

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Peru

Extorsões de gangues aterrorizam 500 escolas no Peru e forçam suspensão de aulas

Esses colégios se tornaram alvos de gangues locais e internacionais, que cobram uma taxa para não matar funcionários e pais de alunos ou destruir as instalações

Escolas se tornaram alvos de gangues locais e internacionais, que cobram uma taxa para não matar funcionários Escolas se tornaram alvos de gangues locais e internacionais, que cobram uma taxa para não matar funcionários  - Foto: Ernesto Benavides / AFP

Na entrada do colégio San Vicente, ao Norte de Lima, no Peru, ao invés de professores, militares e policiais com fuzis vigiam os portões.

O período letivo começou há mais de um mês, mas somente agora os pais estão podendo levar seus filhos para esta escola, que foi atacada com explosivos por negar a pagar uma extorsão.

— É praticamente como uma pandemia, mas com armas — afirma um pai que acompanhou seu filho de 13 anos ao colégio San Vicente, no distrito de Comas.

Na primeira semana de março, a instituição, que tem 1.200 alunos, foi atacada com um explosivo. O ataque não deixou vítimas, mas causou danos na porta principal e obrigou os alunos a aderirem às aulas online.

Antes do atentado, por meio de uma mensagem do WhatsApp, criminosos pediram à diretoria da escola 100 mil soles (cerca de R$ 150 mil) para não realizar o ataque.

Depois da explosão, o colégio recebeu um vídeo ainda mais intimidador.

"JÁ EXPLODI SUA ESCOLA E AINDA NÃO ME DÁ UMA SOLUÇÃO", informava uma placa com sete munições cercada por rifles e pistolas, que apareceu na filmagem. O aviso termina com uma advertência de morte contra "um guarda, um professor ou um pai de família dentro ou fora da escola".

— Até o momento, temos 500 escolas extorquidas a nível nacional — contou à AFP Giannina Miranda, presidente do Coletivo Educar com Liberdade, que representa os colégios ameaçados no Peru. Desse total, segundo ela, 325 se viram forçados a fechar as portas por tempo indefinido e ter aulas virtuais.

A extorsão
Essas escolas se tornaram alvos de gangues locais e internacionais, que cobram uma taxa para não matar funcionários e pais de alunos ou destruir as instalações.

O crime organizado estendeu sua chantagem ao sistema privado de educação, que tem cerca de 17 mil instituições e 2,5 milhões de estudantes.

Seu poder de intimidação desafia o impopular governo de Dina Boluarte, que recorreu ao Exército para tentar conter a onda de extorsões nas ruas de Lima.

A escalada das extorões nos colégios pressionou a presidente a declarar estado de emergência por um mês em Lima, a capital peruana de 10 milhões de habitantes.

O decreto entrou em vigor no dia 18 de março, e Boluarte tirou os militares dos quartéis para apoiar a polícia na luta contra esses criminosos.

Enquanto os protestos se multiplicam, Boluarte se esconde. Mais de 90% dos peruanos repudia seu mandato, segundo pesquisas recentes, o que a torna uma das presidentes mais impopulares do mundo.

O medo e o silêncio
Para docentes e pais de alunos, que falaram sob anonimato, as gangues impuseram o medo e o silêncio nos ambientes escolares. Diante de "tanto medo e tensão", de acordo com uma aposentada de 70 anos, as famílias estão pensando em não mandar mais seus filhos para a escola.

— Como explicar para o meu filho o que está acontecendo? Tenho que ensiná-lo que, quando ele voltar para a escola, se ouvir um tiro ou uma explosão, ele deve se abrigar embaixo de sua mesa — questionou uma secretária de 30 anos.

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