Fed está ''absolutamente'' pronto para ajudar a estabilizar o mercado, se necessário
Presidentes do banco central americano de Boston, de Nova York e de St. Louis alertam para riscos de inflação e desaceleração econômica com políticas de Trump
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está "absolutamente" preparado a intervir para ajudar a acalmar os mercados financeiros, disse a presidente do Fed de Boston, Susan Collins, em entrevista ao Financial Times.
As bolsas de valores e os mercados de títulos de dívida pública e privada dos Estados Unidos têm enfrentando enormes perdas em meio à instabilidade geral provocada pelo tarifaço adotado pelo presidente Donald Trump.
Os presidentes do Fed de Nova York e de St. Louis também foram a público ontem alertando para riscos de inflação e desaceleração econômica.
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Esta semana, foi exposta uma crise de confiança em ativos os EUA com uma venda maciça de títulos do Tesouro americano, antes considerados os mais seguros do mundo.
Segundo Susan Collins, O Fed poderia implementar suas diversas ferramentas para ajudar a estabilizar os mercados financeiros, se necessário. Qualquer intervenção dependeria "das condições que estamos observando", acrescentou Collins, que integra o importantíssimo comitê de 12 membros que decide os rumos das taxas de juros nos EUA.
Na semana passada, a presidente do Fed de Boston já tinha alertado que "quanto mais altas forem as tarifas, maior será o potencial de desaceleração no crescimento, bem como a elevação da inflação além do que se esperaria".
Ela espera que a inflação suba "bem acima" de 3% este ano, mas não espera nenhuma retração econômica "significativa".
Seus comentários indicam que ela espera que a inflação permanecerá acima da meta de longo prazo do banco central dos EUA, de 2%, provavelmente impedindo que o Fed consiga cortar as taxas de juros nos próximos meses.
Desde que as tarifas de Trump entraram em vigor no início deste mês, as autoridades do Fed têm sido mais francas do que o normal sobre os efeitos dos planos do governo sobre a inflação e o crescimento.
Muitos também expressaram preocupações sobre as expectativas de inflação de longo prazo, que podem causar um ciclo vicioso de aumentos de preços se não forem controladas.
Uma importante pesquisa feita pela Universidade de Michigan observou uma queda acentuada na confiança do consumidor e sinalizou outro aumento preocupante nas expectativas de inflação.
Em um discurso em Hot Springs, Arkansas, o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, disse ontem que é necessário ter "vigilância contínua" e "monitoramento cuidadoso" dos dados.
Musalem, que também é membro votante do comitê de definição de taxas do Fed , disse que, embora ainda espere um ritmo "moderado" de expansão econômica, os riscos de curto prazo estão em direção ao aumento da inflação, ao crescimento econômico mais lento e a um mercado de trabalho mais frio.
"Eu teria receio de presumir que o impacto de tarifas altas na inflação seria apenas breve ou limitado", disse ele.
Em um dia movimentado de discursos de autoridades do banco central, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, foi mais longe do que seus colegas que integram o comitê de definição de taxas do banco, divulgando estimativas de como ele espera que as políticas de imigração e as tarifas de Trump — e a incerteza em torno delas — afetarão a economia dos EUA neste ano.
"Agora espero que o crescimento real do PIB diminua consideravelmente em relação ao ritmo do ano passado, provavelmente para pouco menos de 1%. Com essa redução no ritmo de crescimento, espero que a taxa de desemprego suba do nível atual de 4,2% para entre 4,5% e 5% no próximo ano", disse ele em uma conferência em Porto Rico.
Williams acrescentou que espera que o aumento das tarifas "impulsione a inflação neste ano para algo entre 3,5% e 4% — bem acima da meta de longo prazo de 2%.

