Formação técnica na escola eleva chance de emprego
Estudante qualificado ganha até 12% a mais de quem termina ensino médio sem curso técnico. Jovens que já vivenciam modalidade relatam experiências
A formação profissionalizante antes mesmo de o estudante terminar o ensino básico é um investimento que, onde tem sido levado a sério, só tem proporcionado resultados animadores. Enquanto, no Brasil, apenas 8,4% dos jovens em idade de fazer o ensino médio fazem cursos técnicos, em países como França, China e Alemanha, esse índice ultrapassa 40%, chegando até a 56%, como na Itália. Dados da Fundação Itaú Social mostram que quem sai da escola já com algum nível de qualificação profissional ganha salário até 12% maior que um estudante do ensino regular. Por razões como essa, e de olho em facilitar o ingresso dos estudantes ao mercado de trabalho, a reforma do ensino médio, proposta pelo Ministério da Educação (MEC) em 2016 e já em implantação, ampliará o acesso dos jovens à formação técnica.
Na Escola Técnica Estadual (ETE) Professor Lucilo Ávila Pessoa, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife, a estudante Laís Fernanda, 16 anos, sabe bem aonde quer chegar. Além das disciplinas normais do 2º ano do ensino médio, ela acumula os conteúdos do curso técnico em administração ministrado pela unidade, que é ligada à rede estadual de ensino de Pernambuco. A rotina é puxada: são 19 disciplinas às quais se dedicar, num horário integral de estudo, das 7h30 às 17h, de segunda a sexta-feira. Ainda assim, vale a pena, nas palavras dela. “Realmente, passamos o dia inteiro longe de casa, passamos mais tempo na escola do que com a família, mas vejo isso como um degrau que vai me ajudar a alcançar mais coisas no futuro, porque o mercado de trabalho vai exigir isso. Na minha área, administração, a gente monta empresas em aula, simula uma série de situações que vamos enfrentar lá fora. Têm sido experiências enriquecedoras”, avalia.
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O também estudante Adriano Lopes, 16, acumula o ensino médio com o técnico em redes de computadores. Ele diz que sempre gostou de tecnologia e enxerga os conhecimentos que tem desenvolvido como um pontapé para a graduação em medicina, que pretende tentar quando chegar a hora do vestibular. “Minha intenção é associar a tecnologia em redes de computadores e programação ao curso superior, para tornar viável, por exemplo, a questão de incluir pacientes que perderam alguns movimentos. São projetos que a gente vai aprendendo aqui na escola. O ensino técnico está me ajudando nisso: estimulando ideias e me tornando mais viável para o mercado no que eu for fazer depois”, opina.
O índice de empresas que reclama sobre a falta de pessoal qualificado no Brasil é alto, chegando a 91%. Outros 80% consideram a oferta de mão de obra qualificada de média a baixa, e metade dos empregadores afirma que precisa treinar de 40 a 80% dos novos contratados, de acordo com um estudo da Fundação Dom Cabral. Outra pesquisa, feita pelo Banco Mundial, indica que quem conclui o ensino técnico tem de três a cinco pontos percentuais a mais de nível de empregabilidade que um aluno do ensino médio regular.
A professora Daniela Glaete ministra a disciplina de Empreendedorismo na ETE Professor Lucilo Ávila Pessoa. Ela explica que o contato dos estudantes com a qualificação desde cedo vai moldando os profissionais do futuro. “Eles chegam aqui com pouca maturidade, mas, com o tempo, vão se encontrando e se dando conta de que a formação técnica ainda aqui na escola é uma oportunidade de, após o término, estar trabalhando. Digo que a bagagem que eles ganham com a gente é não só um atrativo, mas um diferencial”, dimensiona.
A gestora da escola, Juliana Oliveira, lembra que Pernambuco foi pioneiro na ampliação do ensino técnico integrado ao médio - em 2010, eram seis ETEs, e atualmente, são 35 - e destaca os desafios do projeto de nacionalização dessa modalidade. “Estamos sendo um exemplo prático para outros estados. Quando o MEC traz uma proposta de mudança no ensino médio como essa, nos dá uma oportunidade de refletir sobre nossos resultados. Pernambuco é 1º lugar no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], mas a nota ainda não é boa. Precisamos crescer em aprendizagem, em atividades práticas, em estrutura nas escolas. São desafios que enfrentamos e que também terão que ser encarados nessa nova proposta que está sendo feita para o restante do País”, reflete.

