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França reforça mobilização policial após três noites de distúrbios

A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, disse que serão estudadas "todas as opções", entre elas o estado de emergência

Um manifestante move uma barreira de metal durante uma manifestação em Caen, noroeste da França, em 30 de junho de 2023, após o tiroteio de um motorista adolescente pela polícia francesa em um subúrbio de Paris em 27 de junhoUm manifestante move uma barreira de metal durante uma manifestação em Caen, noroeste da França, em 30 de junho de 2023, após o tiroteio de um motorista adolescente pela polícia francesa em um subúrbio de Paris em 27 de junho - Foto: Lou Benoist / AFP

A França anunciou, nesta sexta-feira (30), a mobilização de blindados e de mais policiais para conter os distúrbios violentos que se espalharam nas últimas três noites para várias cidades em resposta à morte de um jovem baleado por um policial.

Depois de mais uma noite com prédios públicos atacados, lojas saqueadas e veículos incendiados, o presidente Emmanuel Macron reforçou as medidas de segurança e apelou diretamente aos pais dos menores que participam dos protestos.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou a mobilização de 45 mil agentes no país, 5 mil a mais que na véspera.

"Estas próximas horas serão cruciais", disse o ministro, dirigindo-se às forças de ordem e aos bombeiros. A França "enfrenta distúrbios de uma violência inusitada", acrescentou.

A violência explodiu na terça-feira (27) nos subúrbios de Paris e se espalhou pelo país após a morte de Nahel, de 17 anos, atingido por um tiro à queima-roupa disparado por um policial durante uma blitz em Nanterre, a oeste da capital francesa.

O balanço dos confrontos na última noite foi alto. O governo informou a detenção de 875 pessoas (408 em Paris e nos subúrbios) e 249 agentes feridos, assim como 492 edifícios atacados e 2 mil veículos incendiados.

A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, disse que serão estudadas "todas as opções", entre elas o estado de emergência que a direita e a extrema direita pedem, mas finalmente o governo recorreu a medidas de outro tipo para evitar novos distúrbios.

Por um lado, reforçou o número de agentes e autorizou o envio de blindados da gendarmeria, corporação militar que tem competência de segurança pública, sobretudo em áreas rurais.

Macron apelou à "responsabilidade" dos pais dos menores que participam dos distúrbios, para evitar que vão às ruas, e das redes sociais, para que retirem conteúdo vinculado aos protestos e identifiquem seus usuários.

Darmanin pediu, ainda, a suspensão de grandes eventos como shows, o serviço de bondes e ônibus a partir das 21h e a venda de foguetes, galões de combustíveis e produtos inflamáveis.

"Hordas selvagens"
O governo está sob pressão, entre a direita e a extrema direita, que pedem uma linha dura - e inclusive uma "repressão feroz" nas palavras do político extremista Éric Zemmour - e os que querem medidas de apaziguamento.

Dois sindicatos da polícia, entre eles o majoritário Alliance, pediram, em um duro comunicado, o "combate" às "hordas selvagens" que protagonizam os distúrbios e alertaram o governo que "vão entrar em resistência" assim que a crise for superada.

A oposição de esquerda condenou o comunicado, que qualificou de "ameaça de sedição" e de "chamado à guerra civil".

Sem se referir ao comunicado, o ministro do Interior pediu aos agentes para "respeitar as leis e a deontologia" e destacou que a "minoria de delinquentes [dos distúrbios] não representa a imensa maioria dos moradores dos bairros pobres".

O líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon conclamou o "poder político" a "retomar o controle da polícia" e pediu aos jovens que não ataquem escolas, bibliotecas e academias de ginástica.

Novos confrontos entre a polícia e manifestantes foram registrados à noite em Lyon (leste), em um protesto proibido pelas autoridades. Mais ao sul, em Grenoble, foram registrados saques.

Os fatos relançaram o debate recorrente da violência policial na França, onde em 2022 treze pessoas morreram em circunstâncias similares às de Nahel, e sobre as forças de ordem, consideradas racistas por parte da população.

A ONU pediu às autoridades francesas que se ocupem seriamente dos "profundos" problemas de "racismo e discriminação racial" em suas forças de segurança, acusações que o Ministério das Relações Exteriores qualificou de "totalmente infundadas".

Sábado de enterro
Vários países europeus, como Reino Unido, Alemanha e Noruega, alertaram seus cidadãos na França, pedindo que evitem as áreas de distúrbios e que aumentem as precauções.

O presidente do principal sindicato patronal do setor hoteleiro, Thierry Max, alertou para a onda de cancelamentos nas áreas afetadas pela violência.

No sábado será celebrado o enterro de Nahel, anunciou o prefeito de Nanterre, Patrick Jarry.

Mounia, a mãe da vítima, disse à rede France 5 que não culpava a Polícia, mas sim o agente que tirou a vida de seu filho.

A justiça decretou prisão preventiva por homicídio doloso para o policial de 38 anos autor do disparo, cujas "primeiras" e "últimas" palavras durante sua custódia policial foram "para pedir perdão à família" de Nahel, segundo seu advogado.

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