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Fundação Altino Ventura firma parceria com os EUA para estudar microcefalia por zika

O Projeto Semear atenderá 200 crianças e será financiado por cinco anos por instituições americanas

Projeto Semear foi apresentado na Fundação Altino VenturaProjeto Semear foi apresentado na Fundação Altino Ventura - Foto: Brenda Alcântara

Duzentas crianças com microcefalia proveniente da Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV) participarão de um projeto pioneiro no mundo. Uma parceria entre a Fundação Altino Ventura (FAV) e o governo americano, por meio do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos investigará, por cinco anos, o desenvolvimento de crianças com a síndrome, a fim de elaborar planos de terapia para melhor tratamento.

O projeto, nomeado "Semear", será financiado pelas instituições americanas. Ele foi apresentado nesta quinta-feira (30) no Centro Especializado em Reabilitação Menina dos Olhos (CER IV) da FAV, na Iputinga, Zona Oeste do Recife. O trabalho terá a coordenação geral da oftalmologista Camila Ventura. "O estudo não envolve oftalmologia. Ele vai focar nas funções motoras e intelectuais e as interações dessas crianças com a família e o mundo", explica a coordenadora. "Nesses cinco anos, o objetivo é avaliar a parte funcional da criança, pois já se sabe muito sobre a parte clínica, mas existe uma lacuna grande sobre como essas crianças têm se adaptado no meio familiar", explica.

O estudo será executado junto ao instituto de pesquisa sem fins lucrativos RTI International, que também desenvolve trabalhos nessa área em Porto Rico, Guatemala, Colômbia e no Brasil. "Vão ser introduzidos novos protocolos de investigação mais detalhados em áreas específicas, como o sono, o comportamento das crianças e uma série de coisas que vai nos mostrar mais detalhes sobre a síndrome que o mundo inteiro ainda desconhece", esclarece Liana Ventura, presidente da FAV. Leia também:
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Entre as 325 crianças cadastradas e recebendo atendimento na Fundação, apenas aquelas que nasceram com microcefalia devido ao surto de zika em 2015 e suas famílias estarão aptas para participar do programa. Serão selecionadas aquelas que têm atestado positivo para zika e não tenham outras infecções associadas (sífilis, toxoplasmose, rubéola, CMV e HIV) ou os que têm a sintomática neurológica compatível com SCZV.

Os resultados da pesquisa serão avaliados trimestralmente e aplicados em estratégias a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Enquanto isso, os bebês que não atendem aos critérios e já são atendidas pela FAV continuarão recebendo normalmente os serviços.

A equipe que participará do acompanhamento das famílias passará por treinamentos específicos e workshops durante o mês de dezembro. Os estudos começarão a partir de janeiro do próximo ano. As famílias receberão também incentivos financeiros, cestas básicas, leite e kits de higiene, a fim de manter a assiduidade às consultas.

Inabela Tavares tem 32 anos, é dona de casa e mãe de três meninas. A mais nova, Graziela, acabou de fazer dois anos apresenta microcefalia por SCZV. "Mesmo tendo passado dois anos do surto, a gente ainda se sente perdida", conta. Para Inabela, a ideia de observar as interações com o mundo e a família será de extrema importância. "Temos terapeutas que cuidam dos nossos filhos e nos ensinam, mas agora com esse estudo vai ser melhor, porque vai durar cinco anos e isso vai crescer com a gente", conta. Ela também confessa que muitas mães se desesperam com os diagnósticos negativos dos filhos, mas "agora vai ter o projeto para incentivar. Às vezes me sinto para baixo e preciso que alguém me diga para continuar", torce Inabela.

 

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