[Galeria] Menino, vem pra rua, aí vem o papangu
Foliões de Bezerros conseguem manter a tradição dos famosos personagens
A tradição de manter segredo sobre a identidade dos papangus, no município de Bezerros (Agreste pernambucano), ainda é resistente entre os moradores, principalmente os de mais idade. Na praça Centenária, onde ocorre neste domingo (11), às 9h30, o desfile do tradicional Concurso dos Papangus, senhores com rádios de pilha nas mãos olham desconfiados e desconversam rapidamente ao serem questionados sobre quem são os mascarados que saem pelas ruas nos dias de Momo. "É muito difícil encontrarmos esses personagens. Esse mistério ainda é muito forte na cidade e é o que atrai as mais de cinco mil pessoas que vêm participar de nosso concurso", explica o diretor de Cultura da Secretaria de Turismo, Roberval Lima.
Artesãos endossam o mistério, já que as máscaras que fabricam são encomendadas sob sigilo absoluto. “Faço de 500 a 600 máscaras para as brincadeiras de rua, mas a maioria de meus clientes pede para não revelar a identidade deles”, comenta Genildo Soares de Souza, Genildo Artesão, que desde os 12 anos confecciona as máscaras coloridas que ganham vida neste período.
Em meio a essa busca sobre quem são os mascarados, a reportagem encontrou a professora Solange Maria dos Santos, 58 anos, que desfila de papangu desde os 10 anos. A única coisa que não revela, nem para a família, é o tema de sua fantasia, guardada a sete chaves. "Essa brincadeira vem de geração. Meu pai, Braulino Francisco, tinha a tradição de sair todos os anos. Ele foi o primeiro "morto carregando vivo", em 1962. Lembro que ele nos levava aos bailes municipais, que eram realizados no clube, e minha irmã mais velha também se fantasiava de papangu. A brincadeira começava no domingo e ia até a terça-feira", relembra, saudosa, com várias fotos da época.
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Tradição
Apesar de o desfile dos papangus atrair pessoas de todo o Brasil, as altas temperaturas nesta época do ano têm causado uma diminuição no número de pessoas que se caracterizam tal e qual manda o figurino. As máscaras começam a ser substituídas por telas, mas as caftas-batas ainda são mantidas. “Teve um Carnaval, há uns três anos, que os bombeiros tiveram que ser mobilizados, pois as pessoas estavam passando mal”, conta o artesão Iraildo Batista.
A arte-educadora Mileide Santos, coordenadora do grupo de dança Folcpopular, explica que há duas versões da criação do papangu. “A mais conhecida é de que na zona rural de Bezerros homens mascarados saíam usando roupas das esposas pelas ruas e visitando familiares e amigos sem se identificar”. A outra fala dos escravos que fugiam para a cidade mascarados para não serem reconhecidos.

