Hiperatividade: quando pode ser TDAH?
Transtorno do neurodesenvolvimento é geralmente hereditário, costuma ser diagnosticado na infância e, erroneamente, é considerado exclusivo dessa fase da vida
Hiperatividade é um termo que, às vezes, é usado de forma imprecisa e está associado a comportamentos positivos e negativos. O termo hiperatividade se refere apenas a ter mais atividade motora do que o normal, movimentar-se ou falar demais. Entretanto, quando essa situação se torna excessiva e interfere na rotina diária da pessoa, bem como na sua qualidade de vida, torna-se um tema de interesse médico e psicológico.
Segundo Eduardo San Esteban, neurologista clínico do Centro Neurológico do ABC Medical Center, uma das manifestações clínicas dessa condição é o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, também conhecido como TDAH. Embora não seja a única causa, é a mais conhecida e frequente. A hiperatividade que afeta a vida de uma pessoa também pode ser causada por lesões ou doenças cerebrais.
O que significa ter TDAH?
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, geralmente hereditário, que costuma ser diagnosticado na infância e, erroneamente, é considerado exclusivo dessa fase da vida, mas a realidade é que é uma condição persistente ao longo da vida, tanto na adolescência quanto na idade adulta.TDAH
Leia também
• Paracetamol: uso do remédio durante a gestação pode aumentar risco de TDAH na criança?
• TDAH: diagnóstico é associado a uma redução de até 11 anos na expectativa de vida em novo estudo
• TDAH: estudo liga transtorno a maior chance de desenvolver obesidade infantil; entenda
A hiperatividade é um dos componentes do TDAH, embora em alguns casos uma pessoa com hiperatividade possa apresentá-la de forma positiva, como aquelas pessoas que mantêm uma agenda corrida e conseguem cumprir todos os seus compromissos. O problema surge quando a hiperatividade leva a uma interrupção constante das atividades, impedindo a conclusão de tarefas e afetando a qualidade de vida da pessoa, explica Esteban.
Algo que é importante esclarecer é que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade pode não ter esse último componente, ou seja, nem toda pessoa com TDAH tem hiperatividade. No contexto do TDAH, a hiperatividade se apresenta na forma de movimento contínuo. Aqui, os indivíduos podem iniciar múltiplas atividades simultaneamente ou sequencialmente, sem concluí-las, resultando em uma sensação de dispersão ou incompletude.
Por exemplo, uma criança que pula de atividade em atividade sem nunca se concentrar em nenhuma delas, ou um adulto que muda constantemente de projeto no meio do caminho. Essas manifestações não afetam apenas o desempenho profissional ou acadêmico, mas também afetam os relacionamentos interpessoais e o bem-estar emocional.
O termo “transtorno” não se refere a uma doença no sentido tradicional, mas a um conjunto de características que refletem uma maneira particular de funcionamento. Uma condição que frequentemente acompanha a hiperatividade é a impulsividade, que envolve uma dificuldade em parar e avaliar as consequências das próprias ações.
Hiperatividade e impulsividade juntas criam um quadro que pode ser muito prejudicial à organização da vida diária. Essa disfunção no controle dos impulsos, assim como na atenção, é resultado de alterações na regulação dos neurotransmissores no cérebro.
Diagnóstico precoce é essencial para a saúde
É essencial diferenciar entre o comportamento inquieto típico da infância e um transtorno que afeta o desenvolvimento pessoal e social de uma pessoa, e isso requer chegar a um diagnóstico de TDAH. Esteban ressalta que o diagnóstico é baseado na avaliação clínica, que consiste em entrevistas detalhadas com o paciente e seus familiares, bem como na aplicação de alguns testes neuropsicológicos.
O histórico clínico do paciente, seu histórico familiar, educacional e profissional, bem como seu contexto social, são avaliados de forma abrangente, bem como a observação direta do comportamento do paciente pelo especialista. Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento visa amenizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. A terapia do TDAH é abrangente e, dependendo da gravidade dos sintomas, pode incluir intervenções farmacológicas, terapêuticas e educacionais.
A intervenção terapêutica abrange diversas técnicas comportamentais e psicológicas. Existe terapia cognitivo-comportamental que é útil para ensinar os pacientes a organizarem suas atividades e controlarem a impulsividade. Também é trabalhado o fortalecimento das habilidades sociais, o que permite ao indivíduo desenvolver estratégias para melhorar sua integração nos ambientes de trabalho, acadêmico e familiar.
Embora o tratamento medicamentoso possa ser a base para casos moderados a graves, esses medicamentos se concentram na regulação da atividade dos neurotransmissores, que estão envolvidos na atenção e no controle dos impulsos. O papel da família e do ambiente educacional também é fundamental, pois em muitos casos a intervenção não se limita ao paciente, mas envolve também o acompanhamento dos pais e professores, no caso das crianças.
Gerenciando a hiperatividade ao longo da vida
Quando a hiperatividade atinge níveis que afetam sua qualidade de vida, é necessário aprender a lidar com essa situação. Muitas crianças que foram diagnosticadas em idade precoce apresentam melhoras ao longo do tempo, especialmente quando recebem tratamento abrangente e oportuno. No entanto, os sintomas também podem persistir na idade adulta e afetar o desempenho no trabalho, a estabilidade emocional e os relacionamentos interpessoais.
Embora o transtorno possa ser superado em muitos casos, é essencial ficar atento aos primeiros sinais para evitar complicações maiores no futuro. Esse transtorno acompanhará a pessoa por toda a vida, mas o nível de intensidade dessa condição variará em gravidade dependendo de diversas situações, como o que a pessoa está vivenciando em determinado momento da vida, a presença ou ausência de medicamentos, entre outros.
A persistência do TDAH na idade adulta pode levar a problemas organizacionais, dificuldade em manter relacionamentos estáveis ou problemas no local de trabalho. Um adulto com TDAH pode frequentemente enfrentar desafios como procrastinação, falta de planejamento e a tendência de mudar de atividade sem terminar o que começou. O que pode resultar em frustração e, em alguns casos, contribuir para o desenvolvimento de transtornos secundários, como ansiedade, depressão ou até mesmo uso de drogas.
Mas muitos pacientes, com intervenção adequada, desenvolvem estratégias compensatórias que lhes permitem controlar seus sintomas e atingir seus objetivos pessoais e profissionais. Porque os tratamentos não se concentram apenas em mitigar a hiperatividade e a impulsividade, mas também em aumentar os pontos fortes do indivíduo.
Ao aprender habilidades organizacionais e de autocontrole, pessoas com TDAH podem canalizar sua energia de forma produtiva e explorar sua criatividade e capacidade de resposta rápida, o que pode ser inestimável. O tratamento do TDAH não é um caminho linear, e várias estratégias podem exigir ajustes ao longo do tempo, conforme as exigências da vida mudam e os sintomas também podem variar com a idade.
Estaban ressalta que não podemos esquecer que esse tipo de transtorno é uma condição que ocorre com muita frequência e não é uma condição específica da infância, mas está presente durante toda a vida. E também é uma condição que pode ser superada, por um conjunto de tratamentos, que podem controlar significativamente e que são necessários apenas em momentos específicos e não são realizados continuamente.

