Homem é preso na França acusado de ameaça de morte contra juíza que condenou Marine Le Pen
Le Pen foi condenada pela justiça francesa no fim de março por desvio de verbas públicas europeias
A polícia francesa prendeu nesta terça-feira um homem de 76 anos acusado de ameaçar a juíza Bénédicte de Perthuis, responsável por condenar a líder de extrema direita Marine Le Pen à inelegibilidade por cinco anos.
O jornal Le Parisien afirmou, citando fontes policiais, de que o homem foi preso em La Garenne-Colombes, a norte de país, e levado sob custódia, após a abertura de uma investigação pelo Ministério Público de Bobigny. Em sua conta na rede social X, ele publicou uma fotografia de uma guilhotina acompanhada da mensagem: "O que essa vagabunda merece".
A procuradora-geral do Tribunal de Apelações de Paris informou ao jornal francês que cinco suspeitos que fizeram ameaças de morte contra a juíza foram identificados, enquanto outros quatro estavam na mira das autoridades.
Le Pen foi condenada pela justiça francesa no fim de março por desvio de verbas públicas europeias em benefício do Reagrupamento Nacional (RN), partido que ajudou a transformar em uma das principais forças políticas do país.
Sentenciada a quatro anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 100 mil euros (cerca de R$ 642,4 mil no câmbio atual), ela também ficará inelegível pelo prazo de cinco anos — o que, na prática, frustra seus planos de concorrer à Presidência em 2027.
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Diante da condenação, a líder extremista, então líder nas pesquisas para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2027, resgatou o duro discurso antissistema que a acompanhou durante sua carreira política. Autoridades de seu partido multiplicaram ataques contra a decisão judicial, usando termos como "caça às bruxas", "tirania dos juízes", entre outros.
A ultradireitista não é a primeira política a questionar a imparcialidade dos juízes na França. O ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy (2007-2012), que tem vários processos judiciais abertos, costuma criticar as investigações contra ele.
— O radicalismo [da reação do RN] com tons quase conspiratórios é surpreendente e novo — disse Mathieu Gallard, diretor de estudos no instituto de pesquisas Ipsos.
'Trumpização'?
Para o professor de ciência política na Universidade de Montpellier, Jean-Yves Dormagen, Le Pen não tinha "outra opção" além de adotar essa linha de "vitimização" para manter sua base eleitoral. Ele diz que a "postura antielite" é um dos "fundamentos" do partido, e que, na prática, tanto ela quanto os seguidores do partido acreditam que a "caça às bruxas" é real.
Contudo, o especialista descarta uma "trumpização" do discurso da RN, ao considerar que seria contraproducente se alinhar à estratégia de ataques do presidente americano.
O apoio do magnata, que pediu para Marine Le Pen "libertar" a França, também a prejudica em seus esforços para ampliar sua base eleitoral, alerta Gallard.
— Donald Trump tem uma imagem catastrófica na opinião pública [francesa] e divide até mesmo o RN — disse Gallard.

