Hugo Motta vai colocar em votação na próxima semana texto mais avançado sobre "adultização"
Texto prevê maior rigor com a verificação de idade e que adolescentes de até 16 anos precisam ter suas contas vinculadas a de responsáveis
O relator na Câmara do projeto mais avançado para combater a "adultização" de crianças e adolescentes nas redes, Jadyel Alencar (Republicanos - PI), afirmou que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos - PB), se comprometeu a votar essa matéria já na semana que vem. O texto já foi aprovado no Senado e tem sido debatido desde o ano passado em mais de 50 reuniões técnicas.
Nesta quarta-feira, Motta se comprometeu a tirar esse projeto da comissão que anunciou na véspera para que ele possa ser votado. De acordo com Jadyel, ele levará a reunião de líderes de amanhã que na terça-feira da semana que vem colocará em votação a urgência do texto e que o mérito será analisado no dia seguinte.
— Deixamos muito claro ao presidente que não tem censura nesse projeto em momento algum. Estamos dando o maior cuidado possível às crianças e adolescentes com prevenção, precaução e segurança das informações — afirmou o relator do texto, Jadyel Alencar, que chama o projeto de "ECA Digital". — Essa é uma entrega muito importante que o Congresso está dando para o Brasil.
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O projeto prevê, por exemplo, contas de jovens de até 16 anos precisam estar vinculadas a dos pais e que mecanismos de verificação de idade devem ser aplicados diretamente na loja de aplicativos e no sistema operacional, entre outras medidas. O texto é apoiado pelo governo federal.
Na véspera, Motta anunciou que criaria uma comissão para tratar de uma enxurrada de projetos sobre adultização que chegou após o influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, de 27 anos, mais conhecido como Felca, publicar um vídeo sobre o tema. No material, ele apresenta exemplos de crianças e adolescentes explorados inclusive sexualmente por pais.
O anúncio, no entanto, foi tratado como um banho de água fria por defensores do projeto que foi construído por Alessandro Vieira (MDB - SE) no Senado e está sob relatoria de Jadyel na Câmara. Ele é apoiado por uma série de organizações da sociedade civil, como o Instituto Alana, e por figuras com atuação na proteção da infância no Brasil, como a juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro.
Nesta quarta-feira, um grupo formado por parlamentares, que incluiu o senador Alessandro Vieira e o deputado federal Jadyel Alencar, representantes do Instituto Alana e a juíza Cavalieri se reuniram com Motta para defenderem que ele destaque o projeto da comissão e que bote em votação embalado pela mobilização causada por Felca. Foi nesse encontro que o presidente da Câmara se comprometeu a agilizar a apreciação do texto.
Conheça o texto
O relatório de Jadyel, divulgado nesta terça-feira, apresenta restrições maiores do que as que foram aprovadas no Senado. Entre as mudanças, estão previstos maior rigor com a verificação de idade e que adolescentes de até 16 anos precisam ter suas contas vinculadas a de responsáveis.
As novidades do texto:
- Contas até 16 anos precisam estar vinculadas a dos pais. Na versão anterior, a idade prevista era de 12 anos.
- Mecanismos de verificação de idade devem ser aplicados diretamente na loja de aplicativos e no sistema operacional para que esse processo possa ser efetivado por todos os aplicativos baixados. Ainda define que o governo federal poderá atuar como promotor de soluções técnicas para verificação da idade.
- Entre os conteúdos que fornecedores de produtos ou serviços de tecnologia deverão tomar medidas para que crianças não sejam expostas, foram incluídos material pornográfico e promoção do autodiagnóstico à saúde física ou mental. O texto original já previa outros itens, que foram mantidos, como exploração sexual e incentivo a vicio e transtornos mentais.
- Os fornecedores de produtos ou serviços de tecnologia também deverão adotar padrões de desenho que evitem o uso compulsivo por crianças e adolescentes.
- O texto original do Senado define que as redes precisam retirar conteúdos que violam direitos de crianças e adolescentes "assim que forem comunicados do caráter ofensivo da publicação, independentemente de ordem judicial". O relatório da Câmara prevê regras para que quem tenha publicado o conteúdo possa contestar a decisão.
O texto do Senado ainda proibia a venda de caixas de recompensas (loot boxes) a crianças e adolescentes. Essa é uma funcionalidade de alguns jogos on-line na qual o usuário compra esse recurso para receber um item consumível ou vantagem aleatório, sem que o jogador tenha conhecimento prévio do seu conteúdo.
No novo relatório, Jadyel não proíbe, mas cria regras para as caixas aleatórias. O jogador não poderá receber uma caixa vazia, as probabilidades de obtenção dos itens devem ser informadas de forma clara e é vedada a prática de conceder vantagens competitivas significativas ou desproporcionais mediante pagamento, em prejuízo da isonomia entre jogadores pagantes e não pagantes.
No último domingo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou o tema é urgente e que há uma série de projetos importantes sobre o assunto na Câmara. "Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão", afirmou.

