Idosos relatam dificuldade em marcação on-line do Procape
Sem noção de navegação na internet e sem acesso à web, idosos têm tido problemas para agendar consultas e exames no Procape. Alguns recorrem a emergência para conseguir atendimento, outros idosos pedem ajuda aos amigos para não ficar sem assistência.
A tecnologia tem virado uma pedra no sapato de pacientes, principalmente dos idosos e daqueles que moram em área sem acesso a internet, assistidos no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape). O problema está no sistema de marcação de consultas eletivas e exames. A unidade adotou que o agendamento desses procedimentos seja feito exclusivamente pela internet.
Sem habilidade com dispositivos de acesso como computadores ou smartphone e sem destreza em navegar pelo site da instituição, muitos pacientes ficam sem conseguir fazer as marcações ou confundindo os prazos dos atendimentos. Alguns acabam indo em busca de ajuda presencial no hospital, mas voltam frustrados. Outros, no desespero, narraram que acabam buscando socorro na emergência da unidade, mesmo para casos de baixa complexidade. O resultado dessa atitude extrema reflete-se na superlotação contínua na emergência, que desde o último final de semana vem tendo episódios de plantão fechado.
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“É uma dificuldade essa marcação pela internet. Tem que ficar o dia todo tentando e quando a gente consegue já diz que não tem mais vaga disponível. Já trouxe duas vezes minha esposa direto para a emergência porque não conseguimos uma consulta normal”, contou o idoso Eudes de Santana, 60. Joel Datz, 72 anos, também falou de dificuldades. No caso dele, o problema é a não familiaridade com a web e também o fato de nem ter computador. “Eu nem sei mexer, nem tenho computador. Quando preciso fazer uma marcação sempre peço para algum amigo me ajudar com isso. Para quem tem esses mesmo problemas é complicado”, disse o idoso, que apontou por outro lado a comodidade de não ficar indo e vindo ao Procape para tentar marcar os procedimentos presencialmente.
Para Joelma de Almeida, 35, e sua mãe Jerusa de Almeida, 57, a questão principal é a inexistência de sinal de internet na zona rural de Custódia, no Sertão, onde ambas residem. “Não dá área. Mesmo quando a gente consegue internet é complicado demais marcar. Na maioria das vezes a gente pede para alguém da Secretaria de Saúde de lá ficar tentando”, contou Joelma. Jerusa apontou que uma saída seria o agendamento ser via telefone. “É mais fácil e todo mundo tem”, justificou. Os desafios de conexão reforçam os dados de pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil que identificaram que 51% dos domicílios do Nordeste ainda não tem acesso à web e só 33% dos lares tem computador.
O gestor Executivo do Procape, unidade vinculada ao complexo hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE), Ricardo Lima, explicou que o sistema on-line para marcação existe a cerca de três anos e foi pensado para melhorar o fluxo de agendamento no local. “O modelo anterior era um altamente cruel, porque o indivíduo tinha que vir presencialmente, entrar em uma fila para fazer uma marcação. Evitamos que ele viesse duas vezes para o hospital. E evitamos também que eles madrugassem para pegar um melhor lugar (nas filas)”, enfatizou.
Ele explicou que a rotina anterior fazia com que o paciente precisasse se deslocar até o Procape, muitos vindo de cidades distantes, para tentar marcar o procedimento. Não havia garantia da vaga porquê o número de fichas distribuídas ficavam aquém da demanda, provocando uma disputa sofrida dos pacientes. Ricardo Lima informou ainda que a criação de uma central de marcação por telefone é inviável porquê não há recurso. Apontou ainda que as centrais de regulação de saúde municipais podem intervir na questão intermediando nos agendamentos d dos munícipes, já que esta é uma das suas atribuições próprias.

