Sáb, 20 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
MUNDO

Itália investiga "franco-atiradores de fim de semana" durante sítio de Sarajevo

A investigação busca "identificar os italianos que, entre 1993 e 1995, pagaram para 'brincar de guerra' e matar civis indefesos 'por prazer'"

Um casal corre para se proteger de atiradores atrás de um ônibus com a inscrição "Brigada de Sarajevo", em 28 de março de 1993, em Sarajevo, durante a guerra da Bósnia.Um casal corre para se proteger de atiradores atrás de um ônibus com a inscrição "Brigada de Sarajevo", em 28 de março de 1993, em Sarajevo, durante a guerra da Bósnia. - Foto: Vincent Aamalvy / AFP

A Promotoria de Milão abriu uma investigação sobre os "franco-atiradores de fim de semana" que, durante o cerco de Sarajevo no início dos anos 1990, teriam pago ao Exército sérvio para atirar em civis, informaram a imprensa italiana e o ex-prefeito de Sarajevo.

Segundo o jornal La Repubblica, a investigação aberta pelo promotor de Milão, Alessandro Gobbis, por "homicídio doloso agravado", busca "identificar os italianos que, entre 1993 e 1995, pagaram para 'brincar de guerra' e matar civis indefesos 'por prazer'".

Esses "turistas de guerra" eram, em sua maioria, simpatizantes da extrema direita, amantes de armas e pessoas ricas. Eles se reuniam em Trieste, no norte da Itália, e de lá eram levados para as colinas que cercam Sarajevo, segundo o jornal.

Para participar desses "safáris" macabros, pagavam até o equivalente a 100 mil euros (R$ 615 mil) por dia, de acordo com o Il Giornale.

A investigação foi aberta após uma denúncia apresentada pelo jornalista e escritor italiano Ezio Gavanezzi.

Em 2022, a ex-prefeita de Sarajevo Benjamina Karic já havia apresentado uma denúncia na Bósnia depois da divulgação do documentário Sarajevo Safari, do diretor esloveno Miran Zupanic.

A AFP entrou em contato com a Promotoria de Milão, mas esta se recusou a comentar o caso.

Ezio Gavanezzi, em entrevista ao La Repubblica, afirmou que "pelo menos uma centena" desses "franco-atiradores de fim de semana" eram italianos, enquanto o Il Giornale apontou que teriam sido pelo menos 200, além de outros provenientes de outros países.

Benjamina Karic comemorou na terça-feira, em uma publicação no Facebook, o fato de a Itália ter aberto uma investigação e divulgou a denúncia que havia apresentado em 2022.

"O conteúdo do documentário [Sarajevo Safari] e os depoimentos das testemunhas indicam que existe uma suspeita fundamentada de que entre os membros do Exército da República Srpska [entidade sérvia da Bósnia] havia indivíduos que organizavam 'excursões' para estrangeiros ricos", diz a denúncia.

Após o pagamento, esses últimos podiam "atirar com rifles de precisão a partir de posições do Exército da República Srpska situadas acima da cidade de Sarajevo, matando e ferindo civis inocentes da cidade sitiada, incluindo crianças", acrescenta o documento.

Durante o cerco de Sarajevo (1992-1996), o mais longo da história da guerra moderna, as forças sérvio-bósnias mataram 11.541 habitantes e feriram mais de 50 mil, segundo dados oficiais.

Veja também

Newsletter